Por Diogo Souza – Segunda, 02 de outubro de 2023
Do mês de maio desse ano, até agora, importantes nomes da política ipiraense concederam entrevistas em rádios, e através de lives também, em veículos locais de informação. Falaram de assuntos diversos, e dentre eles a largada pela pré-candidatura ao pleito municipal do próximo ano. Um por um, temos aqui trechos de falas de Antônio Colonnezi, Diomário de Sá, Dudy, Jota Oliveira, Luiz Carlos, Neto Carigé, Nina Gomes e Thiago do Vale. Como já é sabido, alguns desses são apoiadores/líderes, e outros, pré-candidatos.
O que se apresenta até aqui, de maior destaque, é uma reconfiguração do quadro tradicional da política, com o remanejamento inesperado de nomes importantes. Antônio Colonnezi, Jurandy Oliveira e Luiz Carlos, historicamente de polos opostos, estão juntos numa aliança para enfrentar Diomário e Dudy.
“Foi dito na câmara de vereadores, mais de uma vez, que eu já estava velho e que deveria vestir o pijama, e agora não sei porque criou-se tanta celeuma a meu respeito. Se já estou velho, não serve mais para nada, porque estão se preocupando tanto?”
Essa indagação inusitada, que inspira o título dessa matéria, foi feita por Antônio Colonnezi, médico, ex-prefeito e liderança política no município, em entrevista de rádio, no dia 04 desse mês. Para esclarecimento do(a) leitor(a), Colonnezi, nome que trata abertamente do rompimento, pelo menos por ora, concedeu duas entrevistas em momentos diferentes, uma no final do mês de maio, dia 25, e outra no dia 04/09. O teor das conversas é bem diferente, pois sai daquele personagem na tentativa de um consenso lá atrás, no seu reduto, para um papel de tentar demonstrar que ainda possui prestígio como político, coisa que ele entende que desacreditaram.
As andanças, fotos e discursos de momento, sinalizam que o ex-prefeito saca uma carta na manga e faz um movimento para responder que não podem recuá-lo, ainda mais. Isso é o que pôde ser notado em sua entrevista em tom de desabafo, no começo desse mês. Pelo que está sendo ensaiado e apresentado, em reuniões e visitas, talvez tenha chegado ao seu limite. Certamente, contudo, essa recomendação de pijama não foi a gota d’água para essa nova aliança.
“Fui até o prefeito, quando houve esse primeiro pronunciamento, e falei que isso não pegava bem, pois o vereador era do grupo. Pedi que fizesse uma ‘notinha’ explicando que não concordava com a fala do vereador. Não foi feito nada, ele não tem ação, não tem iniciativa. Parece que ainda está embalado nos seis mil votos e acha que não precisa de mais ninguém para governar”, desabafou.
Antônio fala que o prefeito e seu pré-candidato foram à casa dele. Na oportunidade, Colonnezi falou: ‘olha, isso aí é uma briga, uma questão de família, primeiro resolvam isso, para depois se pensar em candidatura’. “Ocorre que essa pré-candidatura já nasceu no dia que o atual gestor entrou na prefeitura, não foi discutida com ninguém. Nosso grupo sempre teve a tradição de ser um grupo aberto, trouxemos Diomário e Aníbal”, lembrou.
O ex-gestor diz que não tem mais pretensão a cargo eletivo e que quando se propõe alguma mudança, elas irão sempre provocar transtorno, algumas pessoas ficarão insatisfeitas, outras reclamando. “Decidi que daqui pra frente eu quero qualidade de vida, e na prefeitura a qualidade de vida fica lá atrás, as prioridades são outras, surgem demandas toda hora, são pedidos de uns querendo mais obras que outros, enfim, são coisas que exigem muito do gestor”, disse.
“Interessante que a artilharia toda voltou para meu lado. Eu não sou candidato a nada, mas a metralhadora está virada para meu lado. Então, vamos acabar com isso, vamos votar em pessoas, ouvir propostas. Nunca foi pretensão minha virar jacu, agora receber apoio, pode ser de todos os lados”, completou.
Antônio Colonnezi, Jurandy Oliveira e Luiz Carlos Martins se aproximam e emplacam o nome de Nina Gomes, esposa do ex-deputado, como pré-candidata à prefeita, num movimento, no mínimo, de causar estranheza. Os dois primeiros, nomes importantes da macacada, enquanto o segundo, cabeça da jacuzada.
“Estamos vivendo uma situação inusitada em Ipirá, o grupo entra nessa sucessão dividido. Quem dividiu o grupo político em Ipirá? Garanto que não fui eu. Tivemos uma eleição histórica em Ipirá (municipal de 2020), em que o atual gestor venceu por uma diferença de 6.094 votos, e já no pleito seguinte (estadual de 2022) ele trazia outro candidato a deputado (Adolfo Menezes). A divisão ocorreu nesse exato instante”, explicou Colonnezi.
Ele ainda lembra da tentativa frustrada da vice-prefeita, junto com alguns vereadores, de fazer a presidência da Câmara. “Temos que ser honestos para dizer isso: foi o que precisava para colocar a vice para escanteio. Mas o que Antônio Colonnezi, colocado para escanteio durante todo esse tempo, fez? (…) Esse é todo o começo de nosso problema político. Daí nasceram dois candidatos”.
Entrevista com Diomário
Diomário de Sá, advogado e ex-prefeito, cria da jacuzada, teve a aprovação do grupo adversário para concorrer como prefeito nas eleições de 2004, atestando o que diz Antonio sobre a característica de abertura do grupo. Relatos dão conta que Diomário não teve a acolhida do grupo jacu para atender a seu anseio de ser candidato, razão que motivou sua migração para o grupo macaco, onde hoje é aclamado.
Em entrevista ao portal Ipirá City, no começo de julho, Diomário apresentou o que pensa sobre a atual conjuntura. ”Nosso grupo (macacada) tem uma característica interessante, diverso de outros grupos. Nós praticamos uma democracia internamente, nós não somos um grupo fechado, onde tem alguém que impõe, que manda e que determina. Pelo contrário, todas as eleições a gente tem os debates internos muito grandes, para depois, em momento oportuno, escolhermos o nosso candidato. Mas, a gente sabe que a prática da democracia tem que ser assim mesmo. É da divergência e do contraditório que surge a decisão final, que a gente sempre toma de maneira democrática, para escolher quem é que vai nos representar como prefeito do município, como é o caso agora, da próxima gestão”.
Antônio Colonnezi, o mais “pilhado” de todas as entrevistas relatadas, abordou um dos motivos para o cenário de momento. “Voltando ao novo desenho, é para acabar com esses pequenos grupos que querem nascer dentro do grupo existente. O que está acontecendo no momento é isso. O novo desenho está em fase de andamento para apoiarmos uma mesma candidata”, explicou.
Apontado como exímio articulador, Diomário é uma referência no grupo que, curiosamente, não funcionou como seu berço político. Ele reconhece tais fatores em seu passado. “Àquela época, naturalmente, Antônio abriu mão da candidatura dele e Dudy, para me acolher como candidato do grupo da macacada. O grupo da macacada debate muito internamente, até encontrar o caminho final. Mas no final sempre tá unido. Lutamos por essa unidade, porque divisão não é bom. Outra coisa que não é possível fazer é vetar nome, esse é meu pensamento. Se Nina tem a pretensão de ser pré-candidata, que o seja. E aqueles que a preferirem, lutem por ela. É natural que assim o seja”.
Essas declarações de Diomário, são de entrevista concedida no começo de julho, ao portal Ipirá City. De lá pra cá as coisas continuaram acontecendo em sentido contrário ao de que se pode chamar de unidade, no grupo da macacada. As suposições ganharam corpo, viraram fotos em mais de um encontro, outras entrevistas foram concedidas, e as convicções se mantiveram.
“Qualquer pessoa do grupo, ou da aliança que vamos compor, que queira ser candidato, deve lançar seu nome para análise futura, porque só vamos decidir quem será o candidato quando reunirmos todos os nossos vereadores, líderes políticos da sede e do interior, e objetivamente analisar quem reúne maiores condições para aglutinar e ganhar as eleições para o bem do município”, falou Diomário em julho, já sabedor dos burburinhos. Como a fase ainda é de testes, fala-se apenas em pré-candidaturas, seu posicionamento, até então, é carregado de coerência.
Mas Dió, como é carinhosamente chamado, diante dos nomes interessados em participar da disputa eleitoral no município, apresentou, também, sua escolha. “Como líder político natural do grupo, Antônio, de fato, revelou sua preferência por Nina. Isso me obriga, como partícipe do grupo, estou apenas na coordenação, a dizer para toda a sociedade minha preferência: Thiago do Vale”, revelou o ex-gestor.
Diomário reconheceu a liderança importante que Antônio exerce dentro do grupo, lembrou da época que foi candidato a prefeito, com o apoio dele, Dudy, e de Jurandy. “Tiveram a sensibilidade de me convidar para ser o candidato a prefeito do grupo deles, uma vez que o grupo onde eu estava, tinha uma liderança que não me assimilava como candidato por vários episódios que não vale a pena aqui relatar. Mas o fato é que deu-se um passo importante àquela época porque nos unimos e fizemos a aliança e naturalmente fui com diversos companheiros maravilhosos, juntamos parte da macacada com a parte que levei do nosso grupo. Mas uma coisa sempre preguei e vou continuar persistindo nisso: é fundamental a unidade, a unidade de grupo é uma coisa importante. Os debates, as postulações, os desejos das pessoas, são todos desejos legítimos para candidaturas”, pontuou.
O ex-prefeito de Ipirá, nos anos 2005-2012, como advogado renomado que é, passou a fazer uma longa explanação, uma defesa mesmo, do nome daquele que viu iniciar seu trabalho e participar do processo aos 18 anos de idade. Na mesma toada, explicou as condições atuais, sinalizando que as limitações impostas pelo tempo servem para ele e para outros.
“Thiago começou a trabalhar na prefeitura aos 18 anos, num cargo menor. Por uma contingência que aí está, Thiago hoje ocupa o pior cargo da prefeitura (secretário de Finanças) para quem quer fazer política. Para que fosse visualizado, seria melhor que ele ficasse como começou, porque é muito hábil politicamente. Thiago cresceu conhecendo a gestão pública e hoje não tenho receio em dizer que Thiago é uma figura extremamente madura, capacitada e competente para exercer o cargo de prefeito do município”, argumentou o ex-prefeito.
Na linha de abertura para a renovação dentro do grupo que o acolheu há quase 20 anos, Diomário faz sua ponderação reconhecendo o momento de apostar no nome que representa o “novo”, termo que já estampa adesivo com figura de macaco em veículos na cidade, e que se tornou referência para a pretensa mudança na escalada pela sucessão municipal.
“Chegou o momento, e a vida é assim, cheia de transformações. Eu tive um momento importante na vida política de Ipirá, posso até continuar tendo, mas estou com 80 anos, tenho as minhas comorbidades. Nós, que de certa forma compomos a coordenação do grupo, como é meu caso e o de Jurandy, vamos passar, nossa época já passou. O que eu penso e quero passar claramente para o grupo e para a sociedade de Ipirá, é que nós temos que ser substituídos novamente por novas lideranças que vão surgindo no município. A gente tem que agregar pessoas novas, naturalmente pessoas com qualidades, sobretudo para o cargo de prefeito. Temos que trazer gente nova para esse processo. Oportunizar a participação a outras pessoas. Eu agora só quero fazer o meio de campo, o que pretendo agora é que a gente passe para as lideranças mais jovens, que vão nos substituir. Caso contrário, a gente não as capacita para exercer com grandeza, eficiência e competência a política em Ipirá, sobretudo a questão de gestão”, prosseguiu falando sobre a alentada renovação política.
O ex-gestor ainda lembrou que as pretensões apresentadas, hoje, estiveram em pauta nas últimas eleições, e deu a entender que foi necessária uma manobra de última hora.
“Na eleição passada, a maioria dos vereadores e muitos o queriam como vice de Dudy. No entanto, em nome da unidade do grupo, houve uma solicitação enfática do deputado Jurandy Oliveira e foi sacrificada a pretensão de Thiago de ser vice, dando lugar a Nina. Mas numa demonstração de grandeza e lealdade ao grupo, ele coordenou politicamente a campanha da chapa Dudy e Nina”, ponderou.
O cenário, ao tempo dessa entrevista de Diomário, no começo de julho, era um, ele tratava Antônio Colonnezi e Jurandy Oliveira como lideranças do grupo da macacada. Ainda são e continuarão a ser, é muita coisa envolvida, isso é relativo. Ocorre que outras entrevistas já foram concedidas de lá pra cá, e o novo quadro político se mantém inalterado, pelo menos até então.
Na entrevista do final de maio, ao portal Ipirá City, Antônio Colonnezi, ainda mantinha um discurso conservador. “O que o nosso grupo precisa é ter mais discussões internas para amadurecer, chegar a um candidato que consiga aglutinar todas as correntes, todas as tendências do grupo. Já ouvi que tem um pré-candidato, tudo bem. Eu também tenho uma pré-candidata, é a vice-prefeita Nina Gomes. Lá no final, vamos sentar à mesa, e através de pesquisas e aferições com a população, ver quem aglutina e representa melhor o eleitorado”, considerou à época.
Segundo Colonnezi, ainda era cedo para discussão de candidaturas (final de maio), porque acabava dividindo o grupo antes da hora. “Já que o prefeito declina de ser candidato, importante falar isso, a partir do direito que tem à reeleição, minha preferência é pela vice-prefeita, Nina Gomes”.
E ainda completou, de forma descontraída: “cada agonia no seu dia, está muito cedo para entrarmos nessa seara. Tem muita água pra rolar. Espero que tenhamos a clarividência e a sabedoria de manter o grupo unido, luto por isso para que a gente obtenha êxito na sucessão do prefeito Dudy”.
Entrevista com Thiago do Vale
O secretário de Finanças, Thiago do Vale, nome cogitado para ser pré-candidato do governo, também estava agendado para entrevista naquela semana de maio, ao portal Ipirá City, e falou sobre a ventilada possiblidade de pré-candidatura que estão tratando.
“Faço parte do grupo político da macacada, sim. Mas muito mais, faço parte de uma aliança política, e eu respeito a aliança que faço parte. Ninguém faz política sozinho, a gente só faz política se tiver pessoas ao nosso lado para fazer. Tenho respeitado muito isso. Evidentemente que, pela minha própria história dentro do grupo da macacada, pela minha história de vida, pelo tempo que já faço política, pelos cargos que já ocupei e por as pessoas entenderem que meu nome pode ser um bom nome para gerir Ipirá, os rumores surgem. Ainda não me manifestei publicamente para lançar uma pré-candidatura. Digo isso com muita clareza, porque quero respeitar, como sempre respeitei, a aliança que faço parte. São várias pessoas, partidos e segmentos, e não podemos atropelar isso. Claro que existem pretensões, não vamos negar, existem outras pessoas querendo pré-candidatura, a democracia é isso, mas vou tratar isso sempre com respeito à aliança que nós temos. Apesar dos rumores, o momento ainda é cedo. O foco agora é na gestão e na continuidade do trabalho que estamos fazendo”, afirmou à época.
Na última quinta, 28, Thiago foi o convidado para um bate-papo no podcast do vereador Jaildo do Bonfim. Não falou abertamente sobre pré-candidatura, mas abordou o tema da política. “Mesmo diante de todos os sacrifícios que a gente faz, das abdicações necessárias para estar nesse ramo, a política proporciona momentos de felicidade, pelas amizades que se constrói e principalmente pelo sentimento de melhorar a vida das pessoas. No país em que vivemos, não diria que felizmente ou infelizmente, mas a forma como o Brasil é constituído, muitas coisas chegam pela via da política, assim é que as melhorias chegam lá na ponta. É satisfatório fazer a entrega de uma obra, é satisfatório dar uma ajuda ou contribuir com alguém num momento de saúde, é satisfatório conseguir uma educação de qualidade, com a cidade desenvolvendo com pessoas que serão bons profissionais. Não tenho nada a reclamar ou me arrepender da vida que eu tenho, não tenho nada a criticar da política, a gente precisa, realmente, é cada dia militar mais e mais”, afirmou.
O secretário de Finanças disse que não se incomoda com as cobranças, mesmo as excessivas. “A gente precisa entender a cabeça do ser humano, nem todo mundo é igual. Quando a pessoa cobra de forma excessiva, vai para as redes sociais, que acha um escândalo. Acho aquilo tranquilo porque nem sempre é uma obra cobrada em dois anos e nove meses do governo Dudy, pode ser que já recebeu promessas há trinta anos. Então, no bom sentido, a pessoa fica calejada, acha que aquilo não vai mais chegar, acha que é só mais um que vai prometer e sair sem fazer. Mas o prefeito Dudy, como ele mesmo diz, faz compromisso, não faz promessa”, frisou.
Questionado sobre a demora em realização de obras, numa eventual condição de prefeito, ele acredita que a sucessão a este governo de agora, facilitaria. “Com toda certeza, se um dia eu for prefeito de Ipirá, e suceder a uma gestão como essa que faço parte, eu não tenho dúvida que a gente não vai levar esse tempo todo, porque estamos com uma gestão sanada, com tudo em dias. (…) Em quatro anos, ninguém vai fazer tudo que Ipirá precisa, em oito muito menos, em doze também não, mas se tivermos gestões que darão continuidade ao progresso e ao trabalho, sim! O grande problema é quando entra uma gestão que não faz, que atrasa, que traz desmandos”, falou.
Entrevista com Nina Gomes
Em sua live no portal Ipirá City, no final de maio, dias depois das entrevistas com Antônio e Thiago, Nina Gomes falou de sua ambientação no atual governo, enquanto vice, e das perspectivas sobre a pré-candidatura à prefeita.
“Ganhamos as eleições e não foi cumprido o prometido: da vice fazer parte da gestão, de estar junto nas decisões (…). Nunca participei de nada. A vice não tem atuação na gestão, não que eu não quisesse, mas sim por falta de oportunidade”, falou.
Nina explica que Dudy a chamou e disse que, infelizmente, a secretaria de Assistência Social não poderia ficar com ela porque sua esposa tinha pretensão, depois ela não conseguiu ficar e passou a bola para outra pessoa. Contudo, a vice-prefeita explica que a situação foi superada.
“Não estou triste, não fiquei magoada de forma alguma. A gente fica decepcionada, muitas vezes sem acreditar, porque a gente passou uma campanha linda, batemos em várias portas, fizemos promessas, falamos do plano de governo, das nossas intenções, enfim. Não me arrependo, mas não foi cumprido (o que foi prometido)”, externou.
A vice-prefeita diz que tem atuação como cidadã, e quando não vai atrás dos direitos de vice, é porque vice não faz nada. “É um cargo que deveria ser extinto, mas pelo menos tenho o salário para investir na Abeng”, completou.
Sobre o cenário que se apresenta, a vice-prefeita diz ser oportuno o momento para o debate. ”Falar de política é muito bom, nunca é cedo. A gente vive numa plena democracia, quanto mais candidato, melhor. As pessoas têm mais oportunidades de escolha. A perspectiva que tenho é que a gente tenha responsabilidade com nossas escolhas, assim como ter responsabilidade com nossas decisões. A marca do meu trabalho é a participação ativa com o povo, minha luta é diária. Todos os dias lido com gente, cada um com seus problemas e dificuldades. Faço isso por escolha e não por estar vice-prefeita. Isso requer responsabilidade e comprometimento, porque quando a pessoa se dispõe a participar da coisa pública, a gente tem que fazer com compromisso. Espero que as pessoas que tenham vontade, coloquem seus nomes à disposição com responsabilidade, que se destaquem com trabalho prestado, respeito à coisa pública e ao ser humano”.
Ligando uma entrevista a outra, parece que ser a bola da vez na disputa do pleito, é o eixo de parte da falta de consenso. Nina conta que está como vice-prefeita porque o povo quis, que a população gritou. Revela ainda que estava credenciada para concorrer à prefeitura nas eleições de 2020, mas o grupo da macacada se reuniu e entendeu que era a vez do gestor atual.
“A marca do meu trabalho é a participação ativa com o povo, pelo fato de eu estar diariamente com o povo, recebo muito esse pedido. O sangue político corre nas veias, não tem como fugir disso. Não é a minha vontade, é a aclamação popular. E já estou, sim, decidida. Sou pré-candidata à prefeita de Ipirá. Fico muito confortável em falar, porque não é a decisão de Nina, não é uma decisão de Jurandy, não sou uma pré-candidata tirada do bolso ou imposta. Dizem que a voz do povo é a voz de Deus, então estou me vendo nisso. Não posso me acovardar, ou você está na política, ou você sai da política. Com responsabilidade e comprometimento, a gente também precisa se posicionar”, afirmou.
Motivos que expliquem, de forma fidedigna, essa nova composição, de ambos os lados, dificilmente virão à baila. Fato é que para sustentar essa aproximação de Antônio e Jurandy, com Luiz Carlos, nomes que passaram uma vida como expoentes de polos políticos opostos, é preciso trabalhar um novo conceito de política local, que relativize algo que é uma marca no município, já que os sinais dos novos tempos mostram ser mais entranhada nos eleitores do que propriamente nos políticos que entram em disputa: ser jacu ou macaco.
Entrevista com Luiz Carlos
Luiz Carlos, médico e ex-prefeito (1997-2004), maior liderança viva do grupo intitulado jacu, também deu as caras para falar desse novo arranjo preparado para a disputa eleitoral do próximo ano. Ele concedeu entrevista de rádio no último dia 19, e se mostrou um grande entusiasta com a nova formatação política em Ipirá.
Sobre essa nova aliança, Luiz Carlos faz uma ressalva interessante. “Estamos, realmente, construindo um novo momento na política de Ipirá, gostaria de chamar isso de nova aliança por Ipirá: eu, como ex-prefeito, Jurandy como ex-prefeito e deputado, e Antônio Colonnezi como ex-prefeito. Eu não vou virar macaco e Antônio não vai virar jacu, nós vamos fazer mais do que isso com a nova aliança por Ipirá”.
Antônio Colonnezi também fizera uma observação sobre essa nomenclatura, que é naturalizada há tempos no município. “Estamos tentando redesenhar o mapa político de Ipirá. O que alimenta a corrupção, esses prefeitos que chegam lá e não escutam ninguém, é justamente essa polarização entre jacu e macaco. De agora em diante vou tirar de meu dicionário os termos jacu e macaco, vamos falar de pessoas. Existem conversas (com o outro grupo), sim”, afirmou.
Mais do que macaco e jacu, como referido acima pelo ex-prefeito Luiz Carlos, poderia ser o que? Uma terceira via? Talvez não, o capital político de votação deles ainda está acima dos parâmetros do que seria uma terceira via, que normalmente desponta menor. Seria então um grande conchavo? Sobre isso, Luiz Carlos tratou de fazer uma recomendação, já confirmando (por ora) o nome da esposa do ex-prefeito e ex-deputado, Jurandy Oliveira, como pré-candidata a quem vai apoiar.
“Vocês, da área de informação, podem dar uma colaboração dizendo que não estamos fazendo qualquer tipo de conchavo político. Nós estamos construindo um projeto para Ipirá, com a participação de todos os ipiraenses. Que essa nova aliança sirva, realmente, para que possamos trazer o que esperam de nós. A nossa pré-candidata é uma mulher que gosta do povo, faz um trabalho social muito grande. Nossa pré-candidata é Nina Gomes”, pontuou.
“As pessoas têm alegria em nos receber, há esperança no olhar de cada um. Saímos 9h e retornamos às 23h. Saímos de casa em casa, para a alegria e surpresa das pessoas. Fomos recebidos com a esperança de que aqui em Ipirá as coisas possam realmente acontecer, e que a cidade voltará a crescer”, contou sobre umas visitas feitas num fim de semana, na companhia dos membros da nova aliança.
Luiz Carlos diz que ouviu atentamente a entrevista de Antônio, e que comunga exatamente com o pensamento dele, da decepção e da tristeza com que encaram o problema da saúde de Ipirá. “Parece que a saúde de Ipirá é Ruy Barbosa, Itaberaba e Feira de Santana. Ipirá precisa dessa mudança que estamos planejando, para que possa voltar a ver aquilo que aconteceu no passado, ou talvez até melhor, em condições técnicas”, afirma o ex-prefeito.
Antônio x Dudy
Nessa encruzilhada de um fala e outro fala, com ataques e cutucadas, o prefeito Dudy se recolhe na sua fé, devoção e boa temperança. É preciso que se note como positivo isso num gestor, todavia, isso não o isenta de ser mais participativo e decisivo com o que deve ser, por dever e direito, como prefeito que está com a caneta na mão.
Na entrevista do começo desse mês, Antônio Colonnezi volta a falar em tom de ruptura mesmo, diferente daquele tom adotado no mês de maio.
“Criou-se uma situação curiosa na prefeitura de Ipirá, o sujeito vai lá e ele (gestor) pede para ir na sala de ‘fulano’, pede pra falar com ‘fulana’. Ele não resolve as coisas, passa para terceiros, o que a meu ver constitui-se uma coisa desconfortável para o eleitor, porque o eleitor votou nele (gestor) e não em A ou B, mas sempre quem resolve as coisas são outras pessoas a quem ele delega poderes. Disso daí nasceu uma candidatura extemporânea, não era tempo para isso. Isso começou desde o primeiro dia desse governo”, externou Colonnezi.
Indagado sobre o balanço que faria da gestão, ele disse que pediria desculpas à população de Ipirá, que durante a campanha os candidatos prometem tudo e poucos conseguem cumprir tudo. “Uns cumprem uma parte e outros menos ainda. O atual gestor dizia todos os dias em praça pública e nas pequenas reuniões, que a cada três meses ele iria publicar o balancete de tudo o que chegou a Ipirá e tudo o que saiu. Dizia que ele era uma pessoa independente, não precisava de prefeitura. Essa era a mensagem que ele passava para os eleitores. Ele disse um dia numa reunião que sua empresa faturava 80 milhões por ano. Ótimo, mas achei que ali não era momento para dizer aquilo para a população”, confessou.
O caldo entornou nesse intervalo de pouco mais de três meses. Na entrevista desse mês, Colonnezi afirmou que nunca foi consultado pra nada e que foi algumas vezes à prefeitura, pedir para que o hospital funcionasse, que o município entrasse no programa da lista única de cirurgias pelo estado. “A saúde de Ipirá agora é em Ruy Barbosa e Itaberaba, por lá é onde se resolve tudo ou quase tudo”, pontuou. Ele ainda afirma que, junto com ele, a vice-prefeita foi alijada de qualquer decisão na prefeitura. Posição essa, já reforçada pela vice-prefeita, Nina Gomes.
Entrevista com Dudy
Em conversa no formato podcast, num programa do vereador Jaildo do Bonfim, no dia 14/09, Dudy manteve seu padrão comedido com as palavras e reafirmou sua posição sobre a reeleição a que tem direito. “Já disse às pessoas que sou a favor da alternância de poder. Já dei minha contribuição, vou fazer 60 anos no próximo ano, estou mostrando para o povo que sou desapegado ao poder. Devo demais a essa terra. Antigamente eu queria ser médico ou advogado, porque aqui revezava muito nisso, e Deus colocou um padeiro e vendedor de fumo (como prefeito), amanhã pode ser um pedreiro, carpinteiro, uma profissão qualquer. Nós quebramos essa hegemonia (advogado e médico).
Ao final do programa, o vereador Jaildo do Bonfim trouxe a seguinte frase para reflexão: “a ingratidão fecha as portas, a gratidão abre todas elas”. Logo após, Dudy complementou: “o maior sentimento do ser humano é a gratidão. O ser humano ingrato é digno apenas de um bom dia, boa tarde e boa noite. Tudo o que se planta aqui, você colhe aqui. Por isso tem que colocar tijolinho por tijolinho aqui, pra ver se o Criador fala que merece estar lá em cima”.
Nessa conjuntura de momento, eis que surge uma questão importante a tratar, principalmente depois do rescaldo oriundo dos 6.094 votos de diferença na eleição de 2020, quando o atual gestor Dudy desbancou Marcelo Brandão da reeleição. Quem serve mais a quem nesse panorama? Os insurgentes jogados para escanteio (Antônio e Nina) à bússola (Luiz Carlos) da trupe combalida, ou o contrário? Aqui é mais fácil dizer que calhou a situação de ambos para o enlace, do que propriamente acertar porque razão tão determinante, o grupo no governo não chegou a um consenso pela pré-candidatura única. Por outro lado, há uma corrente forte a favor da gestão, que segue alinhada com lideranças e cargos nas esferas estadual e federal, anunciando obras e recursos a serem investidos na cidade.
A título de comparação, o governo Marcelo Brandão caminhou sem a ajuda maciça do governo estadual, essa era uma queixa recorrente. Seu governo também sofreu grande desgaste e uma série de crítcas, apostou na reeleição e perdeu de forma clamorosa. A verificar o que pode acontecer com o grupo que está no governo, que apesar do apoio a nível estadual e federal, deixa escapar quem tem serviços prestados e influência que pode ser decisiva na hora do vamos ver.
Obviamente, nada do que aí está é conclusivo. Mas ficaria algo ainda mais inominável e esquisito, qualquer movimento que remanejasse essa turma de novo. Cada qual ficaria no seu cada qual, mas seria algo para arregalar mais ainda os olhos, principalmente depois das entrevistas sem filtros concedidas de maio até aqui.
É aquela história de que ninguém se banha duas vezes nas águas do mesmo rio, como disse Heráclito. Isso significa dizer que a realidade está em fluxo contínuo, e os mesmos rios nunca terão as mesmas águas. Há uma constante renovação. A flexibilidade nos novos arranjos entre pessoas, já quebra essa rigidez de associação a grupo A ou B, há um bom tempo. A história conta isso. Essa não é uma grande novidade na política de Ipirá, o próprio Diomário, que foi considerado um marco administrativo em seu tempo, experimentou esse “salto” entre grupos antes da glória.
Porém, para os mortais eleitores de Ipirá, a definição de jacu e macaco resiste. Nem sempre é uma resistência colocada por vontade própria, é do sistema. E como já dizia o bom poeta, o sistema é bruto, e ainda é cedo para fazê-lo sucumbir, por mais que pessoas diferentes surjam como alternativas, terceiras vias se apresentem, e grandes nomes migrem de grupo por motivos nem sempre bem justificados.
Entrevista com Jota Oliveira e Neto Carigé
Como a democracia pede, é válido relatar aqui trechos de outros dois pré-candidatos em entrevistas ao portal Ipirá City, Jota Oliveira e Neto Carigé. O primeiro, sobrinho do ex-deputado Jurandy Oliveira, já esteve como prefeito, através de uma eleição indireta, por aproximadamente cinco meses, e se lançou candidato a deputado federal em 2022. O segundo é um jovem empresário que faz elogios à escola do ex-prefeito Luiz Carlos, e alimenta o sonho de ser prefeito. Seu falecido pai, o advogado Emerson Carigé, já foi vereador no município, no final da década de 80.
Jota vê com otimismo os nomes dos pré-candidatos, diz que teve uma conversa com algumas lideranças do grupo (jacuzada), e que conversou também com Luiz Carlos sobre o anseio de colocar seu nome para uma futura apreciação da população. “Ele achou que é legítimo, assim como as outras pessoas com quem eu tenho conversado também. Daí tomamos essa iniciativa, e vamos viabilizar, conversar com as pessoas e mostrar o que pensamos e queremos para Ipirá, porque acredito muito nessa terra”, disse.
O também ex-prefeito preza pela sobriedade no trato com as pessoas, no que tange aos problemas a serem enfrentados. “Não poderia me furtar de levar essas ideias e colocar mais uma opção. Acredito muito na candidatura que nasce do povo, que nasce de baixo, da base pra cima. Essa candidatura se sustenta. Vou conversar com eleitores dos dois grupos, da terceira via na última eleição, e vou tentar de todas as formas viabilizar e tornar meu nome competitivo para disputar a eleição de Ipirá. Sei que pela capacidade e pelo conhecimento que tenho, estou preparado para isso, mas isso só não basta. A gente precisa transferir para as pessoas a confiança para que confiem, e graças a Deus eu tenho essa resposta da população de Ipirá. Na última eleição para deputado federal, eu fui o terceiro mais votado aqui. Essa linha do político que promete tudo e não realiza nada, já acabou. A gente precisa falar do que é verdadeiro. A pessoa que vier para uma candidatura e prometer mundos e fundos, tá claro que não vai acontecer. Ou ela não conhece nada de gestão, não conhece nada do município de Ipirá, ou está querendo simplesmente enganar o povo. Sei das minhas limitações, mas também sei do meu potencial”, assegurou Jota.
Neto Carigé concedeu a entrevista mais recentemente. “Muitas vezes a política de Ipirá, a política nacional e a estadual, nos deixa um pouco decepcionado. Mas se as pessoas boas não se envolverem na política, se a gente se omitir, aqueles ruins que já estão, vão tomar conta e nunca vai acontecer uma renovação política”, alertou.
“Motivado pela vontade de mudar, de ver a minha terra crescer, que eu decidi lançar o meu nome. Porém, quero deixar umas ressalvas: decidi lançar meu nome dentro do meu grupo, porque tenho vontade de participar da política, tenho um sonho de ser prefeito, me sinto preparado, porém, não vou ser problema para uma composição que seja baseada em projetos, propostas, e que haja uma aliança realmente em prol de Ipirá. Como falei, Luiz Carlos é um exemplo de prefeito, só que hoje Ipirá precisa superar a gestão de Luiz Carlos. Ipirá precisa de uma gestão moderna, de muito mais. Ipirá tem condições pra isso e precisa de um prefeito, ou de uma prefeita, para fazer por Ipirá, e de ficar não apenas quatro, mas, sim, oito anos governando. Estou munido dessa vontade para entrar na política, se o povo entender que eu devo representá-lo agora. Caso contrário, ajudarei como cidadão”, pondera Neto.
Assim começa mais um capítulo da história política de Ipirá, com uma proposta de inovação dentro de um grupo aberto, mas com nomes resistentes, e com história, cobrando espaço. Por outro lado, uma liderança adepta de uma junção improvável, o cabeça de um grupo que sempre prestigiou o núcleo familiar nas candidaturas, e agora busca soerguimento depois da maior derrota sofrida em disputa para prefeito. Ainda tem nomes alternativos, para quem, de repente, ache que é uma aposta válida, depois de sucessivos desencantos com governos que, na ótica de cada um, não corresponderam. Esse é o quadro de momento em Ipirá, prestes à chegada de um ano eleitoral, mais uma vez, com muita expectativa.
Por Diogo Souza, jornalista e advogado/midiaipria.c\blogspot