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‘O governo não entende que morremos antes dos outros’: greve dos garis de Paris completa 10 dias

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Agentes de limpeza protestam contra a controversa reforma da Previdência, mas têm poucas esperanças que o presidente Emmanuel Macron se dobre à mobilização

A greve dos garis em Paris completa dez dias nesta terça-feira (14) e se estende a outras cidades francesas. Os agentes de limpeza protestam contra a controversa reforma da Previdência, mas têm poucas esperanças que o presidente Emmanuel Macron se dobre à mobilização

“O governo não entende que morremos antes dos outros” é o título de uma matéria do jornal “Libération”, que ouviu agentes de limpeza de Paris em greve. Ao diário, eles contaram as dificuldades que enfrentam no dia a dia. “Mas a população só quer saber se o lixo foi recolhido”, diz o gari David. 

A reportagem do jornal foi até uma estação de incineração de lixo em Ivry-sur-Seine, periferia da capital francesa, bloqueada por empregados há mais de uma semana. Os agentes de limpeza acamparam no local e prometem continuar em greve até que o governo os ouça.

“Faz tempo que Macron não escuta as ruas, mas se nos deixamos ser derrotados, não vamos conseguir nada”, diz o lixeiro Karim, 39 anos, ao Libération. “É fácil ir fazer festa na África, como o presidente fez na semana passada, mas vir conversar com os sindicalistas, é muito mais difícil”, reitera. 

Segundo o projeto de reforma da Previdência, que foi aprovado pelo Senado no domingo (12) e volta para a Assembleia de deputados nesta quinta-feira (16) para o voto final, a idade mínima para aposentadoria dos lixeiros passará de 57 para 59 anos. Para categoria, a ideia é inaceitável. 

Daouda, 49 anos, explica ao Libé que os lixeiros têm uma expectativa de vida menor do que o resto da população devido à inalação do cheiro dos dejetos. Já o aposentado Pascal, de 64 anos, conta que trabalhou 36 anos recolhendo lixo das ruas. Ele participa da mobilização em apoio aos colegas e afirma que, devido às mais de três décadas na profissão, desenvolveu hipertensão e problemas na tireoide. “As pessoas não fazem ideia do que é ser lixeiro”, enfatiza.

Guerra política: governo x prefeitura

O jornal “Les Echos” trata da guerra política que a greve dos lixeiros detonou entre a prefeita de Paris, a socialista Anne Hidalgo, e o governo nacional, de centro-direita. Em entrevista à rádio Franceinfo, o ministro das Contas Públicas, Gabriel Attal – que não esconde sua intenção de se candidatar à prefeitura da capital francesa nas próximas eleições -, não poupa Anne Hidalgo de críticas. Segundo ele, a socialista encoraja os garis a continuarem paralisados. 

Outros membros do governo Macron também miram na prefeita de Paris, destaca Les Echos. É o caso da ministra das Pequenas e Médias Empresas, Olivia Grégoire, que denuncia “uma oposição ideológica que castiga os parisienses”. Já o ministro dos Transportes, Clément Beaune, aponta inação da parte da socialista que, segundo ele, não previu nenhuma medida de urgência para resolver o problema.

Enquanto quase seis toneladas de lixo se acumulam a céu aberto em Paris, agentes de limpeza de outras cidades francesas – como Nantes, Antibes e Montpellier – também aderem ao movimento para pressionar o governo a recuar nos planos de impor a reforma da Previdência, destaca o jornal Le Figaro. 

Vários membros do governo pedem que Hidalgo recorra às chamadas “requisições”, medida polêmica que obrigaria alguns empregados a voltarem ao trabalho, impondo um serviço mínimo de coleta de lixo. No entanto, como explica Le Figaro, mesmo que o pedido seja feito pela prefeita de Paris, ele precisa ser aprovado pela Secretaria de Segurança Pública. Além de complicada, a iniciativa é vista como autoritária por boa parte dos juízes administrativos, que podem se recusar a furar o direito de greve, conclui o jornal. 

Fonte: G1