O Convento desperdiça cada um de seus ótimos elementos

cultura

Terror religioso só consegue ficar na promessa

Freiras sinistras, um assassinato misterioso, a paisagem de uma natureza isolada na Escócia, Jena Malone: uma série de elementos tão bons poderia certamente se alinhar para entregar um terror ótimo ou, pelo menos, divertido. Mas O Convento, novo filme do diretor Christopher Smith (Ritual: Presença Maligna), consegue desperdiçar tudo que tem nas mãos de modo quase admirável. Testemunhar a viagem de Grace (Malone) investigando o suposto suicídio de seu irmão em um convento remoto se torna surpreendente pela pura inabilidade de Smith de jogar bem com as cartas que tem nas mãos. 

O Convento não escolhe um rumo a tomar, e no vaivém da trama caminha por relances das Cruzadas, pela adoção de Grace, por sua infância. É um macarrão de sequências que chamam atenção precisamente pelo seu potencial. Quando vemos cenas da pequena Grace vivendo em uma jaula, com sua mãe e seu irmão aprisionados pelo pai, por exemplo, é difícil não pensar “Por que raios não estamos focando nisso aqui?”. 

Mas este terror está mais interessado no ambiente sagrado ao qual Grace chega com a ajuda do detetive Harris (Thoren Ferguson), e em sua determinação em provar que seu irmão não cometeu um assassinato antes de se jogar do precipício que cerca a comunidade. Seria uma escolha certeira, se Smith focasse no conflito sutil que a jovem cética tem com as freiras do local, precisamente com a Madre Superiora (Janet Suzman), a figura mais chamativa da história. Mas a líder das freiras é desperdiçada, assim como cada uma das fiéis que cruza o caminho de Grace. 

No convento, a jovem vasculha os documentos de seu irmão e busca entender seus últimos passos enquanto observa o Padre Romero (Danny Huston, um vilão por natureza) rastrear seus passos, comandar as ações das freiras e tentar impedir alguma verdade de ser revelada. Nesse caminho, claro que Grace precisa usar vestimentas de freira – senão O Convento não teria um ótimo cartaz ou belas cenas de sangue escorrendo na roupa branca para chamar de suas. Mas até essa promessa é frustrada: a religião é um campo cheio de possibilidades para o terror, mas o longa se mostra incapaz de tirar proveito do potencial opressor da Igreja. 

A ideia de caminhar pelos flashbacks e pelo vaivém temporal coloca sobre o filme a responsabilidade de oferecer uma grande revelação final que o texto de O Convento simplesmente não tem como atender. E sem bons sustos ou sequências aterrorizantes, toda a jornada para entender o mistério da comunidade se torna enfadonha. Não é que Smith não tenha boas ideias ou entusiasmo – ele até faz referência a uma cena icônica de Contato (feita com Malone aos seus 13 anos), que rende o momento mais legal do filme. Mas enquanto O Convento se arrasta ao final, foi tanto recurso desperdiçado que até a duração curta do filme não compensa a perda de tempo. 

Fonte: Omelete

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