Mais de 50% dos funcionários não retornam aos postos de trabalho.
O Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest) contabilizou só nos primeiros seis meses de 2024, mais de 230 acidentes envolvendo profissionais nos seus respectivos campos de trabalho.
A reportagem do portal Acorda Cidade conversou com Verena Liberal, coordenadora do Cerest de Feira de Santana. Segundo ela, os dados do mês de junho ainda não foram finalizados, mas assusta a quantidade de registros em apenas seis meses.
“Neste segundo semestre de 2024, nós já temos números significativos de acidentes de trabalho, onde a gente passa a contabilizar 239 registros, isso até o início de junho. Estamos fechando ainda o mês, mas foram 239 registros de acidentes de trabalho em Feira de Santana. Então, o Cerest como órgão de vigilância em saúde do trabalhador, tem uma rotina contínua de fazer essa vigilância em espaços, em ambientes e processos de trabalho, para que a gente possa acompanhar, como é que está a questão da segurança, da ambiência dentro desses espaços e, consequentemente, prevenir as doenças ocupacionais e os acidentes de trabalho”, explicou.
Ao Acorda Cidade, a coordenadora informou que os registros apresentam constante crescimento e, pontuou o que é necessário para “frear” as ocorrências envolvendo acidentes de trabalho.
“Ao longo de todos os anos, nós estamos observando uma crescente nesses registros de saúde, principalmente referente ao acidente de trabalho, que tem um crescente exponencial, quando comparado ao primeiro semestre do ano anterior. Isso já leva a gente a inquietações e a procurar saber por que esses números têm crescido. Uma das coisas que podem estar justificando isso, é justamente a questão da flexibilização que a gente teve no período da pandemia e que agora, a volta ao trabalho, ela precisa ter um olhar mais cuidadoso”, disse.
Ela destaca que é importante investir em segurança, trabalho, em treinamentos, em equipamentos de proteção e em programas de treinamentos de risco.
“Mas tem uma outra justificativa para esse número também crescer, é a mudança na nossa legislação, onde o Ministério da Saúde agora reconhece acidente de trabalho todo e aquela lesão ou dano que acontece com o trabalhador no ambiente de trabalho, que no passado a gente só registrava os acidentes de trabalho que eram graves, com óbitos, que geravam mutilação, afastamento acima de 15 dias. Isso é positivo, porque agora com esses números, a gente observa que, de fato, é mais próximo da realidade do que tem acontecido no mundo do trabalho”, pontuou.
Entre todos os setores, o que mais chama a atenção para registros de acidentes, ainda é a Construção Civil. Ao Acorda Cidade, Verena Liberal detalhou que operadores de telemarketing também estão registrando ocorrências.
“Acompanhando os registros, a gente observa que para acidentes, ainda é a construção civil, um setor que chama atenção. O setor industriário, com os acidentes nas indústrias, isso também vem chamando a atenção. E para os adoecimentos mentais, além desses, além da construção civil, o setor industriário, a gente tem os bancários e temos também o pessoal do telemarketing, a gente tem recebido muitas ocorrências desses trabalhadores adoecidos”, declarou.
De acordo com a coordenadora do Cerest, mais de 50% dos trabalhadores que o órgão acompanha, não retornam para o posto de trabalho.
“Este é um fator que a gente não acompanha, apenas daqueles que passam pelo Cerest. A gente sabe que a dinâmica é muito maior, porque nem todo trabalhador que adoece ou que sofre acidente, ele tem o conhecimento ou chega até a gente para fazer o acompanhamento do caso. Porém, mais de 50% dos casos que nós acompanhamos aqui, não possuem condições de retorno ao trabalho”, concluiu Verena Liberal em entrevista ao Acorda Cidade.
Com informações do repórter Paulo José do Acorda Cidade / Foto: Reprodução/Redes Sociais