Yocheved Lifschitz, de 85 anos, é uma das duas reféns que foram libertadas pelo Hamas na noite de segunda-feira (23/10).
“Passei pelo inferno, algo que eu nunca poderia esperar”, disse ela, ao descrever como foi sequestrada por homens armados do Hamas em motocicletas no dia 7 de outubro.
Ela está internada num hospital em Tel Aviv, em Israel, onde participou de uma coletiva de imprensa na manhã desta terça-feira (24/10).
Lifschitz diz que foi levada à Gaza através de um portão, e a viagem provocou alguns hematomas. Ela também diz que estava com dificuldades para respirar.
Ela acrescenta que o governo isralense gastou muito dinheiro na cerca que separa a fronteira entre o país e o território palestino — mas fez pouco para impedir a passagem do Hamas.
Ao lado de Nurit Cooper, Lifschitz foi uma das duas mulheres libertadas ontem pelo Hamas — a terceira e a quarta reféns a serem libertadas desde que mais de 200 pessoas foram sequestradas em Israel e levadas para Gaza.
Sharone, filha de Yocheved Lifschitz, ajudou a mãe a contar os detalhes do que viveu nas ultimas semanas.
Ela confirma que a mãe foi levada de motocicleta e, ao explicar sobre os hematomas, diz que ela foi atingida por bastões.
Yocheved foi então forçada a caminhar alguns quilômetros em solo molhado, detalhou filha.
Sharone descreveu uma “enorme rede” de túneis subterrâneos administrados pelo Hamas, que ela compara a uma “teia de aranha”.
Sharone disse que os captores de sua mãe tiraram o relógio e as joias dela enquanto a levavam.
Quando ela desceu da moto, as pessoas que a recepcionaram lhe disseram que “acreditam no Alcorão” e, portanto, não iriam machucá-la.
Yocheved e outras 24 pessoas foram levadas para uma rede de túneis. Ela detalhou que o local tem um “solo macio e úmido”.
Ela diz que, depois de duas ou três horas, eles separaram cinco pessoas que viviam no kibutz Nir Oz em uma sala separada
Ela diz que havia guardas, um paramédico e um médico.
Lifschitz disse que o cativeiro era limpo.
Os reféns dormiam em colchões no chão nos túneis sob Gaza, com um médico vindo visitá-los a cada dois ou três dias.
Um prisioneiro que ficou gravemente ferido num acidente de moto a caminho de Gaza teve os ferimentos tratados.
Lifschitz acrescenta que um paramédico veio vê-los para trazer os medicamentos de que precisavam.
Lifschitz ainda detalhou que havia um guarda para cada uma das cinco pessoas mantidas como reféns no grupo dela.
Segundo o relato dela, os captores “cuidaram de cada detalhe” — inclusive com o auxílio de mulheres que conheciam a “higiene feminina”.
Lifschitz contou que, enquanto estava detida nos túneis, o grupo recebeu queijo e pepino para comer.
Essa era a mesma comida que os captores do Hamas comiam, acrescentou a filha, Sharone.
A filha de Lifschitz mora em Londres e chegou a Tel Aviv esta manhã.
Referindo-se aos outros reféns feitos pelo Hamas, ela diz que a sua mãe sente que “a história não acabará até que todos voltem” para casa.
Anteriormente, Sharone havia dito ao programa Today, da BBC Radio 4, que a mãe estava “ansiosa para compartilhar informações”.
Marido mantido refém é jornalista que ajuda palestinos doentes
Até o momento, quatro reféns foram libertados, dos mais de 200 capturados pelo Hamas.
Duas israelenses-americanas — a mãe e filha Judith e Natalie Raanan — foram soltas na sexta-feira (20/10).
Os maridos de Yocheved Lifschitz e Nurit Cooper continuam desaparecidos, supostamente mantidos em cativeiro em Gaza.
Oded Lifschitz — marido de Yocheved — é um jornalista que durante décadas trabalhou pela paz e pelos direitos dos palestinos, declarou a filha do casal.
Oded fala árabe e trabalhava para o jornal Al-Hamishmar, publicado em Israel e nos territórios palestinos.
Mais recentemente, ele fazia trabalhos voluntários em um grupo que transporta palestinos doentes de Gaza para fazer tratamento em hospitais israelenses.
Segundo o Sindicato Nacional dos Jornalistas de Israel, em 1972 ele defendeu os direitos do povo beduíno, que foi expulso da região de Rafah, ao sul de Gaza.
Em 1982, Oded foi um dos primeiros jornalistas a reportar o massacre nos campos de refugiados palestinos em Beirute.
Ele e a esposa cofundaram o kibutz Nir Oz. Depois de deixar o emprego no jornal, Oded escreveu para a imprensa local e publicou artigos de opinião no jornal Haaretz.
O ministério da saúde gerido pelo Hamas em Gaza afirma que 5 mil pessoas foram mortas no território palestino desde 7 de Outubro. Mais de 1,4 mil foram mortos nos ataques do Hamas a Israel.
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Fonte: BBC