Em 1968, cerca de 800 estudantes de diversas regiões do Brasil participaram clandestinamente do 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em um sítio em Ibiúna (SP). O encontro, organizado em segredo, tinha como objetivo discutir estratégias de resistência à ditadura militar e renovar lideranças do movimento estudantil. A reunião terminou com a maior prisão em massa da história brasileira, quando a polícia cercou o local e levou centenas de participantes ao Presídio Tiradentes.

Contexto histórico do Congresso de Ibiúna
O ano de 1968 foi marcado por tensões políticas e sociais no Brasil, incluindo o enterro de Edson Luís, morto por agentes militares, e a Passeata dos Cem Mil, manifestações estudantis contra a repressão. Internacionalmente, o período registrava rebeliões juvenis, como as de Paris e a resistência contra a guerra do Vietnã. Nesse cenário, o Congresso de Ibiúna surgiu como tentativa de fortalecer a mobilização estudantil e organizar a resistência ao regime militar.
Organização clandestina
No livro Sitiados – A saga do Congresso de Ibiúna em 1968 (Matrix Editora, ISBN 978-6556165912), o jornalista Jason Tércio detalha a logística do congresso: uso de senhas e contrassenhas, deslocamentos secretos, improviso diante de riscos de delação e vigilância policial com agentes infiltrados. O autor também descreve os conflitos internos entre diferentes correntes da esquerda universitária, que disputavam direção e espaço dentro da UNE.
A repressão policial e a prisão em massa
A operação policial que cercou o sítio transformou o congresso em um episódio emblemático da repressão à juventude brasileira. Documentos do antigo DOPS, depoimentos de participantes, panfletos mimeografados e fotografias de época reconstruíram a invasão, o terror vivido pelos estudantes e as condições precárias do Presídio Tiradentes, onde permaneceram detidos. A ação ficou registrada como a maior prisão coletiva já realizada no Brasil, com repercussões duradouras para os envolvidos.
Impacto e legado político
Apesar da derrota imediata, muitos participantes, como José Dirceu, Vladimir Palmeira e Luís Travassos, ocupariam papéis centrais na política e na cultura nacional. A experiência de Ibiúna abriu caminhos para novas formas de enfrentamento à ditadura e marcou uma geração que buscava protagonismo político. A obra evidencia como a mobilização estudantil se manteve relevante, dialogando com questões contemporâneas de autoritarismo e repressão.
Sobre o autor e a obra
Jason Tércio é jornalista e escritor, com experiência na BBC de Londres e em veículos brasileiros. Autor de oito livros, incluindo a biografia de Mário de Andrade, Tércio já foi finalista do Prêmio Jabuti. Sitiados é seu quarto livro sobre a ditadura militar e reconstrói, com base em fontes primárias, um episódio pouco explorado da história oficial.
Fonte: Jornal Grande Bahia / Foto: ASCOM