De acordo com Daniel Ciampi, “o paciente pode ter um quadro relativamente leve e ter um impacto pós-covid relativamente agressivo, isso é algo que está se mostrando na prática clínica como uma verdade”
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- Post published:10/03/2021
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A chegada do novo coronavírus ao mundo provocou diversas preocupações. A precaução, tanto da comunidade científica quanto da população em geral, passou principalmente pelo alto índice de contágio. Porém, nos últimos meses, um novo fator se somou a esse cenário. Estudos do Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina apontaram que a covid-19 tem influência sobre quadros de dores crônicas, mesmo depois de superada pelo paciente infectado.
A dor crônica é aquela que persiste em indivíduos por mais de três meses durante a maioria dos dias. Dentre as dez doenças mais prevalentes no mundo, quatro são dores crônicas. No contexto de covid, este quadro se agravou: “Na prática clínica, começamos a ver muitos pacientes sobreviventes se queixando de muita dor de cabeça, dor no corpo, dores musculares e alguns casos persistindo por muito tempo”, afirma Daniel Ciampi, do Departamento de Neurologia e responsável pelo Ambulatório de Dor da Neurologia do Instituto Central do Hospital das Clínicas (ICHC), em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª edição.
Com isso, a pesquisa, da qual o neurologista também participou, observa que, dentro de um grupo de 120 indivíduos com sequelas decorrentes da covid, 5% relataram dor de cabeça e 19% dor crônica.
Apesar de a pesquisa também associar essa piora no quadro de doenças crônicas à internação em UTIs – onde o paciente está suscetível a um bloqueio neuromuscular, agente que pode causar miopatias, doenças musculares – Ciampi alerta que as dores pós-covid não aparecem só nos casos graves. “O paciente pode ter um quadro relativamente leve e ter um impacto pós-covid relativamente agressivo, isso é algo que está se mostrando na prática clínica como uma verdade.”
Para ele, a pesquisa pode ser importante para o planejamento pós-pandemia, principalmente no sentido de “como lidar com os pacientes que são sobreviventes da covid e que saem com algum tipo de restrição e com algum impacto negativo na vida deles”. Porém, considerando que os dados da pesquisa comprovam que pelo menos 20% dos pacientes recuperados apresentam quadros de doenças crônicas, o alerta recai sobre um sistema de saúde ainda mais sobrecarregado, agora com pacientes já recuperados, mas que ainda possuem sequelas.
Segundo o especialista, os próximos passos da pesquisa são buscar formas de tratar essas dores pós-covid, encontradas principalmente nos pés e nas mãos. “Pacientes têm um impacto muito grande na vida deles por causa dessa dor, dessas dores novas”, comenta.
Fonte: USP
