Na terça-feira, 13/05/2025, o presidente do Uruguai, Yamandú Orsi, anunciou oficialmente a morte de José Mujica, aos 89 anos. O ex-presidente, reconhecido por seu papel na redemocratização do país e por seu estilo de vida austero, deixa um legado de décadas de atuação política marcada pela coerência ideológica, militância histórica e protagonismo nas transformações sociais do Uruguai.

José Alberto Mujica Cordano iniciou sua trajetória política como integrante do Movimento de Libertação Nacional – Tupamaros, grupo de guerrilha urbana que atuou no Uruguai durante os anos 1960 e 1970. Capturado durante a ditadura militar, passou cerca de 13 anos preso em condições severas, sendo libertado apenas com o retorno da democracia em 1985.
Com o fim do regime autoritário, Mujica fundou o Movimento de Participação Popular (MPP), uma das correntes que integraram a coalizão Frente Ampla, responsável por levar a esquerda uruguaia ao poder. Elegeu-se deputado e senador, e posteriormente assumiu o Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca, durante o governo de Tabaré Vázquez (2005–2010).
Presidência e política internacional
Foi eleito presidente do Uruguai em 2009, exercendo o mandato de 2010 a 2015. Durante seu governo, aprovou reformas amplas nas áreas de educação, saúde e direitos civis, incluindo a legalização da maconha, do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Também ficou marcado por posições críticas ao consumismo, defendendo uma economia centrada nas necessidades humanas e sustentáveis.
Mujica tornou-se conhecido internacionalmente por sua postura crítica aos modelos econômicos tradicionais, por recusar regalias do cargo e viver em sua chácara nos arredores de Montevidéu, sem guarda-costas nem ostentação.
Repercussão e homenagens
O presidente Yamandú Orsi declarou luto oficial e afirmou que o Uruguai “perdeu um símbolo da resistência, da honestidade e da integridade pública”. Diversas lideranças políticas da América Latina já manifestaram pesar, incluindo os ex-presidentes Lula da Silva, Pepe Sánchez e Michelle Bachelet, além do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, e do chileno Gabriel Boric.
O governo uruguaio prepara um funeral de Estado, a ser realizado no Palácio Legislativo de Montevidéu, com honras reservadas aos ex-chefes de Estado.
Legado de Mujica na política latino-americana
A trajetória de José Mujica simboliza uma transição singular na história da América Latina: de guerrilheiro à presidência da República, sem abandonar os princípios que marcaram sua formação política. Seu legado é frequentemente citado em debates sobre ética pública, representatividade popular e modos alternativos de governar, inspirando movimentos progressistas em toda a região.
Mujica deixa lições sobre humildade no poder, respeito à democracia e resistência às desigualdades estruturais. Mesmo após deixar a presidência, manteve-se como figura de referência política e moral, participando ativamente de debates sobrea o futuro da esquerda latino-americana.
Fonte: Jornal Grande Bahia / Wilson Dias /ABr