GUARULHOS, SP (FOLHAPRESS) – Depois de registrar temperaturas recorde e ondas de calor extremo que deixaram centenas de mortos, a província canadense da Colúmbia Britânica foi atingida nos últimos dias por chuvas intensas que acarretaram inundações e levaram as autoridades a decretar, nesta quarta-feira (17), estado de emergência por duas semanas.
Até o momento, foi confirmada a morte de uma mulher em um deslizamento de terra, mas o governo local disse que novas mortes devem ser registradas nos próximos dias. Tradicionalmente agrícola, a província perdeu milhares de animais nas inundações, segundo a ministra local da Agricultura, Lana Popham, que descreveu o evento extremo como um “desastre agrícola”.
Ao anunciar o estado de emergência, o governo local informou que cerca de 17,7 mil pessoas foram evacuadas devido às consequências das enchentes. Há também preocupação de possível desabastecimento e alta nos preços nas próximas semanas, devido ao impacto sentido pelas cadeias de suprimentos, já afetadas pela pandemia de coronavírus.
O premiê da Colúmbia Britânica (cargo semelhante ao de governador), John Horgan, afirmou que as chuvas devastaram comunidades inteiras e destacou o aumento da ocorrência de eventos climáticos extremos na província. “Estes eventos estão aumentando em frequência devido aos efeitos da mudança climática provocada pelo homem.”
As fortes chuvas na região têm sido causadas por um rio atmosférico, corredor estreito de umidade concentrada. Ao jornal britânico The Guardian, o cientista Jeff Masters descreveu o fenômeno como “um rio no céu que atua como um cano transportando grandes quantidades de vapor d’água”.
A inundação decorrente das chuvas, porém, têm origem no manejo local das florestas e nos recentes incêndios florestais. Especialistas têm alertado que o corte raso de madeira altera a capacidade do solo de reter a água das chuvas. Sem árvores, as chuvas fortes levam grandes quantidades de sedimentos para riachos, fazendo com que eles transbordem rapidamente.
“Nos últimos dias, estive observando as áreas que foram particularmente afetadas e isso coincide com algumas das comunidades que foram mais exploradas”, disse Peter Wood, autor de um relatório recente sobre a relação entre o manejo florestal e os impactos climáticos na Colúmbia Britânica, ao Guardian.
A ausência de cobertura florestal aumenta ainda o risco de deslizamentos de terra, algo intensificado com os incêndios florestais do verão. “A queima de muitas árvores, grama e arbustos, deixa menos coisas vivas para interceptar a água, que simplesmente flui diretamente colina abaixo”, explicou o guarda florestal Thomas Martin.
O governo do Canadá mobilizou o exército para ajudar no resgate da população bloqueada. O premiê Justin Trudeau, recentemente reeleito para o cargo, descreveu as inundações como “históricas e terríveis”. Ele está na capital dos EUA, Washington, para uma reunião com o presidente americano, Joe Biden, e o mexicano, Andrés Manuel López Obrador.
Há pouco mais de um mês, o país norte-americano teve eleições gerais que foram dominadas pela emergência climática. Sucessivas pesquisas de opinião demonstraram que a principal preocupação dos moradores levada em conta na hora de votar era a crise do clima.
A predominância do tema não foi sem motivo: o Canadá teve neste ano um dos verões mais quentes de sua história, com ondas de calor extremo que deixaram centenas de mortos. Em julho, a pequena cidade de Lytton, na Colúmbia Britânica, registrou o recorde de temperatura da história do país: 49,6°C.
Dados atualizados da província mostram que, somente no ano fiscal de 2021–iniciado em 1º de abril–, 1.634 foram registrados no território, destruindo uma área total de 870 mil hectares.
Fonte: Notícias ao Minuto/Foto: Giorgio Perottino / Reuters