No São João de Ipirá, prefeitura exclui ao tirar lugar pelo problema e não o problema do lugar

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Por Francis Juliano – Jornalista

No São João de Ipirá, prefeitura exclui ao tirar lugar pelo problema e não o problema do lugar
Inês é morta. Sabemos. No entanto, contudo, todavia, não é por isso que não podemos dizer alguma coisa, mesmo em uns rabiscos que arriscam não serem lidos por ninguém nesses tempos de festa junina, ou do que sobrou dela.

Falemos do Arraiá do Camisão. Nesse ano, o prefeito eleito – acho que ele ainda age assim, mesmo que a lua de mel já tenha vencido – anunciou com pompa e estardalhaço que a festa, ou o filé mignon dela, seria realizada no parque de exposições.

O argumento é que o evento cresceu, a praça do mercado [praça José Leão dos Santos] já não comporta a multidão e há muita sujeira [diga-se mijo] nas ruas de acesso ao evento. Nos quatro cantos da cidade, a recepção da mudança foi até boa e o tema do “aperto” na praça foi repetido até enjoar. E colou.
Como ocorre em alguns casos, se optou em resolver a questão, não tirando o problema do lugar, mas limando o lugar pelo problema. Vamos à mobilidade. Será que os quase 11 mil ipiraenses [ou mais importante ainda os 57 mil do município], que deram uma vitória acachapante ao gestor eleito não teriam direito de ter melhor acesso à festa? Ou será que todos eles têm veículos para se locomover até o parque de exposições?

“Ah, mas haverá ônibus gratuitos”, alguém irá retrucar. Mas será a mesma coisa de que sair e voltar para casa, sem os prováveis transtornos de pegar transporte em dias de festa? E o custo adicional desse serviço para os cofres da prefeitura? É relevante ou não pensar que o direito à festa pública é um direito incluso em usufruir da cidade, sobretudo para uma população de maioria pobre, caso de Ipirá?
E a sujeira, o que fazer?, alguém irá questionar. Bom, festas como carnaval realizadas há muito tempo já mostraram que os “blocos da limpeza” existem e conseguem fazer esse serviço ao final de cada dia. Sem falar que ruas mais iluminadas, maior oferta de banheiros químicos e fiscalização ajudam a minimizar esses efeitos colaterais.

Outra coisa, o mercado de artes, que vive aquém da capacidade e poderia ser um protagonista do evento, poderia ter um aumento de demanda, potencializando a sua atividade. Basta entrar no espaço para ver uma série de boxes fechados, esperando alguma serventia.

O comércio também poderia ganhar mais, o que inclui o setor de hospedagens, com uma agenda de atividades durante o dia. Uma conversa com o setor poderia render boas propostas.
Mas voltemos ao tema aperto, agora para desapertar. Com uma programação variada, apostaria que iria diminuir o efeito superlotação que quando ocorresse seria pontual. Ou seja, logo após esse show, uma parte do público se dispersaria e o espaço da praça passaria a ter um contingente flutuante, permitindo o deslocamento sem agonia, como aconteceu no ano passado no show de Zé Vaqueiro, por exemplo.

Há várias questões para a festa ser dos moradores e não para aqueles que conseguirem vencer os contratempos. Se pensar direito, dá para todo mundo se divertir, movimentar a cidade e torná-la mais pertencente, e afetiva, ao seu povo.

PS: A foto da matéria, tirada na noite desta terça-feira (17), é da Praça que neste ano estará desfalcada das principais atrações.

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