Sábado, 2 de novembro de 2024
O mês de outubro foi particularmente negativo para os ativos brasileiros: a bolsa recuou quase 2%, o real se desvalorizou em mais de 6%, e os juros longos dispararam para 13%. No acumulado do ano, o real já caiu cerca de 20%, e a bolsa recuou mais de 22% em dólar, caracterizando um período bastante desafiador para os ativos do Brasil. Embora outros mercados emergentes também tenham sofrido, o Brasil tem se destacado pelo desempenho mais fraco, devido à combinação do chamado “Trump Trade” — a expectativa de uma possível vitória de Donald Trump, que impulsiona o dólar — e fatores internos, como pressão fiscal, inflação acelerada e baixa taxa de desemprego. No cenário global, a moeda brasileira e outras, como o peso mexicano, peso argentino e a lira turca, desvalorizaram mais de 15% neste ano.
Internamente, os dados mostram uma economia aquecida: a produção industrial cresceu 1,1% em setembro em relação a agosto, sugerindo um avanço de quase 1% para o PIB no terceiro trimestre. O desemprego está em nível historicamente baixo e a inflação de alimentos preocupa, com previsão de alta expressiva para o final do ano — muito acima do zero registrado no ano anterior —, impulsionada pela seca, aumento dos custos de pastagem e uma alta de 25% no preço da arroba de bovinos nos últimos 12 meses.
Do lado positivo, os dados de emprego dos EUA mostraram um enfraquecimento no mercado de trabalho americano. O Payroll registrou a criação de apenas 12 mil vagas em outubro, muito abaixo da expectativa de 100 mil, com revisões para baixo em meses anteriores (agosto revisado para 78 mil e setembro para 223 mil). A taxa de desemprego nos EUA permanece em 4,1%, com aumento salarial de 4%, sugerindo um mercado mais fraco. Esse dado pressionou o dólar para baixo, permitindo uma valorização do real e de outras moedas emergentes, enquanto a taxa de juros dos Treasuries de 10 anos recuou para cerca de 4,20%.
A próxima semana será crucial, com as eleições americanas e decisões dos Bancos Centrais. A expectativa de uma vitória de Trump está precificada nos mercados; uma vitória da oposição, por outro lado, pode gerar uma reversão nos ativos. Na quarta-feira, o Fed deve anunciar uma alta de 0,25%, e o Banco Central do Brasil deve seguir com um aumento de 0,5% na Selic. Na sexta-feira, sairá o IPCA de outubro, outro dado importante.
Fonte: paulogala.com.br