A Polícia Civil negou que tenha havido casos de execuções entre os 24 suspeitos mortos, nesta quinta-feira (6), no Complexo do Jacarezinho, zona norte do Rio. Segundo delegados que participaram diretamente da operação, os suspeitos morreram em decorrência do confronto com os policiais.
Durante a ação, o agente civil André Leonardo de Mello Frias, de 45 anos, lotado na Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), foi morto com um tiro na cabeça quando desembarcava de um veículo blindado.
Foi a operação policial mais letal na história do estado. O objetivo era desarticular uma quadrilha de traficantes que aliciava menores de idade – alguns com apenas 12 anos – para o mundo do crime. Além disso, eles estavam envolvidos em outros crimes, incluindo sequestros de trens que passam pela comunidade.
O delegado Fabrício Oliveira, chefe da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), unidade especial da Polícia Civil, contou que os confrontos se estenderam por toda a comunidade e os criminosos invadiram as casas dos moradores, o que forçou os policiais a entrarem nas residências. Porém, ele negou que tenha havido execuções de suspeitos.
“Negativo [não houve execuções]. A polícia cumpre rigorosamente a lei. O policial tem todo o dever de se proteger, se defender. E a polícia atua somente em legítima defesa. Em todos os casos, e eu estava presente pessoalmente na operação, em que houve confrontos dentro de casas. Foram casas que foram invadidas por criminosos e os moradores estavam acuados”, declarou.
Outro delegado que participou diretamente da ação, Felipe Curi, diretor do Departamento de Polícia Especializada, também frisou que não houve execuções por parte dos policiais e que os mortos foram abatidos por resistirem e atirarem contra os agentes.
“A única execução que houve na operação foi a do policial, infelizmente. Esse foi realmente executado, friamente, pelos traficantes. As outras mortes que aconteceram, infelizmente, foram de traficantes que atentaram contra a vida dos policiais, houve a resposta e acabaram neutralizados. É simples assim”, disse Curi.
Ativismo judicial
O subsecretário Operacional de Polícia, delegado Rodrigo Oliveira, criticou a legislação que impede as operações policiais em comunidades durante a pandemia, a não ser em casos de excepcionalidade, aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e disse que isto tem dado força aos criminosos, que passaram a agir livremente nesses locais.
“Não tem endereço no estado do Rio em que a Polícia Civil não se faça presente. Nós iremos a qualquer lugar, usando todos os meios disponíveis, dentro da legalidade, dentro das normas impostas pelo STF. De um tempo para cá, por força de um ativismo judicial, a gente foi, de alguma forma, impedido ou teve dificultada a atuação da polícia em algumas localidades. O resultado disso é o fortalecimento do tráfico. Parte desse ativismo, que orienta a sociedade em uma direção, não está do lado da Polícia Civil ou da sociedade de bem. O interesse deles são outros. O sangue desse policial que faleceu hoje, em prol da sociedade, de alguma forma está nas mãos dessas pessoas. Dessas entidades ou de quem quer que seja”, disse Oliveira, que depois negou estar falando do STF.
Com os suspeitos mortos, a polícia apreendeu 16 pistolas, seis fuzis, uma submetralhadora, 12 granadas, uma escopeta, uma grande quantidade de munições, drogas, cadernos de anotações do tráfico e até uma peça de artilharia de canhão.Dos 21 mandados de prisão da operação Exceptis, três foram cumpridos e outros três investigados acabaram mortos.
Comissão Arns critica operação policial que terminou com 25 mortos no Rio
A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, conhecida como Comissão Arns, divulgou na noite desta quinta-feira, 6, nota com “seu mais veemente repúdio” à operação realizada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro na favela do Jacarezinho.
“É inaceitável que esta chacina aconteça em meio à pandemia”, afirma o texto. “O que se está vendo no Rio – uma ação desastrosa contra centenas de pessoas, autorizada pelo atual governador, Cláudio Castro, sob o pretexto difuso de investigar o aliciamento de crianças e jovens pelo tráfico de drogas – configura claramente uma situação de violência do Estado, inspirada por instintos sádicos e executada com grande brutalidade. Corpos ensanguentados estão nas ruas e becos do Jacarezinho, casas foram invadidas, celulares confiscados, moradores vivem horas de desespero. É preciso reagir à matança!”, segue a nota.
“Que o governador do Rio, empossado há apenas cinco dias, assuma responsabilidades nesta malfadada operação. Que as autoridades competentes garantam a preservação dos locais onde as mortes se deram. Que o trabalho de perícia do IML seja feito dentro dos critérios técnicos exigidos, sob o olhar vigilante de toda a sociedade. E que a decisão do STF, suspendendo essas operações, seja plenamente respeitada”, conclui a Comissão Arns.
Fonte: Correio