Letras clichês e uso de corretores de voz deixaram o EP da ex-BBB monótono e é considerado ruim por especialistas
Domingo, 5 de setembro de 2021
FOLHAPRESS – Entre as marcas da passagem de Juliette Freire pela última edição do Big Brother Brasil estão os momentos em que ela cantou com outros participantes.
A vencedora do programa viralizou “Deus me Proteja”, de Chico César, e soltou a voz em “Sozinho”, conhecida na voz de Caetano Veloso, além de cantar com o sertanejo Rodolffo, dupla com Israel, que também esteve no BBB.
Com o sucesso da paraibana no programa, o caminho natural era que ela desse início a uma carreira na música. Antes mesmo do EP “Juliette”, lançado no streaming nesta quinta (2), ela já cantou em lives de Gilberto Gil, Elba Ramalho e Wesley Safadão, uma indicação do caminho artístico que pretende seguir.
De certa forma, “Juliette” soa exatamente com o que se espera dela. A advogada e maquiadora passeia por canções baseadas no forró, mas que têm um pé na MPB e outro no sertanejo. São baladas, lentas, tudo excessivamente fofo e tecnicamente bem executado, sem espaço para nenhum tipo de surpresas.
Até no jeito de cantar, Juliette soa certinha demais. O tratamento da voz com Auto-Tune –prática comum em praticamente todos os discos lançados hoje em dia–, não é nem tão pesado para soar como artifício sonoro, nem leve o suficiente para passar imperceptível. Isso também contribui para deixar as performances ainda mais sem alma.
O que fornece alguma identidade ao primeiro lançamento musical de Juliette são as letras, repletas de referências à cultura nordestina. Esses símbolos se tornaram a marca dela em sua passagem pelo BBB e depois dela.
Na romântica “Vixe que Gostoso”, um quase arrocha com violões, ela só quer ficar de “chameguinho” com o parceiro. Em outra balada romântica, “Diferença Mara”, Juliette celebra um romance entre pessoas que não têm tanto a ver, mas possuem uma química rara. “Eu sou do Nordeste, ele é do Sul/ Prefere rap e eu sou mais Gadú/ Ele vem de bicicleta, eu que nunca fui atleta”, ela canta.
O EP também está repleto de frases que são populares nas redes sociais, como “já estou com a roupa de ir” e “nunca foi sorte, sempre foi Deus”. Em “Sei Lá”, guiada por violões quase cristalinos de tão limpos, espécie de mistura de Anavitória com Armandinho, Juliette se vê confusa com uma paixão.
“Benzin” é um xote arrastado cuja melodia lembra uma versão sonolenta de “100 Anos”, do Falamansa. Já “Doce”, composta pela amiga Anitta –em parceria com Mãozinha e Umberto Tavares, que já assinaram hits de Ludmilla, Luan Santana e da própria Anitta–, é ainda mais açucarada do que o título sugere, em que gritos de “ei!” surgem como suspiros de criatividade perdidos e deslocados em meio à monotonia do EP. “O mel da sua boca é mais doce que o doce de batata doce”, Juliette canta.
Há ainda “Bença”, escrita pelos paraibanos Dann Costara e Zé Neto –que também assinam “Diferença Mara”–, retomando temas da faixa anterior, conforme ela canta que “rapadura é doce, mas não é mole não”. Em meio a arranjos de sanfonas, a cantora diz que vem do sertão, onde o “coco é seco demais”, e que “o preconceito eu como com farinha”, levando no peito “a oração de mainha”.
Quando evoca referências ao Nordeste, Juliette naturalmente se apoia na representatividade que foi determinante para o seu sucesso na TV. Musicalmente, evoca uma tradição mais clássica da música nordestina, fazendo uma versão pasteurizada do forró pé de serra que nada tem a ver com a ideia de modernização e evolução estética sugerida pelas inovações eletrônicas da pisadinha –a música feita no Nordeste que hoje domina as paradas.
Pouco criativo, “Juliette” é um retrato da ex-BBB em sua zona de conforto, em algum ponto morto entre o sentimentalismo exacerbado do brega e a sutileza da MPB mais alinhada à bossa nova. O EP, na verdade, conversa com a faceta mais inofensiva e careta que o pop brasileiro pode oferecer.
Se os cactos –como são conhecidos os fãs da cantora– tiverem a mesma empolgação para ouvir o EP que tiveram para votar na permanência de Juliette no BBB, não é difícil imaginar que essas músicas figurarão entre as mais ouvidas do país. Se quiser fazer da música uma carreira perene e relevante, contudo, Juliette vai precisar de mais do que alguns compositores de hits e uma voz afinada.
JULIETTE
Quando: Quinta (2)
Onde: Nas plataformas digitais
Autor: Juliette Freire
Gravadora: Virgin
Avaliação: Ruim
Fonte: Notícias ao Minuto