Tragédia aconteceu em Madre de Deus, na Região Metropolitana de Salvador. Dois corpos foram encontrados nesta terça-feira (23).
“Não consigo dormir desde o dia. Os gritos e pedidos de socorro não saem da minha cabeça”. Esse é o relato da funcionária pública Melinda Santos, que estava em uma embarcação quando viu o barco que naufragou na cidade de Madre de Deus, na Região Metropolitana de Salvador. A tragédia terminou com oito pessoas mortas e seis feridas.
As vítimas voltavam de uma festa na Ilha de Maria Guarda em direção a cidade de Madre de Deus, distância de cerca de 2 quilômetros. Segundo Melinda Santos, ela tinha trabalhado no evento e retornava com materiais da prefeitura para o píer do município.
A funcionária pública e colegas conseguiram resgatar nove pessoas, entre elas duas crianças que estão bem.
“Estava tudo muito escuro, não conseguíamos enxergar nada, mas ouvimos gritos de longe. Quando nos aproximamos, vimos a embarcação afundando, pessoas gritando e pedindo pelo amor de Deus para salvar os filhos”, relatou.
De acordo com a funcionária pública, ela e os colegas tiveram dificuldades para socorrer as vítimas que, desesperadas, tentavam invadir o barco que estavam.
“A gente se aproximava e recuava, porque todo mundo queria subir no barco ao mesmo tempo. Jogamos os coletes de salva-vidas, mas o vento estava contrário e eles não conseguiam alcançar”, afirmou Melinda.
A funcionária pública ainda contou que ligou para um colaborador da prefeitura, que aguardava os colegas no píer, e pediu socorro. O homem entrou em contato com a Marinha.
“Tinha uma mãe que estava com um menino de 6 anos. Ela gritava muito pedindo para a gente ajudar. Um rapaz, que eu não sei identificar, gritava: ‘Eu disse que não era para pular, que não era para ir para o outro lado””, contou a mulher.
Melinda disse que o sentimento é de gratidão por ter conseguido salvar algumas pessoas do naufrágio.
“No primeiro momento, a gente fica com a sensação de que poderia fazer mais, porque não queríamos que tivesse óbitos, mas foi uma coisa inevitável”.
Dois corpos encontrados
Os corpos da sétima e oitava vítimas do naufrágio foram encontrados por pescadores na manhã desta terça-feira (23).
As vítimas foram identificadas como Alicy Maria Souza dos Santos, de 6 anos, e Vandersson Epifânio Souza de Queiroz, de 42. Os corpos foram encontrados próximo à Ilha de Maria Guarda, onde aconteceu a festa em que os passageiros estavam.
A Polícia Civil investiga se houve excesso de passageiros na embarcação. O piloto do barco, identificado como Fábio Freitas, foi identificado e será ouvido. A filha e o neto estão entre os mortos.
A defesa do piloto informou que ele vai se apresentar e contar a versão dele sobre os fatos.
Ainda não há informações sobre quantas pessoas estavam, de fato, na embarcação, que comportava 10 passageiros e um tripulante.
A Marinha do Brasil tinha informado que a embarcação fazia transporte irregular de passageiros. O veículo “Gostosão FF” é inscrito na classe “saveiro”, para uso exclusivo em atividades de esporte ou recreio. Isso significa que o barco não era habilitado para o uso comercial.
A embarcação fazia o trajeto da Ilha Maria Guarda para o município, que fica em uma região turística que registra alto movimento neste período do ano. O naufrágio aconteceu por volta das 22h, quando os passageiros voltavam de uma festa.
Nesta terça, o prefeito da cidade, Dailton Filho, contou que ainda não decidiu se o Madre Verão, que terminaria durante o próximo final de semana será cancelado.
“Confesso que nesse momento não estou preocupado com evento, estou preocupado com meu povo, que está sofrendo, passando por esse momento delicado. Estou preocupado com os sobreviventes, com as famílias, os amigos, minha comunidade, porque essa tragédia feriu nosso coração”, afirmou.
Sepultamento
Sob forte comoção, os corpos de Rosimeire Maria Souza Santana, de 59 anos, e do sobrinho dela, Ryan de Souza Santos, de 22, foram sepultados no início da tarde desta terça-feira (23), em Madre de Deus. Durante o velório, dezenas de pessoas passaram mal, entre elas a mãe do jovem.
Na segunda, outras três vítimas que estavam no barco foram sepultadas no município. Elas foram identificadas como Caroline Barbosa de Souza, de 17 anos, Flaviane Jesus dos Santos, de 29 anos e Jonathan Miguel de Jesus Santos, de 7 anos.
Vítimas identificadas
Tia e sobrinho mortos
Rosimeire Maria Souza Santana, de 59 anos, está entre as vítimas do acidente marítimo. Ela era dona de um quitanda, tipo de mercearia que vende frutas, verduras e legumes, localizada na rua 21 de Abril, no Centro de Madre de Deus.
A mulher estava com os sobrinhos, Ryan de Souza Santos, de 22 anos, e Alicy Maria Souza dos Santos, de 6 anos, e Vandersson Epifânio Souza de Queiroz, de 42, que também morreram no acidente.
Morte de amigas
Entre as vítimas que morreram também estão as amigas Flaviane Jesus dos Santos, de 29 anos, e Hayala dos Santos Conselho, de 32 anos. A segunda foi encontrada por volta de 8h50, na região de Loreto.
Flaviane Jesus trabalhava como operadora de caixa em um supermercado de Madre de Deus há alguns meses. Na frente do estabelecimento, foi colocado um cartaz com a mensagem de luto.
O pai de Flaviane Jesus era o comandante do barco. E o neto dele, Jonathan Miguel Santos, de 7 anos, também morreu no naufrágio.
A outra vítima do acidente marítimo foi identificada como Caroline Barbosa de Souza, de 17 anos.
‘Não consegui salvar meu filho’
“Não consegui salvar meu filho”, relembrou Aluísio César, sobrevivente do barco, pai de Ryan de Souza Santos.
“O barco virou, eu não me lembro porque eu bati minha cabeça, mas fiquei consciente e comecei a salvar as pessoas. Salvei primeiro a mãe de Ryan [filho dele], depois peguei a tia, umas duas crianças, outra pessoa. E aí eu fui procurar meu filho, só que eu salvei outras pessoas, ele também salvou e eu não conseguia salvar meu filho”, contou.
O homem ainda disse que suspeita que a confusão começou no barco por causa de um pagamento de R$ 10 pela travessia da Ilha Maria Guarda para Madre de Deus. Apesar da suspeita do sobrevivente, a polícia ainda não confirma o motivo da briga na embarcação.
“No que todo mundo foi para lá [um dos lados] o barco virou. Foi virando e eu gritando: ‘pelo amor de Deus, as crianças'”, disse o homem.
Na noite de domingo, o barco saiu da Ilha de Maria Guarda, na Baía de Todos-os-Santos, em direção ao terminal Marítimo de Madre de Deus, que fica a cerca de 2 km de distância. Antes da metade do caminho, houve uma briga e o veículo naufragou.
Além das sete pessoas que morreram, seis foram levadas para o Hospital Municipal de Madre Deus. Duas já tiveram alta, três foram levadas para Salvador e uma para Lauro de Freitas. Veja abaixo quem são as vítimas feridas:
- Um menino de 6 anos está internado na UTI pediátrica do Hospital Roberto Santos, em Salvador;
- Uma menina de 1 ano está internada na UTI pediátrica do Hospital do Subúrbio, em Salvador;
- Uma mulher de 56 anos está internada na UTI do Hospital Municipal de Salvador;
- Uma idosa de 83 anos, identificada como Maria Estelita dos Santos de Souza, está internada na UTI do Hospital Metropolitano, em Lauro de Freitas.
Uma equipe de Busca e Salvamento (SAR) da Capitania dos Portos da Bahia (CPBA) foi enviada ao local para conduzir as buscas dos possíveis desaparecidos, em conjunto com outros órgãos, além de apurar o ocorrido e coletar informações.
Participaram das buscas uma embarcação da Companhia de Polícia de Proteção Ambiental – (COPPA) da Polícia Militar, uma aeronave do Grupamento Aéreo (Graer) e outras embarcações civis.
A Marinha informou que será instaurado um Inquérito sobre Acidentes e Fatos da Navegação (IAFN) pela CPBA, para apurar as causas e circunstâncias do acidente.
Concluído o procedimento, os documentos serão encaminhados ao Tribunal Marítimo.
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Fonte: G1 Bahia