Na primeira entrevista após o resultado das urnas, o vice- -governador Geraldo Jr. (MDB) esteve na Metropole, onde falou sobre sua derrota na disputa pela prefeitura de Salvador, o comportamento da esquerda em relação à sua candidatura e suas expectativas para o futuro
Entrevista publicada originalmente no Jornal Metropole em 17 de outubro de 2024
Mário Kertész: Depois de muitos anos desde que Jaques Wagner assumiu o governo, foi a primeira vez que o PT não escolheu três candidatos para apoiar na eleição pela prefeitura de Salvador. A lógica era pegar três eleitorados diferentes e a soma levaria para um 2º turno. Jerônimo Rodrigues assume o governo e resolve mudar, ter um candidato só. Mas começou com um atraso para anunciar o nome. A partir daí, como você analisa isso?
Geraldo Jr.: Aprendemos que as vitórias nós comemoramos, as derrotas nós não choramos por elas. Não vou ficar lamentando e nem estabelecendo um patrulhamento de quem deu uma dedicação maior ou menor à eleição. As pessoas me perguntam: a esquerda não esteve com você como esteve com Jerônimo Rodrigues em 2022? Não vou ficar fazendo nenhuma medição se parte da esquerda não caminhou comigo. O que nós temos certeza é que está consolidado um processo de direita e de extrema direita em Salvador, com o atual prefeito. Quero, inclusive, parabenizar o prefeito, desejar boa sorte e que as críticas que fiz da política ele as absorva e me tenha à disposição para trocar ideias. Essa derrota em Salvador é de Geraldinho? É do MDB? Não, é de Geraldinho, do MDB e de uma aliança de partidos. Porque senão a gente tem que fazer dois pesos e duas medidas. Nós lançamos um candidato a prefeito em Juazeiro, que poucas pessoas acreditaram, Andrei da Caixa Econômica Federal. A vitória em Juazeiro é do MDB ou é da aliança? É da aliança política.
MK: Cheguei a fazer algumas críticas aqui ao marketing. A propaganda de rádio péssima. Na televisão, não estava lá Geraldo Jr. que era comunicador, parecia um robô lendo um texto, sem emoção. Não quer dizer que se você tivesse uma campanha melhor, ganharia, mas certamente teria um desempenho diferente. Você concorda?
GJ: Sempre fui focado e disciplinado. A campanha foi nesse sentido. Eu cumpro missões. Mas prefiro muito mais ser o Geraldo Jr. na forma de me comunicar, o Geraldo Jr. que abraçou uma candidatura de 3,75% contra quase 70%, como a do governador Jerônimo Rodrigues em 2022, diferentemente do que fizemos nessa eleição na forma de se expressar, mas em relação ao conteúdo, eu reafirmo todos os processos.
MK: Você que tem uma capacidade de comunicação grande, cresceu nessa como comunicador de rádio. No dia que você me chamou para ser entrevistado na outra rádio fiquei impressionado, trouxe você ora cá e foi aquele sucesso no Seis em Ponto. Mas na campanha vi você parecendo um robô, numa linguagem que não atingia o eleitorado. Mal feito, robotizado, aquela história de rádio 15, coisa de 20 anos atrás. E Bruno estava com a máquina, é bem avaliado, uma pessoa que comunica bem. No fundo, é como se você tivesse sido e jogado aos leões.
GJ: Já joguei futebol e sei que, às vezes, existiam jogadores indisciplinados, como o Edmundo, Renato Gaúcho e Romário, que puxavam o jogo e decidiam. Talvez o que tenha nos faltado é puxar uma posição como essa. Mas essa medição de participação não cabe a mim. […] O ‘se’ não vai mais me trazer a vitória, fomos derrotados na eleição, eu perdi, o grupo político perdeu. O que nós precisamos fazer é pegar lições desta derrota para não errarmos mais. Em relação ao governador Jerônimo, eu não tenho absolutamente nada a me queixar, estou no compromisso com o governador s para 2026.
MK: Você postula continuar como candidato a vice-governador?
GJ: O senador Jaques Wagner disse que, por dever de ordem, por uma linha natural, quem está no mandato tem direito à renovação do mandato. Assim foi com ele, assim foi com o senador Otto Alencar, assim deve ser com o governador Jerônimo Rodrigues. Com relação à vice-governadoria, isso é uma indicação do MDB, tenho quase convicção que o MDB não vai abrir mão de espaço que é dele por simetria, assim como foi dito em relação aos outros nomes. Estou na expectativa de fazer um governo pela Bahia nos dois anos e dois meses que faltam. Vou continuar viajando pela Bahia, cuidando de Salvador e recebendo as missões que o governador Jerônimo Rodrigues me designe.
MK: Você perdeu a eleição com uma votação muito abaixo do esperado por você. É importante que assuma isso. A partir de agora, seu objetivo, nesses dois anos como vice- -governador, é trabalhar não somente em Salvador, mas em todo o interior e ajudar na reeleição de Jerônimo e de Lula , é isso?
GJ: Isso. Eu tenho hoje dois objetivos, que são reeleger o presidente Lula e reeleger o governador Jerônimo Rodrigues. Não é ousadia, é [reconhecimento] a alguém que colocou o seu nome.
Via Metro 1 / Foto: Metropress/Fernanda Vilas Boas