Museu do Ipiranga conclui restauração do edifício histórico

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Em fevereiro deste ano, a instituição havia terminado a recuperação de 7.600 m² de fachadas, ou seja, toda a parte externa do prédio.

(FOLHAPRESS) – Depois de dois anos e meio de barulho e poeira, o Museu do Ipiranga concluiu a restauração de seu prédio de maior valor arquitetônico, o edifício-monumento, fundado em 1895 a partir de projeto do italiano radicado no Brasil Tommaso Gaudencio Bezzi (1844-1915).

Em fevereiro deste ano, a instituição havia terminado a recuperação de 7.600 m² de fachadas, ou seja, toda a parte externa do prédio. Nesta semana, botou ponto final na restauração dos ambientes internos, que incluem saguão, salas de exposição e corredores.

Todo o processo contou com o trabalho de 54 profissionais, entre restauradores, pedreiros, pintores e estucadores (responsáveis pela aplicação da argamassa). “É a maior obra que faço em termos de tamanho e complexidade”, diz Marcelo Sancho, 54, sócio-diretor da empresa contratada pela Fusp (Fundação de Apoio à USP) para assessorar os trabalhos de restauração.

Sancho já havia atuado em obras como o Teatro Municipal do Rio de Janeiro e o Real Gabinete Português de Leitura, também na capital fluminense.

A restauração é uma etapa importante, mas não a última até a reabertura do museu, prevista para 7 de setembro, no bicentenário da Independência.

No caso do edifício-monumento, os próximos passos são: a montagem das exposições permanentes, que começa nos próximos dias; a finalização dos equipamentos de modernização (elevadores, principalmente); e a instalação do aparato multimídia, que vai auxiliar os visitantes.

É preciso lembrar, no entanto, que o complexo chamado de Novo Museu do Ipiranga vai além desse prédio de 127 anos. Há ainda a nova área construída, que fica à frente e abaixo do edifício-monumento, onde estarão duas amplas entradas para o museu, um auditório, um café e um salão para exposições temporárias, entre outras áreas; e o jardim francês, situado logo à frente deste novo pavimento.

No edifício-monumento, porém, os números expressam melhor o detalhismo do projeto, caso dos ladrilhos hidráulicos coloridos nos pisos dos corredores, que foram comprados da empresa franco-alemã Villeroy & Boch no final do século 19. Cerca de 1.300 peças foram restauradas pela Concrejato (construtora responsável pela execução do projeto), sob a supervisão de Sancho, e por volta de 700 ladrilhos foram reproduzidos à moda dos antigos e os substituíram.

“Nosso objetivo foi resgatar ao máximo os aspectos originais do museu”, afirma Sancho.

O Salão Nobre, onde fica “Independência ou Morte”, o conhecido quadro de Pedro Américo, ilustra bem as minúcias desse ofício. Feito com pinha de riga (madeira em processo de extinção), o assoalho passou por diversas intervenções, como decapagem (remoção da tinta), reparação de danos que precisem de enxertos, polimento, lixação e pintura. Houve, por fim, um cálculo para devolver cada taco ao seu local de origem -esse processo ocorreu da mesma forma nas demais salas do prédio.

Os ornamentos nas paredes do Salão Nobre também foram submetidos a uma série de procedimentos. Primeiro, análises em laboratório das argamassas utilizadas originalmente, a fim de alcançar a reprodução mais fiel possível. Depois, a decapagem e a limpeza dos ornamentos.

Em seguida, a retirada das partes frágeis das peças para, após recuperação, devolvê-las às paredes. Por fim, a aplicação da argamassa, trabalho que requer cuidado extremo.

Esse trabalho trouxe uma revelação. Até poucos anos atrás, os funcionários do museu acreditavam que alguns dos ornamentos desse salão eram revestidos por lâminas de ouro. Estavam escuros, supunham eles, devido à oxidação do metal.

Investigações recentes, conduzidas por diversas equipes ligadas à reforma, mostraram que foram usadas, na verdade, outras substâncias de pigmentações diversas, que buscavam a aparência dourada. Definitivamente, não era ouro. Esses ornamentos foram, ao fim, pintados com o mesmo tom de amarelo que cobre todas as paredes internas e as fachadas.

Essas intervenções no Salão Nobre foram realizadas sem que a tela de Pedro Américo fosse retirada do espaço, dadas as suas dimensões (7,6 m por 4,1 m). O quadro foi restaurado dentro da sala de 2017 a 2019 e depois passou a ser protegido por um tecido especial, que impede a entrada de pó, mas permite que a obra “respire”.

As outras obras de arte que ocupavam os nichos do Salão Nobre estão em reservas técnicas e serão devolvidas ao espaço nos próximos meses.

A escadaria de mármore de Carrara, que liga o saguão ao Salão Nobre, estava em estado razoável. Depois de uma limpeza minuciosa, os degraus receberam a aplicação de substâncias de proteção. Instaladas ao longo da escadaria, as 17 ânforas de cristal, com bases de bronze, também foram recuperadas -os antigos admiradores do museu devem lembrar que elas armazenam as águas dos principais rios do Brasil.

A ampla reforma do novo complexo, que vai dobrar a área do museu, custará R$ 211 milhões. As fontes de financiamento são, sobretudo, patrocínios diretos e aportes por meio da Lei Rouanet.

O museu esteve indiretamente envolvido nos imbróglios da candidatura de João Doria (PSDB) à Presidência da República. Ainda no cargo de governador de São Paulo, ele faria uma visita à instituição na manhã de quinta (31 de março) para receber patrocinadores e jornalistas.
Diante da notícia publicada pelo jornal Folha de S.Paulo de que Doria havia decidido não concorrer ao Planalto, a visita foi cancelada. No mesmo dia, mais tarde, ele desistiu de desistir, mantendo-se, por ora, na disputa nacional.

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