À CNN, a diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do Instituto do Coração, Jaqueline Scholz, afirmou que é preciso desconstruir a mentira de que os cigarros eletrônicos representam riscos menores do que os convencionais
Uma campanha que apresenta excelentes resultados ao longo de 35 anos, o Dia Mundial sem Tabaco, celebrado em 31 de maio, se depara com um novo desafio: o cigarro eletrônico. A data foi estabelecida pelos países que integram a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1988.
De lá para cá, o número de fumantes caiu drasticamente no Brasil. Na época, 35% dos brasileiros fumavam, índice que caiu para 9% segundo a diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do Instituto do Coração, Jaqueline Scholz.
Em adolescentes, a taxa de iniciação no cigarro convencional oscila entre 6% e 7%, mas a preocupação maior passou a ser com o tabagismo eletrônico, que hoje faz parte da rotina de 5% desse grupo, também de acordo com a cardiologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
“A indústria, quando viu que o cigarro convencional era um produto morto do ponto de vista de marketing, pensou em alternativas”, afirmou Jaqueline Scholz em entrevista à CNN, alegando que os narguilés passaram a atrair jovens por seus diversos sabores e pela falsa ideia de que eram menos nocivos à saúde.
“Agora a indústria transferiu esse conceito para o cigarro eletrônico. O convite é sempre o mesmo para que a pessoa entre em contato com a nicotina, que é uma substância altamente viciante. E dessa brincadeira de experimentar sabores diferentes, quando você vê já está viciado.”
A professora alega que então, por dificuldades financeiras de acesso ao cigarro eletrônico, o cigarro convencional passa a ser uma alternativa. Do ponto de vista substancial, a diferença é que o tabagismo eletrônico não contamina os pulmões de seus usuários com monóxido de carbono, mas proporciona um nível de nicotina que assustou a médica.
“Eu arrepio meus cabelos, porque dosei nicotina na urina de usuários de 13 e 14 anos e nunca tinha visto – em 30 anos de combate ao tabagismo – garotos dessa idade com nível de nicotina no sangue equivalente a quem fuma 20 cigarros”, relata Jaqueline Scholz. “Como eu posso acreditar que isso é uma política de redução de danos? Isso é uma política de incorporação de dependência intensa e rápida, é um absurdo.”
A diretora do Programa de Tratamento do Tabagismo do Instituto do Coração lembrou que, embora altamente viciante, há hoje métodos e tratamentos para largar o cigarro em até três meses.
Jaqueline Scholz recomenda que fumantes que querem abandonar o vício procurem especialistas, que podem oferecer técnicas para descontinuar o hábito, aliadas a medicamentos para a abstinência.
Com produção de Bel Campos.