Os alimentos que podem causar saciedade e ajudar a emagrecer como o Ozempic

saúde

Você provavelmente já ouviu falar do medicamento Ozempic, usado para controlar diabetes tipo 2 e como remédio para perder peso.

O Ozempic (e o medicamento de efeito similar Wegovy) ocupou manchetes na imprensa e esteve envolvido em controvérsias: uma escassez de oferta global, tuítes de Elon Musk sobre seu uso do medicamento, a aprovação para perda de peso em adolescentes nos EUA.

O apresentador do Oscar Jimmy Kimmel até fez piada com isso na maior festa do cinema em março deste ano.

Mas até que ponto realmente precisamos de medicamentos como o Ozempic? Podemos usar alimentos para substituí-lo?

Como funciona o Ozempic?

O princípio ativo do Ozempic é a semaglutida, que atua induzindo a saciedade. Essa sensação de estar satisfeito ou “cheio” suprime o apetite. É por isso que funciona para perda de peso.

A semaglutida também ajuda o pâncreas a produzir insulina, e é assim que ajuda a controlar o diabetes tipo 2. Nosso corpo precisa de insulina para transportar para dentro das células a glicose (o açúcar do sangue) que obtemos dos alimentos, para que possamos usá-la como energia.

A semaglutida funciona imitando o papel de um hormônio natural, chamado GLP-1 (peptídeo-1 semelhante ao glucagon), normalmente produzido em resposta à detecção de nutrientes quando comemos.

O GLP-1 faz parte da via de sinalização que informa ao corpo que você comeu e o prepara para usar a energia proveniente da comida.

A comida pode fazer isso?

Os nutrientes que desencadeiam a secreção de GLP-1 são macronutrientes – açúcares simples (monossacarídeos), peptídeos e aminoácidos (de proteínas) e ácidos graxos de cadeia curta (de gorduras e também produzidos por bactérias intestinais boas).

Existem muitos desses macronutrientes em alimentos com alta densidade energética, que tendem a ser alimentos ricos em gordura ou açúcares com baixo teor de água. Há evidências de que, ao escolher alimentos ricos nesses nutrientes, os níveis de GLP-1 podem ser aumentados.

Isso significa que uma dieta saudável, rica em nutrientes estimulantes do GLP-1, pode aumentar os níveis de GLP-1. Podem ser alimentos com gorduras boas, como abacate ou nozes, ou fontes de proteína magra, como ovos.

E os alimentos ricos em fibras fermentáveis, como vegetais e cereais integrais, alimentam as nossas bactérias intestinais, que depois produzem ácidos graxos de cadeia curta capazes de desencadear a secreção de GLP-1.

É por isso que dietas ricas em gordura, fibras e proteínas podem te ajudar a se sentir saciado por mais tempo. É também por isso que a mudança na dieta faz parte do controle do peso e do diabetes tipo 2.

Não tão rápido…

No entanto, não é necessariamente tão simples para todos. Este sistema também significa que, quando fazemos dieta e restringimos a ingestão de energia, ficamos com mais fome. E, para algumas pessoas, esse “ponto de referência” para peso e fome pode ser diferente.

Alguns estudos demonstraram que os níveis de GLP-1, especialmente após as refeições, são mais baixos em pessoas com obesidade. Isto pode ser devido à redução da produção de GLP-1 ou a um aumento de sua degradação.

Os receptores que o detectam também podem ser menos sensíveis ou pode haver menos receptores. Isto pode ser devido a diferenças nos genes que codificam o GLP-1, os receptores ou partes das vias que regulam a produção.

Essas diferenças genéticas são coisas que não podemos mudar.

Bagel recheado com cream cheese, salmão defumado, abacate e ovo  frito
GETTY IMAGES, Alimentos com ‘gorduras boas’ incluem ovos, abacate e salmão

Então as injeções são a solução mais fácil?

Embora dieta e medicamentos possam funcionar, ambos têm seus desafios.

Medicamentos como o Ozempic podem ter efeitos colaterais, incluindo náuseas, vômitos, diarreia e problemas em outros órgãos. Além disso, quando as pessoas param de tomá-lo, a sensação de saciedade começa a desaparecer e as pessoas começam a sentir fome nos níveis anteriores.

Se perdeu muito peso rapidamente, você pode sentir ainda mais fome do que antes.

As mudanças na dieta apresentam muito menos riscos em termos de efeitos colaterais, mas as respostas exigirão mais tempo e esforço.

Na nossa movimentada sociedade moderna, os custos, o tempo, as competências, a acessibilidade e outras pressões também podem ser barreiras à alimentação saudável, à sensação de saciedade e aos níveis de insulina.

As soluções dietéticas e medicamentosas muitas vezes colocam o foco nas mudanças individuais para melhorar os resultados de saúde. Mas as mudanças sistêmicas, que reduzem as pressões e barreiras que dificultam a alimentação saudável (como a redução da semana de trabalho ou o aumento do salário mínimo), têm muito mais probabilidade de fazer diferença.

Também é importante lembrar que o peso é apenas uma parte da equação da saúde. Se você suprimir o apetite, mas mantiver uma dieta rica em alimentos ultraprocessados e pobres em micronutrientes, poderá perder peso, mas não aumentar sua nutrição de fato.

Portanto, é necessário apoio para melhorar as escolhas alimentares, independentemente do uso de medicamentos ou da perda de peso, para verdadeiras melhorias na saúde.

O resultado final

A velha frase “deixe a comida ser o seu remédio” é cativante e frequentemente baseada na ciência, especialmente quando os medicamentos são deliberadamente escolhidos ou concebidos para imitar hormônios e compostos que já ocorrem naturalmente no corpo.

Mudar a dieta é uma forma de modificar nossa saúde e nossas respostas biológicas. Mas estes efeitos ocorrem num contexto da nossa biologia pessoal e das nossas circunstâncias únicas de vida.

Para algumas pessoas, a medicação será uma ferramenta para melhorar o peso e os resultados relacionados à insulina. Para outros, a comida por si só é um caminho razoável para esse sucesso.

Embora a ciência seja para as populações, os cuidados de saúde são individuais e as decisões sobre alimentos e/ou medicamentos devem ser tomadas com o aconselhamento ponderado de profissionais de saúde. Clínicos gerais e nutricionistas podem trabalhar com sua situação e necessidades individuais.

*Professora sênior de Ciência Alimentar e Nutrição Humana, na Escola de Ciências Ambientais e da Vida da Universidade de Newcastle, no Reino Unido.

Este artigo foi publicado no The Conversation e reproduzido aqui sob uma licença Creative Commons. Clique aqui para ler a versão original em inglês.

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