Cuidados paliativos oferecem conforto e suporte de uma equipe que faz a ponte entre a família e o hospital; estudo aponta que no SUS serviço é prestado com qualidade, mas é insuficiente para demanda
Publicado: 6/11/2022
Texto: Laura Oliveira
Arte: Guilherme Castro
Para atender às novas demandas decorrentes do envelhecimento da população, o trabalho nas Unidades Básicas de Saúde do Sistema Único de Saúde (SUS) precisam investir em capacitação e protocolos específicos para os cuidados paliativos. É o que constata pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, realizada na cidade de Batatais, interior do Estado de São Paulo.
Prestados a doentes sem opção de tratamento curativo, os cuidados paliativos oferecem conforto por meio de mecanismos para controle da dor e apoio psicológico, além do suporte de uma equipe que faz ponte entre a família e o hospital. Para se adequar a esses cuidados, os pacientes não necessariamente precisam estar no estágio terminal da doença, mas exigirem um atendimento frequente, seja por conta de remédios, consultas ou internações. “É fazer um tratamento mais específico. Estar sempre acompanhando a doença”, afirma a terapeuta ocupacional Gabriela de Oliveira Pintar, responsável pelo estudo.
O estudo mostra que esses serviços são bem preparados, mas insuficientes para suprir as necessidades da população estudada. A cidade de Batatais possui apenas uma equipe de atenção domiciliar para atender cerca de 60 mil habitantes. As pessoas alcançadas, garante, recebem atendimento de qualidade, mas a falta de profissionais faz aumentar a fila de espera pelo serviço.
A oferta de cuidados paliativos, de acordo com a pesquisadora, envolve o Serviço de Atenção Domiciliar (SAD), oferecido pelo SUS para prevenir, tratar, reabilitar e promover saúde em domicílio, permitindo a desospitalização e garantindo a continuidade dos cuidados.
Envelhecimento traz novas demandas
Gabriela conta que entrevistou médicos, enfermeiros e agentes comunitários – das unidades de atenção primária e de atenção domiciliar – entre setembro e outubro de 2021, para avaliar a formação, capacitação e como esses profissionais lidam com os pacientes em cuidados paliativos.
Segundo a pesquisadora, normalmente as equipes de atendimento domiciliar de Batatais realizam visitas mensais aos pacientes acamados, mas o serviço não possui registro específico dos casos paliativos ou da organização de equipes para estudos desses casos. A alta demanda específica por cuidados paliativos evidencia a falta de formação especializada (geralmente destinada a atendimentos secundários e terciários) e de tempo das equipes das Unidades Básicas de Saúde da cidade.
Sobre a nova realidade, o professor Amaury Lelis Dal Fabbro, orientador de Gabriela na pesquisa, atribui ao envelhecimento da população a mudança do cenário de atenção básica, inicialmente mais voltado para o cuidado materno-infantil. “Hoje você tem cada vez menos atenção materno-infantil, apesar de ainda existir e ser extremamente importante, e cada vez mais idosos e pacientes em cuidados paliativos. Isso muda totalmente o perfil de trabalho da Unidade Básica de Saúde.”
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP) o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde realizou cursos no ano passado sobre cuidados paliativos a médicos e equipe multiprofissional não paliativista. Já a Secretaria Municipal de Saúde de Batatais foi procurada pelo Jornal da USP e não se manifestou sobre o assunto.
Além disso, o Estado de São Paulo possui o Programa Melhor em Casa, que busca ampliar o atendimento domiciliar do SUS levando atendimento médico às casas de pessoas com necessidade de reabilitação motora, idosos, pacientes crônicos sem agravamento ou em situação pós-cirúrgica.
Os resultados da pesquisa integram o trabalho do doutorado Os cuidados paliativos na atenção primária à saúde: um estudo qualitativo sobre a perspectiva dos profissionais de saúde, apresentado por Gabriela em março deste ano à FMRP.
Ouça no player abaixo entrevista com a pesquisadora Gabriela de Oliveira Pintar e com o professor Amaury Lelis Dal Fabbro.
Fonte: Jornal USP