Mostra de Tiradentes abre calendário do audiovisual brasileiro com programação online e gratuita

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Confira a seleção do EL PAÍS dos filmes que estarão disponíveis online de 22 a 30 de janeiro, na 24ª edição do festival

JOANA OLIVEIRASão Paulo – 24 JAN 2021 – 18:12 EST

A 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes abri, nesta sexta-feira, o calendário do audiovisual brasileiro, com uma programação online e gratuita que irá até o dia 30 de janeiro. Criada em 1998 para colaborar com o “cinema de retomada” —expressão usada para se referir à volta do fomento à produção nacional na segunda metade dos anos 1990—, a Mostra é hoje um farol sobre as discussões que estarão presentes nos demais festivais ao longo do ano e aponta tendências sobre temáticas e linguagens no cinema brasileiro.

O tema proposto este ano pelos curadores Francis Vogner dos Reis e Lila Foster é Vertentes da criação, para debater os universos simbólicos, a ética das imagens a partir dos espaços, personagens e territórios, além da relação com o mercado, que permeiam a produção audiovisual. Como não podia deixar de ser, um dos temas que estará em evidência é a pandemia do novo coronavírus e seus impactos no cinema. A programação online, experimento inédito na história da mostra, está disponível no site do evento, onde é possível cadastrar-se para assistir aos 114 filmes disponíveis, entre curtas, médias e longa metragens. O EL PAÍS seleciona abaixo alguns dos títulos em destaque:

Luz nos trópicos (Paula Gaitán)

A obra-prima de Paula Gaitán, cineasta homenageada na Mostra Tiradentes, é uma ode às populações nativas do continente americano. Em uma odisseia de quatro horas, o longa tece um bordado de histórias e linhas do tempo, enredados por cosmogonias indígenas, cadernos de viagem e literatura antropológica. Luz nos trópicos é uma experiência estética singular e uma navegação pelos ecos do passado no presente e vice-e-versa.

Açucena (Isaac Donato)

Cena do documentário 'Açucena', de Isaac  Donato.
Cena do documentário ‘Açucena’, de Isaac Donato

Todo ano, uma senhora sexagenária comemora seu aniversário de sete anos, com direito a bonecas como convidadas. A premissa por si só lírica e delicada ganhas tons de fantasia e suspense no documentário de Isaac Donato, que o rodou na Região Metropolitana de Salvador, em 2019.

Voltei (Ary Rosa e Glenda Nicácio)

Cena de 'Voltei', longa de Ary Rosa e Glenda Nicácio.
Cena de ‘Voltei’, longa de Ary Rosa e Glenda Nicácio

Quatro anos depois da premiada estreia de Café com canela (2017), a dupla de cineastas baianos Glenda Nicário e Ary Rosa apresenta Voltei, um filme que propõe quase uma vertigem onírica. Apesar de que a obra faz eco com as crises sociais e políticas desde 2020 —dialogando até mesmo com o confinamento imposto pela pandemia de covid-19—, a trama se passa em 2030. Duas irmãs, Alayr e Sabrina acompanham em um rádio de pilha o julgamento que pode mudar os rumos de um país, quando são surpreendidas por Fátima, a irmã morta que ressurge para compartilhar com elas esse momento histórico.

Eu, empresa (Leon Sampaio e Marcus Curvelo)

Um trabalhador informal enfrenta problemas financeiros e emocionais. Sem oportunidades decentes de trabalho, ele cria um canal no YouTube pra tentar monetizar suas pequenas histórias de fracasso, enquanto presta serviços precarizados para empresas estrangeiras. Em um diálogo com o cinema de nomes como Ken Loach, a obra dos diretores Leon Sampaio e Marcus Curvelo propõe reflexões sobre as ironias do culto ao empreendedorismo e as dores da uberização dos trabalhos e da vida, em geral.

Rosa tirana (Rogério Sagui)

Cena do filme 'Rosa Tirana'.
Cena do filme ‘Rosa Tirana’

Em um sertão banhado e castigado pelo sol, a menina Rosa atravessa a caatinga árida e fantasiosa, durante uma seca nunca antes vista, na esperança de se encontrar com Nossa Senhora Imaculada, padroeira daquele chão. A partir do olhar doce e direto da protagonista, o diretor baiano Rogério Sagui desvela, em meio à dureza da paisagem, as sutilezas da alma humana.

A mesma parte de um homem (Ana Johann)

Cena do filme 'A mesma parte de um homem'.
Cena do filme ‘A mesma parte de um homem’.

Estrelado por Clarissa Kiste, ao lado de Irandhir Santos e Zeca Cenovicz, A mesma parte de um homem acompanha a vida de Renata, de 40 anos, que vive isolada em uma vila rural com o marido e a filha. Ela sempre considerou o medo um sentimento corriqueiro em sua existência, mas depois de passar por alguns acontecimentos, incluindo a morte inesperada do companheiro, ela começa a redescobrir-se e a encontrar o desejo e a pulsação da vida, especialmente a partir da chegada de um desconhecido.

Nũhũ yãg mũ yõg hãm: Essa Terra é Nossa! (Isael Maxakali e Sueli Maxakali)

Cena do documentário indígena 'Essa terra é nossa!".
Cena do documentário indígena ‘Essa terra é nossa!”.

“Antigamente, os brancos não existiam e nós vivíamos caçando com os nossos espíritos yãmĩyxop. Mas os brancos vieram, derrubaram as matas, secaram os rios e espantaram os bichos para longe. Hoje, as nossas árvores compridas acabaram, os brancos nos cercaram e a nossa terra é pequenininha. Mas os nossos yãmĩyxop são muito fortes e nos ensinaram as histórias e os cantos dos antigos que andaram por aqui”. É assim que os diretores Isael Maxakali e Suelo Maxakali apresentam o documentário que reflete sobre as dores históricas a resistência cultural do seu povo, em um ensaio imagético sobre força e tradição.

Fonte: Elpais

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