Em entrevista, Maurício de Sousa conta que o segredo é ‘copiar a realidade’
Maurício de Sousa considera criar o primeiro personagem gay da Turma da Mônica. A declaração do cartunista veio de uma entrevista à Folha de S. Paulo publicada nesta última quinta-feira,21.
“A homossexualidade é um tema que a gente está discutindo faz tempo e aguardando o que vai acontecer socialmente para que possamos ter personagens gays. Está chegando o momento”, afirmou à Folha de S.Paulo.
Aos 86 anos, Sousa explica que o segredo para a longevidade do sucesso da Turma da Mônica é observar e copiar a realidade com cuidado para não ficar para trás, mas tampouco avançar o sinal, assim Maurício entende a importância de trazer diversidade às suas histórias.
“Eu não inventei nada. Tudo estava ao lado. Só copiei.” disse o escritor que se inspirou em seus amigos de infância para a criar Cebolinha e Cascão, enquanto Mônica e Magali surgiram de suas filhas.
Em 2009, a MSP Produções criou Caio, amigo de Tina quem em algumas histórias, indicava ser comprometido com outro rapaz mas mesmo sem dizer abertamente que era gay ou bissexual, o personagem sofreu críticas e Maurício chegou à conclusão de que ainda era cedo para ter um personagem gay.
Mesmo que demorado, o cartunista não deixou de trazer diversidade para seus personagens. Em 2017, quase seis décadas depois de Jeremias, Maurício criou Milena a primeira personagem negra da Turma da Mônica. A ideia veio de Mônica Sousa, sua filha e diretora comercial do estúdio, quando fãs relataram durante sua palestra na ONU que faltava representatividade negra nas histórias de seu pai.
Personagens PCD (pessoas com deficiência) também estão nos gibis, é o caso de Humberto, mudo, Sueli, surda, André, no espectro autista, Luca, cadeirante, Tati, com síndrome de Down, e Dorinha, que é cega. Os personagens ganham histórias próprias com o objetivo de conscientizar as crianças, seus pais e professores.
Anos de expectativa
No final de 2021 em uma entrevista à BBC News Brasil (via Metrópole) Maurício já havia falado sobre a possibilidade de um personagem homossexual na Turma.
“Estamos discutindo com os roteiristas, com o pessoal próximo da gente para que haja um personagem positivo. Em todos os sentidos,” disse à BBC.
A demora pode estar ligada a estratégia adotada por Maurício de Sousa desde a ditadura militar, período em que a Associação dos Desenhistas de São Paulo era tida como comunista, e o baniu dos jornais que compravam suas tirinhas.
“Meus personagens são crianças, e criança não mexe com política. A gente não faz ativismo. Tenho que usar o velho recurso da borracha. ‘Apaga.’ Isso é intocável.” explicou Maurício em entrevista à Folha de S.Paulo.
Fonte: Rollingstone