O menino que via o mundo em câmera lenta

News

Por Rodrigo Santana ( Portal Ipirá City) – Quinta, 11 de março de 2021

Algumas pessoas nunca saberão tudo por que entendem tudo muito depressa.

                                                                                              Alexander Pope

       Numa cidadezinha lá no interior da Bahia chamada Camisão, nasceu um menino magricelo e cabeçudo que via o mundo em câmera lenta.

      Um dia a professora pediu para que todos os alunos escrevessem o alfabeto no caderno e quando a maioria dos alunos terminou, a professora perguntou ao menino que via o mundo em câmera lenta:

_ Você já terminou a lição?

_ Não! Eu ainda estou no b, professora.

Você sabe quando a gente come uma sobremesa bem saborosa  petiscando para perdurar o momento de satisfação em degustar aquele doce favorito? Assim era o menino que via o mundo em câmera lenta ao observar o mundo a sua volta. Enquanto os seus colegas olhavam para a natureza como uma imagem corriqueira tal qual alguém que observa os pastos dentro de um carro em alta velocidade, aquele menino observava que as baratas moviam as suas antenas como se quisessem se sintonizar com outras baratas para transmitir alguma mensagem avisando onde é que estava escondida a comida.  

      Um dia a sua mãe falou:

_ Esse menino não dá trabalho nenhum para criar. Não chora, vive num canto sentando, calado, observando as coisas, qualquer coisa que a gente dá, ele come. Adora farofa mais que tudo nessa vida! E de vez em quando aparece cantando aquela música de “essa coisa louca/ é meio linda/ muito louca.

     Um dia um professor de Literatura da Universidade Federal da Bahia pediu para que os alunos analisassem alguns poemas do poeta Manoel de Barros e escrevessem as suas impressões de leitura. O menino que via o mundo em câmera lenta estava nessa turma e lia cada palavra de cada verso como se tivesse comendo aquela sobremesa bem saborosa petiscando para perdurar o momento de satisfação em degustar aquele universo favorito e repetia diversas vezes a leitura para sentir novamente a sensação de penetrar no mundo encantado das palavras e suas imagens que surgem na mente como um passe de mágica. Ao tirar nota máxima neste trabalho sugerido pelo professor, o menino que via o mundo em câmera lenta descobriu que o seu modo de perceber as coisas do mundo desde a infância não era sinônimo de lerdeza ou burrice, era apenas diferente dos outros alunos.

Então o menino que via o mundo em câmera lenta aceitou o seu jeito de ser e saiu pelo mundo a contemplar os insetos, as borboletas, as flores, o Sol se pondo, o desenho das nuvens, o som das águas, o canto dos pássaros, o Arco-Íris, a Lua, as estrelas, as árvores, as histórias que cada pessoa que cruza o seu caminho conta e os livros.

Rodrigo Santana Costa é professor e escritor. Publicou a obra: “Clarecer”.  

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *