Juliana Elias, do CNN Brasil Business
em São Paulo24/09/2021 às 04:30
Para que a inflação, atualmente na faixa dos 10%, volte rapidamente para baixo dos 4%, o Banco Central teria que subir os juros para mais de 10% ainda neste ano e o país teria que ter um crescimento ainda menor do que o já esperado para o ano que vem, beirando ou até caindo na recessão.
De acordo com estimativas feitas pelo economista Livio Ribeiro, pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), a Selic, hoje em 6,25%, teria que saltar para os 13% até dezembro para que o BC conseguisse cumprir a tarefa de colocar a inflação de volta na meta, de 3,5%, até o fim de 2022.
Juros de 13% agora, por sua vez, teriam um efeito ainda mais recessivo sobre o crescimento da economia nos meses à frente. Como resultado, o Produto Interno Bruto (PIB) de 2022 – que já está vendo as projeções minguarem para perto do 1% – com sorte ficaria no zero.
“O crescimento do ano que vem seria algo em torno de zero, podendo até ser negativo”, disse Ribeiro.
Ou seja, seria necessário congelar completamente a economia e a renda das pessoas para que os preços pudessem voltar a cair em um horizonte de tempo desse tamanho.
As contas do economista replicam o modelo estatístico de projeções utilizado pelo Banco Central para estimar a taxa de juros ideal do país e tomar suas decisões em relação a ela.
Maior aumento em duas décadas
O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC confirmou na quarta-feira (22) a quinta alta consecutiva da Selic, para 6,25%, e já informou que, na próxima reunião, em outubro, deverá fazer mais um incremento de 1 ponto, para 7,25%. Já é o ciclo mais acelerado de alta dos juros das últimas duas décadas no país.
Com dados de inflação que não dão alívio, os economistas projetam que a Selic ainda continuará subindo em 2021 até os 8,25% e, em 2022, chegará aos 8,5%, de acordo com a média das projeções de mercado compilada semanalmente pelo BC no Boletim Focus.
Muitos bancos e casas de análise, porém, já falam de uma Selic passando dos 9% nos primeiros meses do ano que vem, para então se estabilizar nesse patamar.
Inflação (muito) acima da meta
Nos 12 meses até agosto, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação do país, acumulou alta de 9,7%. Até o fim do ano, pelas projeções do Boletim Focus, não deve cair para menos de 8%.
De uma forma ou de outra, são resultados acima da meta de inflação para o ano, que era de um alvo de 3,75% com uma margem de tolerância de 1,5 ponto para mais ou para menos. Quer dizer, a função do BC era te-la mantido entre um piso de 2,25% e um teto de 5,25%.
Para 2022, o centro da meta é 3,5%, com a tolerância entre 2% e 5%. Dados os altos níveis de agora e os vários choques de preços que ainda persistem, nem no ano que vem a inflação alcançará o alvo da meta: as projeções coletadas pelo Boletim Focus indicam agora o IPCA a 4,1% até o fim de 2022.
Fonte: CNN Brasil / Foto: Inflação chegou a quase 10% em agostoDavidson Luna/Unsplash