Lewis Hamilton sairá da Mercedes ao fim de 2024 e assumirá uma vaga na Ferrari em 2025 — Foto: Reprodução/FOM

Hamilton na Ferrari: F1 vê a maior transferência desde Senna em 1994

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Mudança do heptacampeão da Mercedes para a tradicional equipe italiana surpreende a maior categoria do automobilismo mundial e coloca o dia 1º de fevereiro de 2024 na história do esporte

Há pouco mais de 30 anos, uma notícia causava um enorme impacto no mundo da Fórmula 1. No dia 11 de outubro de 1993, Ayrton Senna enfim era anunciado como piloto da Williams. Na época, era o casamento do melhor piloto daquele momento na maior categoria do automobilismo mundial com a melhor equipe, dona dos melhores carros das duas temporadas anteriores – o FW14 e o FW15 projetados pelo mago Adrian Newey – apelidados de “carros de outro planeta” pelo próprio tricampeão, que à época corria na McLaren. Só que a mudança do regulamento para 1994 e a proibição das ajudas eletrônicas acabaram tornando o FW16 um carro indirigível. E, infelizmente, o casamento terminou de forma trágica: Senna morreria após o acidente na curva Tamburello no GP de San Marino, no Autódromo Enzo e Dino Ferrari, em Imola, na Itália.

Para a análise, vamos ficar com o impacto do anúncio de Senna na Williams. Foi uma bomba na época. Em uma época sem internet, causou uma tremenda comoção juntar o melhor piloto com o melhor carro. Eis que, em 2024, finalmente temos uma transferência capaz de causar um impacto até maior no mundo da Fórmula 1 – e de colocar o dia 1º de fevereiro de 2024 na história da categoria. Nesta quinta-feira, a Ferrari anunciou a contratação do heptacampeão Lewis Hamilton para a temporada de 2025. Ou seja: testemunharemos o casamento do maior piloto da história com a maior equipe da história, ainda que ambos não estejam em seus melhores momentos na Fórmula 1. Em um comunicado extremamente sucinto, o time italiano anunciou um acordo “multianual”. Ou seja, Hamilton ficará em Maranello por pelo menos dois anos.

A notícia caiu como uma bomba no mundo da Fórmula 1. Os fãs não sabiam no que acreditavam ao longo do dia, à medida que as notícias surgiam e davam mais detalhes sobre o acordo. Foi algo tão surpreendente que pegou até mesmo a Mercedes de surpresa. A equipe alemã fez uma reunião de emergência às 14h locais (11h de Brasília) em sua sede em Brackley, na Inglaterra, para anunciar a saída de Hamilton. E por que digo que surpreendeu até a Mercedes? Porque o chefe Toto Wolff sequer estava presente à fábrica, estava viajando. E teve de entrar por videoconferência para fazer o comunicado. O comunicado da equipe, inclusive, deu detalhes incomuns para o mundo de segredos da Fórmula 1. Segundo a Mercedes, Hamilton “ativou a cláusula de liberação no contrato anunciado em agosto passado”. Ou seja: na realidade, o acordo anunciado pelo time em 2023 era de um ano com opção de mais um, não de dois anos. Algo que indica que os dirigentes não ficaram tão satisfeitos assim com a surpresa apresentada pelo heptacampeão mundial.

Outros pontos importantes neste dia bombástico: a Ferrari finalmente resolveu investir para realizar o antigo sonho de ter Lewis Hamilton como um de seus pilotos. Acredita-se que o inglês passará a ganhar o maior salário entre os pilotos da Fórmula 1 atual, superando Max Verstappen. Tanto é que o acordo não foi negociado por ninguém da equipe. Quem cuidou das conversas com Hamilton foi ninguém menos que o americano John Elkann, CEO da Exor, fundo de investimento da família Agnelli que controla a Ferrari. Além disso, há um robusto projeto técnico comandado pelo chefe Frédéric Vasseur, que envolve a troca de peças-chave na estrutura do time. Tanto é que, no ano passado, a Ferrari contratou o francês Loic Serra, ex-diretor de desempenho da Mercedes. Entretanto, por causa das regras da F1, ele só poderá começar a trabalhar na equipe italiana em 2025. Justamente no ano da chegada de Lewis Hamilton.

Tudo isso convenceu Hamilton a sair da zona de conforto da Mercedes, onde estava há 11 anos – completará 12 no fim de 2024. Na Ferrari, o inglês será companheiro de Charles Leclerc, que acabou de renovar seu contrato. Pode parecer um contrassenso, mas vejo o monegasco ganhando com essa relação. Primeiro porque o heptacampeão já está na reta final da carreira e pode, até mesmo de forma indireta, atuar como uma espécie de mentor do companheiro. Leclerc é extremamente talentoso, é muito rápido, mas ainda peca no aspecto psicológico – ponto forte de Hamilton. Além disso, aos 26 anos, Leclerc poderá se beneficiar do processo de reestruturação da Ferrari que será liderado por Hamilton quando o inglês parar de correr. Basta ter um pouco de paciência para que o sofrimento das últimas temporadas finalmente chegue ao fim.

Vejo também semelhanças deste movimento de Hamilton para a Ferrari com a saída dele da McLaren para a Mercedes em 2013. Em ambas as ocasiões, o inglês terá o último ano de um regulamento em vigor para se ambientar à equipe e trabalhar duro no desenvolvimento do carro para as regras do ano seguinte. Vimos o que aconteceu com a Mercedes, uma equipe campeã como Brawn GP e que vinha de três anos ruins: um domínio que começou em 2014 e terminou apenas em 2021, com sete títulos de pilotos e oito de construtores. No caso da Ferrari, agora, o desafio é ainda maior: o time vermelho não vence entre os pilotos desde 2007, com Kimi Raikkonen, e desde 2008 entre as equipes. Hamilton vai chegar com a missão de acabar com esse incômodo jejum. E, claro, vai realizar o sonho de infância de correr pela maior equipe da Fórmula 1.

Ficam algumas questões no ar, entretanto. Como será a relação de Carlos Sainz com a Ferrari na temporada 2024? O espanhol, que já não curte muito fazer jogo de equipe para o companheiro, está sem vaga para 2025 e não tem nada a perder neste ano. A tendência é que as relações internas dentro da equipe italiana se deteriorem a cada corrida. O mesmo vale para a Mercedes: depois de serem pegos de surpresa nesta mudança, como será o tratamento a Lewis Hamilton? Sobretudo sabendo que ele irá para uma equipe rival no ano seguinte? Por mais que o discurso seja amigável neste sentido, é quase impossível acreditar que George Russell não será beneficiado nas relações internas dentro do time neste ano. Principalmente na reta final da temporada.

Em suma, a Fórmula 1 vive um dia histórico neste 1º de fevereiro de 2024. A ida de Lewis Hamilton para a Ferrari é a maior transferência de um piloto para uma equipe em mais de 30 anos. Enfim, estamos vendo a história sendo escrita na maior categoria do automobilismo mundial.

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Fonte: GE