Lentes com tecnologia de desfoque periférico podem reduzir em até 60% os efeitos da miopia. Problema é especialmente prejudicial para crianças
Miopia é um distúrbio visual que atrapalha a capacidade de enxergar de longe. De acordo com o Ministério da Saúde, em uma pessoa com visão normal, os raios de luz passam pela córnea, que é a primeira lente do olho, e quando chegam à outra lente, a retina, eles se juntam em um mesmo ponto para formar a imagem.
Pessoas com miopia, no entanto, tem um globo ocular mais “longo”, o que provoca a formação da imagem antes que a luz chegue até a retina, fazendo com que a pessoa tenha dificuldade de enxergar de longe.
Segundo a Dra. Fabíola Gavioli Marazato, médica oftalmologista do CBV-Hospital de Olhos, o aumento do número de pessoas míopes nas próximas décadas tem preocupado os oftalmologistas. “As mudanças de hábitos especialmente das crianças, na fase em que o olho está em crescimento favorece o aparecimento e a progressão da miopia”, afirma.
Além disso, ela aponta que o uso excessivo de telas, piorado após a pandemia e a diminuição de atividades ao ar livre contribuem para esse aumento. A Organização Mundial da Saúde (OMS) advertiu que a doença é uma “epidemia silenciosa”. Cerca de metade da população mundial será míope em 2050, de acordo com as projeções atuais. Apesar disso, algumas medidas podem controlar o aumento do grau e frear o crescimento do olho, entre elas as lentes de óculos especiais para essa finalidade.
Lentes capazes de frear a miopia
“Recentemente chegaram ao mercado lentes com um desenho específico que causa um desfoque periférico na imagem, mas mantém a nitidez no centro da lente. Apesar de serem novas e necessitarem de mais estudos a longo prazo, são promissoras e contam com a facilidade do uso por parte das crianças, pois na aparência não diferem das lentes de óculos usuais”, explica Fabíola.
Essas lentes usam a tecnologia de desfoque periférico (DIMS), ou tecnologia HALT (Highly Aspherical Lenslet Target, em inglês). Elas são recomendadas para crianças de 6 a 13 anos e devem ser usadas por no mínimo 12 a 15 horas por dia, sendo os efeitos notados com 2 anos de uso. Há uma redução de cerca de 60% do aumento do grau, aponta a médica.
“Até o surgimento dessas lentes havia apenas a opção de uso de colírio para conseguir esse efeito, porém com o desconforto de visão borrada e fotofobia em alguns casos.
Também estão sendo lançadas lentes de contato com tecnologia semelhante para enfrentar essa epidemia de miopia”, diz a oftalmologista.
Miopia prejudica aprendizado e saúde de crianças
As novas lentes apresentam resultados promissores para os pequenos que vivem com a miopia. Principalmente porque o problema visual costuma atrapalhar o processo de aprendizado, bem como o bem-estar de todo o organismo.
Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do Instituto Penido Burnier, a correção da miopia é essencial para o aprendizado das crianças. “Isso foi comprovado em um levantamento com 36 mil crianças das escolas públicas. Elas receberam óculos durante uma ação social promovida pelo hospital em parceria com a prefeitura de Campinas”, pontua.
Após um ano de uso dos óculos, 50% tiveram melhora no desempenho escolar e 36,2% ficaram menos agitadas. Esta é uma comprovação da importância do acompanhamento da saúde ocular na infância.
Leôncio afirma que a miopia também aumenta a tendência à depressão e insônia, sobretudo entre altos míopes. Isso ficou demonstrado em outro estudo publicado na revista científica Nature. “Isso acontece porque todo nosso organismo é regido pela luz que sensibiliza células fotossensíveis da retina e avisa uma porção de nosso cérebro quando é dia ou noite”, pontua.
Fonte: Saúde em dia