A automedicação com colírio é mais comum — e perigosa — do que parece. Oftalmologista alerta sobre os riscos
Seja pela sensação de olho seco ou pelos desconfortos comuns do verão, como o sol intenso e a exposição à água do mar e da piscina — muitas vezes, aplicar colírio nos olhos é a primeira opção do brasileiro. No entanto, a prática pode ser bastante perigosa. Isso porque, de acordo com o Ministério da Saúde, a automedicação é a maior causa de internação por intoxicação.
Segundo especialistas, muitos brasileiros não veem o colírio como um remédio, e por isso utilizam o produto à vontade. Um levantamento nos prontuários de 370 pacientes do Instituto Penido Burnier mostra que 4 em cada 10 chegam aos consultórios usando colírio por conta própria.
Por que não usar colírio por conta própria
O médico oftalmologista Dr. Leôncio Queiroz Neto, presidente do Instituto Penido Burnier, afirma que o uso indiscriminado de colírios mascara doenças. Por isso, possibilita a evolução silenciosa de alterações nos olhos.
“O risco é maior no caso de medicações com corticoide. Isso porque, após um período prolongado de tempo, a substância pode causar catarata e glaucoma, importantes causas de perda da visão no país”, destaca Leôncio.
Ainda segundo ele, o colírio preferido na automedicação é o adstringente que tem efeito vasoconstritor e deixa os olhos branquinhos. Muitos pacientes, comenta, viciam neste colírio que ao longo do tempo pode causar hipertensão arterial.
Como prevenir conjuntivite e terçol
Conforme o médico, entre as motivações mais comuns para usar colírio sem orientação estão quadros de conjuntivite e terçol, que exigem maior hidratação dos olhos. Além disso, vale destacar que o verão aumenta a vermelhidão e desconforto nos olhos causados pelo sol, mar, cloro das piscinas, água contaminada das praias e maior uso de ar-condicionado.
A conjuntivite, comenta Leôncio, tem como efeitos colaterais no olho a desestabilização da lágrima e da córnea, lente externa do olho, que se nutre do filme lacrimal. É portanto, um fator de risco para olho seco evaporativo e ceratite, inflamação da córnea.
“Isso porque, a conjuntiva produz junto com as glândulas lacrimais a camada de mucina do filme lacrimal que permite a aderência da lágrima à superfície do olho. Por isso, manter a hidratação dos olhos é a primeira recomendação para enfrentar o calor extremo com mais conforto “, esclarece.
Além disso, o calor também estimula a formação do terçol ou hordéolo que causa dor, vermelhidão e inchaço na pálpebra superior. O terçol, explica o oftalmologista, é a inflamação de duas pequenas glândulas localizadas na base dos cílios provocada pelo acúmulo de oleosidade da pele e proliferação de bactérias que aumentam no calor.
Quando a inflamação acontece nas glândulas da pálpebra que produzem a camada oleosa da lágrima forma o calázio, uma bolinha dura na pálpebra, diz o médico. Porém, é possível prevenir ambos os quadros com algumas condutas simples de higiene.
“Manter as mãos limpas, os olhos hidratados, evitar excesso de produtos na região dos olhos, não compartilhar colírio, fronha, toalha ou maquiagem são as principais recomendações para evitar a conjuntivite, o calázio e o terçol no verão”, afirma.
Tratamentos
O especialista ressalta que nos casos de conjuntivite nenhum colírio deve ser usado sem prescrição e acompanhamento médico. Isso porque, o tratamento varia conforme a gravidade e tipo de conjuntivite – geralmente dura de 7 dias a 2 semanas.
A conjuntivite viral, ressalta, tem uma secreção viscosa. Quando é branda pode ser tratada com colírio anti-inflamatório não hormonal que é isento de corticoide. As inflamações graves são tratadas com anti-inflamatórios hormonais.
Na conjuntivite bacteriana, você pode acordar com as pálpebras grudadas. Queiroz Neto afirma que tem como diferencial a secreção amarelada e purulenta. O tratamento utiliza colírio antibiótico geralmente por 7 dias.
A conjuntivite alérgica tem como principais características secreção aquosa e coceira intensa que aumenta a vermelhidão quanto mais os olhos são coçados. O tratamento pode ser feito com colírio antialérgico nos casos brandos e corticoide nos severos. Uma dica do oftalmologista é aplicar compressas frias nos olhos para diminuir o prurido.
A conjuntivite tóxica decorrente do contato da mucosa ocular com algum produto de higiene pessoal geralmente não requer uso de colírio. Desaparece espontaneamente. Para aliviar o desconforto, a principal recomendação é lavar abundantemente os olhos com água.
Pessoas mais sensíveis devem fazer compressas frias com água ou soro fisiológico. Caso evolua para conjuntivite alérgica o tratamento é feito com colírio anti-histamínico sempre com supervisão médica.
Ao primeiro sinal tanto de terçol como de calázio, Queiroz Neto recomenda aplicar quatro vezes ao dia compressas mornas feitas com gaze e soro fisiológico durante quinze minutos. Caso não perceba melhora em dois dias é necessário consultar um oftalmologista.
Fonte: Saúde em dia