Em 1974, Vovô do Ilê e Apolônio de Jesus se reuniram no Curuzu, bairro periférico de Salvador. Não foi qualquer encontro.
Os dois queriam denunciar e combater o racismo escancarado no Carnaval da capital baiana. Em época de ditadura, os principais blocos da folia só permitiam entrada de foliões brancos. Os negros presentes estavam em funções como percussionista e carregadores de alegorias. Foi então que, em 1975, o Ilê Aiyê desfilou pela primeira vez na conhecida maior festa popular do planeta com apenas 100 pessoas e se tornou o primeiro bloco afro do Brasil.
Pela preservação e promoção das tradições culturais africanas e afro-brasileiras existentes na Bahia e pela potente denúncia de racismo no Carnaval de Salvador – dentre outras tantas contribuições à cultura e entretenimento do estado -, Antônio Carlos dos Santos – nome de batismo do Vovô do Ilê – foi o grande homenageado do Alô Alô Folia, abre alas da folia momesca realizado pelo Alô Alô Bahia. O evento foi realizado nesta quinta-feira (9), na Casa do Carnaval, no Centro Histórico da capital baiana.
“Estou muito gratificado de estar aqui recebendo esta homenagem. Muito obrigado e estou muito feliz por ter este reconhecimento aqui em Salvador. Nós criamos o Ilê Aiyê, eu e Apolônio, com vinte poucos anos de idade. Ele foi criado para combater o racismo no Carnaval da Bahia. Os principais blocos da época só podiam ter pessoas brancas. Não estamos aqui fazendo racismo reverso, como dizem. Eu quero liberdade, igualdade e respeito. Eu quero espaço. Não estamos pretendendo fazer um novo apartheid. O Ilê Aiyê tem 48 anos, temos empresas importantes que são parceiras da entidade e o que queremos é essa convivência. Precisamos ver pessoas pretas e brancas em cargos importantes”, disse Vovô.
Numa plateia formada por nomes como Flora Gil, Carla Perez, Lore Improta, Marisa Orth, Gilmelândia, Ricardo Chaves, Magary Lord, Linn da Quebrada, Vovô do Ilê foi recebido no palco pelo cantor e compositor Alexandre Peixe, que fez um show exclusivo para os convidados do Alô Alô Folia. “Homenagem justa a esta personalidade que fez e que continua com tantos serviços prestados à nossa cultura. A gente fica muito feliz em ter esta oportunidade de estar ao seu lado, trazer um abraço de agradecimento”, ressaltou Peixe.
Vovô do Ilê é filho da lendária Mãe Hilda, do terreiro Ilê Axé Jitolu, que fica no Curuzu, em Salvador. Desde a criação do Ilê Aiyê, ele se dedica exclusivamente à sua administração. Para a folia baiana deste ano, o grupo terá como tema uma homenagem ao angolano Augustinho Neto, que em setembro de 2022 completaria 100 anos. O médico, poeta e líder revolucionário da luta anticolonial foi o primeiro presidente da República de Angola e um dos fundadores do Movimento Popular de Libertação do país africano.
Fonte: Alô Alô Bahia
