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Iemanjá 2022: veja todos os detalhes da festa e das homenagens à rainha do mar

Bahia

O tão esperado 2 de fevereiro chegou e, por mais um ano, a enseada do Rio Vermelho está silenciosa. As homenagens à Rainha do Mar não acontecerão, pelo segundo ano consecutivo, nos moldes tradicionais e a saudade é marca registrada nos baianos, turistas e fiéis que sempre visitavam o mar para se abençoar e prestar homenagens à Iemanjá.

O motivo continua sendo a pandemia da Covid-19, a alta do número de casos provocados pela variante Ômicron em todo o estado baiano e o surto de Influenza em Salvador. Apesar das inúmeras restrições anunciadas pelos governos estadual e municipal, a fé e a tradição continuam na capital baiana mesmo que de forma tímida, ao longo dos mais de 60 km de orla.

O presente construído pela colônia de pescadores do Rio Vermelho foi mantido. Em contrapartida, a praia foi fechada e a região não foi interditada, como em anos anteriores, para evitar aglomerações. Muitas pessoas não aprovaram a medida por conta do medo da extinção da tradição, mas para o historiador Ricardo Carvalho as mudanças são naturais e não é diferente se compararmos com outros momentos históricos.

“Poucas festividades religiosas tiveram tantas transformações na Bahia quanto a festa de Iemanjá, seja em termos de data e até mesmo de localização geográfica. Eu acho que a história não é um elemento fixo, inalterado, as mudanças elas são inevitáveis e isso acontece com as tradições também. Embora a palavra tradição ela possa inferir em algo que é imóvel, parado, não é assim. As tradições elas também se modificam e a pandemia da Covid-19 é uma delas, como em outros momentos: durante a Segunda Guerra Mundial…as festividades também acabaram passando por transformações. Isso vai acontecer inevitavelmente e é isso que acontecendo agora”, disse o especialista em entrevista ao portal iBahia.

Apesar das alterações, a festividade encanta e exala uma força sentida em vários cantos. Quer fazer sua homenagem? Ou saber mais sobre a história de Iemanjá? Confira abaixo o guia especial que o iBahia fez especialmente para a data. 

Restrições e protocolos: o que pode e o que não pode fazer? 
No dia 27 de janeiro, o prefeito Bruno Reis suspendeu a festa e informou uma série de restrições, que serão aplicadas desde a primeira semana de fevereiro na região do Rio Vermelho e na enseada do bairro. Confira abaixo e programe-se:

  • praia do Rio Vermelho e toda a enseada do bairro será fechada. De acordo com o prefeito Bruno Reis, estará interditado o acesso de pessoas às praias entre o restaurante Sukiyaki e a Colônia de Pescadores Z1, a partir de zero hora do dia 1º de fevereiro até as 6h do dia 3 de fevereiro.
  • Proibição da realização de qualquer ação de emissão sonora em todo o trecho da Avenida Oceânica entre o restaurante Sukiyaki e a Vila Caramuru, a exemplo de carros de som.
  • Também nesse trecho estará vetada a atuação do comércio ambulante nas vias.
  • Os bares e restaurantes poderão atuar em horário normal, com a utilização apenas de som ambiente.
  • O trânsito estará liberado normalmente na Avenida Oceânica.
  • Já o presente de Iemanjá será levado diretamente ao mar, sem qualquer permanência na Colônia de Pescadores, para evitar aglomerações.
  • Os interessados em deixar presentes para a Iemanjá poderão entregar seus balaios ao longo de toda a orla da capital baiana. A medida é para evitar aglomerações.
  • Órgãos municipais realizarão fiscalizações durante todo o dia.

História
Iemanjá é uma divindade africana cultuada pelo Candomblé, pela Umbanda e por outras religiões de matriz africana. Ela é considerada a mãe das águas e de quase todos os orixás. Alguns relatos históricos revelam que a tradição de entregar presentes no mar começou em 1923, quando um grupo de pescadores decidiu consultar os búzios para entender a falta de peixes. Foi a partir da orientação de pedir ajuda a Iemanjá e presenteá-la que começou a devoção. A prática foi crescendo e, na década de 1950, foi oficializada como a “Festa de Iemanjá”. 

De acordo com o doutor em antropologia, professor da UFBA e Babalorixá Vilson Caetano, a localização geográfica de Salvador ajudou muito na ligação dos baianos com Iemanjá. “Como a cidade de Salvador é à beira mar, o culto se fez presente desde cedo. Ora pela presença africana, ora pela presença dos mouros através dos portugueses, ora pela presença dos povos originários que também tinham a sua divindade que tomava conta das águas”, explica Vilson. 

Agora, você deve estar se perguntando: e Oxum?! O especialista explicou que foi através do povo Ijexá que a orixá ganhou espaço aqui em Salvador e também a devoção, por ser representante das águas doces. Normalmente, os povos de santo, vão até o Tororó para homenagear a orixá no dia 1 de fevereiro. “Oxum é a maior divindade do povo Ijexá e, ao longo do Dique do Tororó, várias famílias Ijexá se estabeleceram, dentre elas a de Júlia Bugan, fundadora do terreiro Ijexá Língua de Vaca – já extinto. Foi da casa de Tia Júlia que saiu, acertadamente, os primeiros presentes em direção ao Rio Vermelho, que até os anos 1950, por ocasião da morte de sua sucessora Emília de Xangô, eram levados em procissão pelo meio da rua, ao som de pequenos atabaques tocados também por mulheres chamados ilu ou coligiu”, relata o professor.

Para Ricardo Carvalho, as mulheres sempre foram precursoras da fé e da tradição a Iemanjá e a Oxum. “As mulheres sempre tiveram um papel importantíssimo nessas festividades, os relatos que vem de meados do século 18 já anunciavam esse envolvimento muito forte, né? Do feminino, da matriz feminina na realização dessas festas e essa participação dessas mulheres foi marcante ao longo dos anos e continua sendo muito significativa até hoje”, disse o historiador.

Não há como negar o quanto a festa é importante e simbólica na Bahia, e acredita-se que assim permanecerá não só aqui, mas por todo o mundo. “O Candomblé e as religiões de matriz africana encontraram no Brasil e, particularmente na Bahia, uma acolhida e um desenvolvimento como em nenhum outro lugar no mundo nem mesmo no continente africano onde há forte influência a culturação vinda da religiosidade católica europeia que acabou por suprimir muita dessas manifestações ancestrais. Por isso, pode-se dizer que é sim a maior festa religiosa voltada pra Iemanjá e a maior festa do Candomblé no mundo inteiro”, finalizou.

Fonte: IBahia