A ONU anunciou o uso de robôs para cumprir funções de cuidado à Saúde. Em entrevista, o pesquisador William Waissmann reflete sobre os descaminhos das inovações tecnológicas, que hoje servem basicamente à acumulação de capital
Por Alessandra Monterastelli – Sexta, 10 de fevereiro de 2023
William Waissmann em entrevista a Alessandra Monterastelli
Na última semana, a Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou a apresentação de oito robôs humanoides em uma cúpula global sobre Inteligência Artificial (IA) marcada para julho em Genebra, na Suíça. Entre as tarefas executadas pelos robôs estaria a de cuidados à saúde, como possíveis enfermeiros. Em comunicado, Doreen Bogdan-Martin, nova secretária-geral da União Internacional de Telecomunicações (ITU/ONU), disse ser do interesse coletivo “moldar a inteligência artificial mais rapidamente do que ela nos molda”.
Apesar do objetivo da cúpula ser mostrar como a inteligência artificial pode auxiliar na luta contra a crise climática e o apoio à ação humanitária, ainda restam algumas importantes questões em aberto, como se haverá um financiamento público para as tecnologias e se robôs que cumpram as funções de humanos sejam, de fato, necessários nesse caso. Ativistas em prol do meio-ambiente, por exemplo, têm se manifestado continuamente para que países e empresas responsáveis pela emissão de poluentes tomem ações imediatas para conter o avanço da crise. No caso da Saúde, sanitaristas têm reforçado a necessidade de investimento na Atenção Básica, com a qualificação de profissionais junto com novas possibilidades de carreira dentro do sistema público.
Em entrevista para o Outra Saúde, William Waissmann, médico e pesquisador sênior da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), especializado em impactos de nanomateriais, nanomedicina e nanotoxicologia afirmou que a IA é “fruto do que ocorre no mundo e responde a isso”, e questiona: o que é realmente necessário para as grandes maiorias?
Fique com a entrevista completa.
Ao ler a matéria, você comentou que é cético em relação à possibilidade de que a IA “está nos moldando”. Por que?
Meu ceticismo diz respeito à expectativa dela [Doreen Bogdan-Martin] de que nós poderemos moldar, de alguma forma, a Inteligência Artificial sem que esta nos molde. Nós a moldamos e ela nos molda e precisamos entender qual o processo envolvido nisso. Desde a Revolução Industrial, temos um processo em que a grande maioria das pessoas são moldadas a partir do domínio dos instrumentos e meios de produção. Isso vem se acelerando cada vez mais, através da miniaturização dos instrumentos até o controle dos espaços e dos tempos. Progressivamente, os processos são mais controlados. A uberização é isso, a pessoa na realidade está na mão de um processo de comunicação informacional – onde os instrumentos são todos seus, os meios são todos seus, mas os gastos com esses meios também são todos seus.
Fonte: outrasplavravras.net