Com abordagem analítica e linguagem acessível, o livro “O que não disse Jesus“, de autoria de Joseval Carneiro, propõe uma releitura crítica dos principais ensinamentos atribuídos ao Mestre galileu, confrontando-os com os princípios da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec. A obra, publicada pela Editora EME, teve sua segunda edição revista e ampliada lançada em fevereiro de 2021.

Composto por 56 capítulos, o livro se estrutura em torno de comentários sobre trechos específicos dos Evangelhos, como as bem-aventuranças, as parábolas, os milagres e as máximas morais atribuídas a Jesus. O autor analisa cada passagem sob perspectiva filosófica, religiosa e ética, lançando mão de fontes bíblicas, exegese linguística e fundamentos do Espiritismo.
Reencarnação, livre-arbítrio e justiça divina: fundamentos da crítica doutrinária
Entre os temas centrais do livro estão a preexistência da alma, o princípio reencarnacionista e o papel do livre-arbítrio na construção do destino individual. No capítulo “Renascer da água e do espírito”, Joseval Carneiro argumenta que a resposta de Jesus a Nicodemos (João 3:1-12) não se refere exclusivamente ao batismo, mas à reencarnação como mecanismo de progresso espiritual.
O autor cita estudos contemporâneos sobre experiências de quase-morte e regressão a vidas passadas, como os realizados por Raymond Moody, Ian Stevenson e Hernani Guimarães Andrade, para sustentar a hipótese da continuidade da vida e do retorno do espírito à carne. Também destaca que a noção de justiça divina, conforme expressa por Jesus, exige a reencarnação como instrumento de reparação e evolução moral.
Crítica ao formalismo religioso e ao materialismo da fé
Em diversos capítulos, a obra contrapõe o essencialismo ético do Cristo ao ritualismo religioso, como no episódio do “Lavar as mãos”, em que o autor ressalta que Jesus condenava as exterioridades em detrimento da transformação íntima. “A boca fala daquilo que está cheio o coração”, afirma o autor, reafirmando que a verdadeira reforma se dá no campo da consciência.
Outro destaque é a crítica à visão materialista da fé, expressa em frases como “melhor ser do que ter” e no contraste entre a caridade genuína e o doador ostentatório. O autor defende que a verdadeira religião está no gesto silencioso, no perdão repetido e na disposição de transformar o próprio ser como instrumento de bem.
Joseval Carneiro: trajetória jurídica e espiritual
Nascido na Bahia em 1941, Joseval Carneiro é advogado, professor e autor de obras voltadas à espiritualidade e à autoajuda. Com mais de quinze títulos publicados, muitos deles adotando perspectiva doutrinária espírita, o autor constrói em O que não disse Jesus uma obra voltada à interpretação racional da fé, conciliando o Evangelho com os princípios filosóficos do Espiritismo kardecista.
Segundo o prefácio da obra, assinado por Augusto de Lima Bispo, vice-presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, trata-se de “uma das melhores obras do autor”, destacando a clareza na abordagem dos ensinamentos evangélicos e a profundidade dos comentários oferecidos.
Atualização doutrinária e fidelidade aos Evangelhos
Embora afirme não pretender ser “dono da verdade”, o autor realiza uma análise crítica de passagens que, em sua avaliação, foram mal compreendidas ou descontextualizadas ao longo dos séculos. Ao mesmo tempo, reafirma sua fidelidade às fontes originais – os Evangelhos – e sua consonância com os postulados da Codificação Espírita, rejeitando interpretações arbitrárias ou reformulações simplistas da obra kardequiana.
Na introdução da obra, Carneiro observa:
“Nossa proposta é mais simples e objetiva: tão somente pinçar alguns aspectos polêmicos […] tentando, tanto quanto possível, esclarecer as dúvidas e ensejar melhor uniformização dos fatos”.

Fonte: Jornal Grande Bahia / Foto: Reprodução