Presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou, no fim de março, complexo com 15 parques eólicos e 136 aerogeradores na Paraíba
O governo federal pretende investir R$ 50 bilhões na produção de energia renovável neste ano, principalmente de fontes eólica e solar. Quando o plano de investimento estiver concluído, o Brasil deve ter um aumento de 1 ponto percentual na geração de energia renovável em relação ao total da energia gerada no país e passar dos atuais 85% para 86%.
Os recursos serão empregados na expansão no sistema de transmissão, que será realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Estão planejados cerca de 14 mil km de novas linhas de transmissão — aumento de 8% na extensão total de linhas do país — e 13 novas subestações.
A maioria desse investimento será no Nordeste, com o objetivo de aproveitar o potencial de geração de energia renovável presente na região (eólica e solar) e escoar o excedente dessa produção para os consumidores do Sudeste e do Centro-Oeste.
Devem ser realizados, neste ano, dois leilões. As empresas vencedoras terão o compromisso contratual de executarem as obras em um prazo que pode variar de 36 a 72 meses, a depender da complexidade do empreendimento, e a obrigação de manter a operação pelo período de 30 anos.
Atualmente, a capacidade do sistema elétrico brasileiro é de 211 gigawatts (GW). Esse total considera toda a capacidade acumulada disponível para a geração de eletricidade no Brasil. Na prática, trata-se de quanta energia o país conseguiria gerar.
De acordo com dados da Aneel, 23,4 mil unidades geradoras ofereciam, juntas, uma potência de 190,79 GW, sendo 103,2 GW (53,58% do total) de usinas hidrelétricas de grande porte, 46,15 GW (24,7%) de termelétricas e 24,92 GW (13,12%) de usinas eólicas.
Complexo na Paraíba
Em março, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi à Paraíba para participar do lançamento do Complexo Renovável Neoenergia. O início das obras ocorreu em 2019, e o parque está em plena operação desde o início de 2022. O evento inaugurou a entrada da operação associada das usinas solares com as eólicas do complexo, pioneira no país nesse tipo de união.
O complexo tem mais de 15 parques eólicos, 136 aerogeradores (gerador elétrico integrado ao eixo de um cata-vento), com capacidade de 621 megawatts de potência instalada, sendo 471 megawatts de fonte eólica e 150, solar. Essa energia gerada consegue iluminar, em média, mais de 1 milhão de domicílios. Considerando somente a carga residencial, estima-se que possa atender um estado como Sergipe.
Segundo o ministério, esses 621 megawatts (MW) de potência instalada podem representar uma geração elétrica estimada de 2.030 GWh no ano, cerca de 60% da geração elétrica da Paraíba em 2021 e valor superior às gerações dos estados do Acre e de Roraima e do Distrito Federal somadas para o mesmo ano.
O governo afirma que, além de desenvolver socialmente a região, o complexo será um agente de descarbonização do país, com previsão de redução de 125,5 mil toneladas de dióxido de carbono lançadas na atmosfera por ano. O país tem a meta de reduzir as emissões de carbono em 50% até 2030.
Petrobras
Na última quinta-feira (6), a diretoria-executiva da Petrobras aprovou a criação da Diretoria de Transição Energética e Energias Renováveis. A medida faz parte de uma proposta de ajuste organizacional que precisa ser aprovada pelo conselho de administração da empresa, ainda sem data.
A nova diretoria ficará responsável pelas atividades de descarbonização, mudanças climáticas, novas tecnologias e sustentabilidade e incorporará as iniciativas comerciais de gás natural. A área será comandada pelo engenheiro de produção Maurício Tolmasquim, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que participou da última transição entre os governos.
A mudança para a energia limpa, necessária para evitar que a temperatura suba rapidamente, pode reduzir em 2% o Produto Interno Bruto (PIB) global até 2050, mas pode ser recuperável antes do fim do século, informa relatório da consultoria de recursos naturais Wood Mackenzie divulgado no ano passado.
Embora os investimentos em tecnologias como parques solares, eólicos e baterias avançadas gerem empregos, a transição também deve causar perda de vagas e de receitas fiscais na produção de combustíveis fósseis, diz o relatório intitulado “Sem dor, sem ganho: as consequências econômicas da aceleração da transição energética”.
‘Sofrimento econômico’
Os benefícios de limitar o aumento da temperatura a 1,5 grau Celsius, conforme recomendado pela Organização das Nações Unidas (ONU), podem elevar o PIB global em 1,6% em 2050, segundo o relatório. Mas as ações necessárias para estimular a transição para evitar que as temperaturas ultrapassem esse nível podem cortar 3,6% do PIB em 2050, resultando em um impacto de 2%, de acordo com o documento.
Angra 3
Paralelamente à disposição do governo federal sobre a transição energética, há a retomada das obras da usina nuclear Angra 3, no Rio de Janeiro. A construção da usina teve início em 1984 e sofreu diversas interrupções por restrições econômicas. Em 2015, quando registrava 65% de progresso, foi paralisada pela última vez em decorrência de denúncias de desvio de recursos.
As obras foram retomadas em novembro de 2022. A Eletronuclear, responsável pela usina, assinou um contrato com o consórcio Agis — formado por Ferreira Guedes, Matricial e ADtranz —, que venceu a licitação para reiniciar a construção.
Em 2021, os investimentos totais para concluir a usina foram estimados em R$ 15 bilhões. Nenhum empreendimento em construção na época no Brasil, em nenhum setor da infraestrutura, tem um custo que supere o de Angra 3. A usina nuclear é, de longe, a construção mais cara do país.
Hoje, o Brasil tem apenas duas usinas nucleares em operação, Angra 1 e 2, que somam cerca de 1,9 gigawatt de potência. No dia em que Angra 3 entrar em operação, em 2026, vai acrescentar 1,4 GW de geração por fissão nuclear, para chegar a um total de 3,3 GW.
Com essa potência reunida, as três usinas responderão por apenas 1,5% da capacidade total de entrega de energia do país. Se considerado o fato de que, anualmente, cada vez mais usinas de outras fontes entram em operação, essa fatia tende a encolher.
Entre especialistas do setor elétrico, há ainda a menção ao alto custo da energia nuclear ante outras fontes mais baratas, como eólica e hidrelétrica.
Fonte: R7