Por André Cintra
Flip 2022 homenageia a escritora maranhense, primeira brasileira a publicar um romance e também a pioneira na literatura abolicionista no País.
A 20ª edição da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) começou na noite desta quarta-feira (23) com uma homenagem inédita a uma autora negra, Maria Firmina dos Reis (1822-1917). Na Mesa “Pátrios Lares”, no Auditório da Matriz, especialistas e artistas – todas negras – celebraram a escritora maranhense, nascida há 200 anos em São Luís (MA).
Com Úrsula (1859), Firmina se tornou não apenas a primeira brasileira a publicar um romance – mas também a pioneira na literatura abolicionista no País. Tampouco há registros de que, antes dela, uma mulher preta tenha escrito romances na América Latina – o que faz de Firmina uma pioneira da afroliteratura brasileira e latino-americana. Úrsula, por meio de um triângulo amoroso entre personagens negros, denuncia os abusos e as injustiças da escravidão.
O feito de Firmina foi destacado na mesa de abertura da Flip 2022. Segundo a historiadora Ana Flávia Magalhães Pinto, a escritora foi “um farol a iluminar a experiência negra no Brasil”. Já a crítica literária Fernanda Miranda saudou a romancista como “a autora de nosso primeiro texto de liberdade”. Além de romances, ela publicou poemas, contos e artigos.
A despeito disso, o legado literário de Firmina foi submetido a uma espécie de apagamento histórico, a ponto de a autora ter morrido no ostracismo, em 1917, aos 95 anos. Mesmo no Maranhão, onde foi a primeira mulher aprovada em concurso público e fundou a primeira escola gratuita mista (para meninos e meninas) do País, Firmina é pouco valorizada.
O reconhecimento à altura de sua obra – o fim do silenciamento – só ganhou força nos últimos anos. Para frisar essa tendência, os curadores da Flip 2022 definiram “Ver o Invisível” como tema desta edição. De acordo com a Flip, “as personagens e narrativas memoráveis de Maria Firmina têm inspirado coletivos de leitura, professoras e autoras contemporâneas com sua linguagem, imagens e abordagens de um Brasil real e ficcional que atravessa 200 anos de uma independência controversa”.
Fonte: Vermelho.org