Em entrevista ao Jornal da Metropole, infectologista fala sobre fim da pandemia e novos surtos de outras viroses
Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretava uma nova pandemia do novo coronavírus. Naquele momento, os mais otimistas comemoravam o cancelamento das aulas por duas semanas ou o home office compulsório. Mais de dois anos depois, tendo passado por ondas e ondas de Covid-19, finalmente demos adeus às máscaras – ou estamos em processo de adeus.
Há exato um mês, o governo da Bahia decretou o fim da obrigatoriedade do uso de máscara em ambientes abertos e fechados, exceto nas unidades de saúde. Dessa vez, os otimistas estavam certos: o número de novos casos de Covid-19 chegou a diminuir depois do anúncio do decreto. Ainda não podemos afirmar que é o fim da pandemia, mas o infectologista Robson Reis considera que em nosso país estamos em uma fase “controlada”. “Quando se fala pandemia, é algo que ocorre no mundo inteiro. Nós temos situações epidemiológicas diferentes no mundo”, explica o professor da Escola Bahiana de Medicina, ao justificar que a classificação de pandemia deve ser feita apenas pela OMS.
Em outros países, a Covid-19 ainda amedronta, principalmente pela baixa cobertura vacinal. “Alguns países não têm nem 20% da população imunizada”, afirma Reis. Nesses lugares, o vírus continua circulando livremente, aumentando também a chance de surgirem novas variantes. Segundo o infectologista, essas mutações podem, no futuro, serem capazes de “furar a imunidade” que adquirimos com a vacinação.
Ainda assim, por aqui, a sensação é de que o medo da Covid-19 está se dissipando. No setor hoteleiro, por exemplo, já se comemora o retorno da ocupação de hotéis aos níveis pré-pandemia. “A taxa de ocupação de abril deste ano já foi no mesmo patamar de 2019, ligeiramente até superior”, afirma Luciano Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – seção Bahia (ABIH-BA).
Para Lopes, a desobrigatoriedade do uso de máscaras ajudou nessa maior ocupação, mas o processo de retorno do turismo vinha se desenvolvendo desde antes do decreto de 12 de abril. “A gente vinha em um quadro evolutivo, tendo queda de casos, sobretudo por causa da vacina, e isso foi aumentando o turismo no estado”, considera.
Nos bares e restaurantes, o movimento ainda não é o mesmo do período anterior à pandemia. De acordo com Leandro Menezes, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes – Bahia (Abrasel-BA), a Bahia ficou para trás nessa recuperação. “Muitos estados já retornaram a esse patamar, mas aqui ainda não. A gente acreditava que com a retirada das máscaras isso viesse a acontecer, mas aí veio esse problema todo da segurança pública”, explica ao relembrar a série de arrastões a bares que aconteceram em Salvador nas últimas semanas.
Além disso, Menezes considera que o setor ainda é bastante impactado por uma consequência da Covid-19: a crise econômica. Segundo ele, os donos de estabelecimentos precisam fazer um verdadeiro equilibrismo para não repassar todos os aumentos ao consumidor. “O empresário fica receoso de fazer o reajuste do seu cardápio como deveria, acompanhando a inflação”, pondera.
Novos surtos
Se por um lado a Covid-19 parece ter dado uma trégua, por outro, novas viroses estão ressurgindo. O infectologista Robson Reis, no entanto, diz que não há motivo para a população se alarmar. Segundo ele, já era esperado que aumentasse a proliferação de vírus por transmissão respiratória. Além da retirada das máscaras, no período de outono inverno naturalmente há um crescimento no número de casos dessas doenças. Mas, em Salvador, a população também foi surpreendida pelo surgimento de novos casos de norovírus, que é um vírus intestinal.
O norovírus possui transmissão orofecal, ou seja, a partir do contato direto ou indireto com fezes. “Por exemplo, uma pessoa que está com diarreia e não higieniza direito as mãos, ela acaba transmitindo aquele vírus”, explica Reis, que considera que a retirada da obrigatoriedade das máscaras também passou para a população uma sensação de segurança para se diminuir os cuidados gerais adquiridos com a pandemia, como o uso de álcool gel e higienização constante das mãos.
Para o professor, a higienização das mãos poderia ter se tornado um legado da pandemia e preveniria a transmissão de outras doenças além da Covid-19. Com relação às máscaras, Robson Reis reconhece o estado atual de controle da pandemia. No dia 13 de abril, por exemplo, foram registrados 702 novos da doença. Já na última terça-feira, 306 novos casos da doença foram notificados pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab).
O infectologista, porém, pede que pessoas que sejam de grupos de risco ainda mantenham alguns cuidados.
Fonte: Metro 1