A Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) informou que após cerca de seis anos de inatividade, o Museu Indígena Pataxó da Aldeia Coroa Vermelha foi reinaugurado com a exposição temporária intitulada “Ãbakohay ūg kahab: memória e viver Pataxó”, no dia 20 de janeiro desse ano. A presente exposição é fruto de um projeto coletivo em torno da reconstrução do Museu Indígena Coroa Vermelha, que fechou suas portas em 2018.
Como explica o professor Pablo Antunha Barbosa, do Centro de Formação em Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do Sul da Bahia (CFCHS/UFSB), não é possível entender a reabertura do Museu Indígena Pataxó de Coroa Vermelha se não o situamos num contexto mais amplo. Sua construção fez parte de um projeto patrimonial maior. A partir de meados dos anos 1990, a região foi palco de uma série de investimentos realizados em parceria entre o setor privado e os governos federal e estadual. Esses investimentos buscavam impulsionar o turismo de massa numa região de praias lindíssimas, ao reconstruir cenas do “Descobrimento” no espaço público (construção de monumentos, nomeação de ruas, hotéis etc.).
De acordo com a Universidade, em 2000 celebrou-se, por fim, os chamados quinhentos anos do “Descobrimento” do Brasil. Devido à pressa na sua construção e à falta de planejamento a médio e longo prazo, após a celebração do evento, o museu foi progressivamente abandonado pelas autoridades responsáveis. A única exceção foi a própria comunidade que o manteve funcionando até 2018. Nesta data, decidiram fechar o museu para visitação turística, já que não havia mais condições para manter o edifício e as peças do acervo. Devido ao apelo afetivo do museu, a comunidade vem buscando retomar o museu a partir de novas bases.
Desde o final de 2021, a UFSB vem participando ativamente deste processo através do projeto de extensão Construção do Museu Indígena Pataxó de Coroa Vermelha (PJ008-2022), coordenado pelo professor Pablo Antunha Barbosa, pela professor Ângela Maria Garcia (IHAC/CSC) e pelo museólogo Julio Cézar Chaves. A presente exposição temporária é o resultado desse trabalho coletivo em parceria direta com a Associação dos Comerciantes do Parque Indígena da Aldeia de Coroa Vermelha.
Para montar a exposição temporária, formou-se uma equipe curatorial composta por Arissana Pataxó e Oiti Pataxó, grandes artistas contemporâneos do povo Pataxó. Essa equipe buscou interrogar algumas questões que serviram de fio condutor para a narrativa da exposição. Como os Pataxó do Sul da Bahia elaboram as auto narrativas sobre si mesmo e sua história? A cronologia histórica pataxó coincide com a cronologia histórica nacional? Quais eventos, lugares e artefatos são marcantes em sua trajetória? Que personagens humanos e não humanos devem ser lembrados? Enfim, qual a importância desses discursos de autoria indígena no âmbito de suas lutas políticas para retomar seus territórios e sua cultura, visando o fortalecimento de sua identidade? Que lições tirar de tudo isso? São essas algumas perguntas que guiaram esta exposição que está marcando a reabertura do Museu Indígena Pataxó de Coroa Vermelha.
Convidamos a comunidade acadêmica que visite esse novo “lugar de memória” do nosso território, que inscreve memórias alternativas à do “Descobrimento do Brasil”, narrativa hegemônica que, em um único gesto, elevou os colonizadores portugueses ao papel de protagonistas do nascimento do Brasil ao mesmo tempo em que invisibilizou várias outras memórias da região, como as memórias dos povos indígenas, afro e outras populações tradicionais presentes na região Sul e Extremo Sul da Bahia.
Fonte: Agência Sertão