Político é o principal pré-candidato do Partido Republicano e faz campanha enquanto se defende de críticas
O ex-presidente americano Donald Trump, favorito a obter a indicação do Partido Republicano às eleições presidenciais de 2024, se apresentou, nesta terça-feira (13), ao Tribunal Federal de Justiça em Miami, para ser formalmente acusado de retirar documentos sigilosos da Casa Branca e de pôr em risco a segurança do país.
O ex-presidente é alvo de 37 acusações na Justiça Federal, incluindo “retenção ilegal de informações vinculadas à segurança nacional, obstrução de Justiça e falso testemunho”.
No início do mês passado, Trump foi indiciado na esfera estadual, em Nova York, por comprar o silêncio de uma atriz de filmes adultos em 2016 e ter envolvimento em casos de suborno. Assim ele se tornou o primeiro presidente ou ex-presidente dos Estados Unidos a responder por acusações criminais.
“As penas entre as esferas estadual e federal são isoladas, uma não afetando a outra. No atual processo na justiça federal, ele enfrenta 37 acusações. Nas acusações mais sérias, ele pode ser condenado a 20 anos de pena”, explica o advogado Emanuel Pessoa, especializado em direito econômico internacional.
Apesar das estimativas de pena e da gravidade dos crimes, o futuro do republicano ainda é incerto. Existe tanto a possibilidade de ele retornar à Casa Branca quanto de ser condenado e preso.
Para a professora de relações internacionais da Universidade São Judas Ana Carolina Marson, a situação do ex-presidente é complexa e existe a possibilidade de ser condenado. “As chances de Trump ser preso são altas. Os juristas americanos afirmam que o Departamento de Justiça dos EUA está buscando não só a condenação como também a prisão”.
Ana Carolina explica que mesmo se ele for condenado a candidatura pode ser mantida. “Não existe nada na Constituição americana que proíba uma pessoa indiciada ou até mesmo condenada de concorrer à presidência.”
O professor de relações internacionais da Facamp James Onnig acrescenta que o processo contra o ex-presidente pode ter um outro desfecho se chegar até as eleições. “Esse processo vai se alongar e pode entrar no período eleitoral. Nesse caso, outras legislações passam a fazer parte do conjunto da proteção de cada cidadão americano que estaria sofrendo um processo. Isso vai ser julgado por uma corte eleitoral”.
Republicanos e Democratas
Os dois principais partidos americanos tentam aproveitar o destaque que Trump obteve nos últimos meses para conquistar votos e arranhar a imagem de possíveis adversários na disputa pela Casa Branca.
O ex-presidente afirma que está sendo vítima de uma “caça às bruxas”, que ele interpreta como sendo uma tentativa de frear o processo eleitoral no país.
“Um dos dias mais tristes na história do nosso país. Somos uma nação em declínio”, disse Trump em sua plataforma Truth Social enquanto era levado para a corte na terça-feira (13).
Os especialistas ouvidos pelo R7 não apontam que o jogo eleitoral acabou para o ex-presidente. Apesar de serem acusações graves e ser o primeiro ex-presidente a ser indiciado, os dois lados da política americana seguem firmes em suas narrativas.
“As pessoas que votam nos republicanos não vão votar nos democratas e vice e versa. A parcela da população indecisa, lembrando que o voto é facultativo, não se mobiliza tanto”, explica a professora da Universidade São Judas.
O professor da Facamp afirma que os argumentos de Trump para se defender das acusações estão funcionando entre os eleitores republicanos que apoiam o ex-presidente e que, por enquanto, não há um impacto direto na candidatura do bilionário.
“Os republicanos mais trumpistas argumentam que o que está acontecendo é uma perseguição ao ex-presidente e que ele levou os documentos para casa é uma questão legítima por ele ser ultra patriota. Esse tipo de narrativa pode colar mais no eleitorado fiel ao Trump”.
Onnig explica que esse cenário pode mudar se for provado que Trump cometeu um crime de alta periculosidade ao país. Nesse caso, poderia haver uma divisão entre os apoiadores e seria uma vantagem para os democratas.
Ana Clara afirma que a opinião pública americana ainda está bastante dividida e não vê o atual presidente e seu partido como favoritos. “O Joe Biden recebe diversas críticas e enfrenta muita dificuldade para governar. É preciso esperar o julgamento para ver se Trump será condenado e ver se isso gera comoção a favor ou contra”.
Formação do júri
O futuro do ex-presidente pode mudar quando seu caso chegar ao júri. Isso porque dependendo da corte onde o julgamento acontecerá pode haver uma maior ou menor influência de eleitores republicanos e apoiadores de Trump.
“O caso se encontra sob jurisdição de uma juíza da corte do condado de Palm Beach, um lugar onde Trump obteve 43% dos votos na última eleição. Por esse motivo, inclusive, a acusação tem buscado verificar a possibilidade de processar Trump no Distrito de Columbia, onde a maioria dos juízes foram apontados por presidentes democratas e Trump teve menos de 10% dos votos”, afirma o advogado Emanuel Pessoa.
Onnig afirma que independente da posição política dos membros do júri a gravidade das acusações podem pesar para que Trump seja condenado.
“O crime vai muito além das questões das eleições. Muitos especialistas consideram que é pouco o Trump não poder ser candidato. Isso não seria uma punição exemplar, porque a violação de documentos ultra secretos pode, realmente, colocar a segurança dos EUA em risco”, afirma.
Emanuel aponta para um desfecho mais complexo e inesperado se Trump conseguir ser eleito e retornar para a Casa Branca. “Embora seja possível a sua prisão, ela não é necessariamente provável, ainda mais que o ex-presidente deverá arrastar o caso por um longo tempo. Caso ele seja eleito, é possível até mesmo que tente se perdoar”.
Diante do juiz, Trump negou as dezenas de acusações criminais apresentadas contra ele. Certamente estamos entrando com uma declaração de inocência”, disse Todd Blanche, advogado de Trump, durante a audiência.
A rua em frente do prédio do Tribunal Federal de Justiça em Miami demonstrou que Trump ainda tem muitos apoiadores e força eleitoral. Apesar de muitas pessoas exibirem cartazes contra o ex-presidente, um número expressivo de trumpistas também fazia barulho e agitava bandeiras estampadas com o nome do político e empresário.
Fonte: R7