Jovens denunciam racismo em loja na Calçada e defesa contesta tipificação do crime

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Por Bahia Noticias – As vítimas são os primos Yuri Silva, 23, e Gabriel Silva, 20. Eles contam que foram à loja para comprar um suspensório para o filho de Gabriel, que nasceu há dois meses. Enquanto conversavam com um funcionário da loja, a gerente do espaço, Alzinete Joaquim, teria avisado ao segurança, Ramon Silva Paim, que um assalto estava acontecendo. 

Primos denunciaram racismo | Foto: Arquivo pessoal

“A gente não estava entendendo nada. Depois que a gente veio ver o que era. O segurança falou que a gerente disse que estava tendo um assalto em andamento. Por isso os policiais chegaram daquele jeito. Não estou desfazendo da abordagem dos policiais”, conta Gabriel, em entrevista ao Bahia Notícias.

“Nos chamaram de vagabundos. Mas eles chegaram por conta da informação de que estava tendo um assalto em andamento. Não tiro a razão deles. Eles poderiam ter chegado atirando. A gente saiu. Revistaram a gente. Eu intercedi e perguntei o motivo da abordagem. Não era de rotina. O policial me explicou. O segurança sinalizou duas vezes. Eles disseram que estava tendo um assalto em andamento”, acrescenta.

De acordo com Yuri, sem saber de nada, ele mesmo avisou à gerente que os policiais estavam em frente ao estabelecimento revistando o funcionário, que foi abrir a porta para receber os agentes. 

“Quando ele foi abrir o portão [o funcionário] já foi abordado pelos policiais. Eu fui e avisei a gerente que estavam abordando o funcionário. Ela disse: ‘vamos lá ver’. Eu não sabia de nada”, relembra.

Quando se deram conta do que estavam acontecendo, o segurança argumentou que recebeu pelo celular uma mensagem de Alzinete pedindo para chamar a polícia. “O segurança mostrou mensagem pro policial dizendo que teve um código pra avisar. E ela ficou lá dizendo que não”, narra Yuri.

DEFESA CONTESTA POLÍCIA
Um dos advogados que defendem os jovens, Osmar Palma indicou que eles devem voltar nesta quinta-feira (27) à delegacia para serem novamente ouvidos. Isto porque o delegado do caso teria sinalizado que o crime seria tipificado como calúnia. 

“A gente vai pedir para aditar o boletim de ocorrência para não ficar apenas o crime de calúnia, mas os crimes de racismo e calúnia”, explica o defensor. 

Segundo ele, há crime de racismo no caso, pois “eles foram impedidos de praticar um direito, sobretudo foram impedidos de comprar na loja”. 

A defesa dos rapazes também acionou a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), pasta vinculada ao governo do estado, e também pediu que o Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) apure o caso.

EXPERIÊNCIA TRAUMATIZANTE

Gabriel disse que a gerente também é negra e lamentou que ela tenha os confundido com bandidos. “Eu pergunto: se fossem duas pessoas brancas na loja ela chamaria a polícia?”, indaga. “Ela não chegou a olhar para mim e nem pedir desculpas”, acrescenta.

Yuri disse ter tido dificuldades para dormir após o episódio. “No outro dia eu nem consegui dormir. Acordei 3h da manhã. Não consegui pregar os olhos. Passou muito perto de eu tomar um tiro pelos policiais pelo fato de eles acharem que eu estava armado. Fiquei receoso de armarem algo para mim. Foi revoltante”, lamenta. 

QUEIXA NA DELEGACIA
Após o episódio, os jovens contam que foram aconselhados pelos policiais a prestarem queixa. “Saímos de lá naquela humilhação. Teve um momento que ficou parecendo que nós éramos os acusados e nós éramos as vítimas”, indigna-se Yuri.

O BN teve acesso ao boletim de ocorrência feito na 3ª DT, no Bonfim. O documento narra que os seguranças solicitaram intervenção policial na loja. O B.O., contudo, não versa explicitamente sobre a atribuição da gerente na história, embora ela tenha cito citada no boletim.

O QUE DIZEM OS CITADOS
O Bahia Notícias tentou por dois dias seguidos contato com os responsáveis pelo Espaço do Bebê. Na última terça-feira (26), uma funcionária disse desconhecer o episódio e informou que a gerente, Alzinete, não estava no momento.

Nesta quarta, a reportagem entrou em contato novamente com o estabelecimento. Uma funcionária novamente informou que Alzinete não estava no momento, mas repassou o contato uma mulher de prenome Cleonise, que seria a responsável pela loja. Ela não atendeu às ligações da equipe de reportagem.

Em nota, a PM-BA afirmou que “a tipificação do crime é de competência da Polícia Civil na pessoa do delegado de serviço. A Polícia Militar tem como competência o policiamento ostensivo (uniformizado) e realiza a condução dos envolvidos nas ocorrências para o enquadramento na delegacia”.

A Civil, por sua vez, afirmou, em comunicado, que a 3ª DT/Bonfim apura as circunstâncias da denúncia. “Conforme apurado inicialmente, uma guarnição da PM foi acionada por populares e encontrou a porta da loja trancada com dois clientes, que foram conduzidos à delegacia com uma gerente e um segurança do estabelecimento comercial. Todos serão ouvidos para que o fato seja esclarecido”, esclarece a corporação, em trecho da nota.

Previsto no código penal brasileiro, o crime de calúnia tem pena prevista de seis meses a dois anos de prisão, além de pagamento de multa. Já o crime de racismo, ao contrário da injúria racial, é inafiançável e imprescritível, e prevê reclusão de um a três anos, e multa. 

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