Segundo Miguel Angelo Hyppolito, a “diabetes mellitus” pode ser causadora da paralisia facial, assim como infecções no ouvido, entre outras moléstias
Por Simone Lemos – Terça, 6 de dezembro de 2022
De repente você sente, de uma hora para a outra, que sua boca está entortando, ou que, ao acordar, seu rosto está torto e você não consegue falar direito, seu olho não fecha. Esses sintomas, sem nenhuma causa específica, podem ser a paralisia de Bell. Miguel Angelo Hyppolito, professor do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia, Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, explica que, dentro do espectro da paralisia facial periférica, existe a paralisia de Bell, que tem esse nome quando não há uma causa específica para a paralisia facial periférica idiopática.
Apesar de muitos nunca terem ouvido falar da doença, ela é mais comum do que se imagina em todo o mundo e pode ocorrer em qualquer pessoa, independentemente do sexo ou idade. Na maioria dos casos, sua recuperação costuma ser total. O doutor Hyppolito explica que, “na paralisia facial periférica, a pessoa tem uma desfiguração da face. Ocorre uma paralisia dos músculos da face, que compromete metade do rosto, o que a gente chama de uma hemiface. Nos casos onde há comprometimento dos dois lados do rosto, o que pode acontecer, é importante o diagnóstico de causas, que são chamadas de causas mais centrais de paralisia facial periférica”.
Incidência da doença
A paralisia facial periférica geralmente aparece em uma incidência de 13 até 34 casos a cada 100 mil habitantes, podendo atingir qualquer lado do rosto, e é menos frequente em crianças. Mulheres grávidas e idosos acima dos 70 anos estão mais propensos a apresentar o problema, que é menos frequente em crianças menores de 10 anos e recém-nascidos. A paralisia de Bell pode ter causas metabólicas como o diabetes mellitus, pré-eclâmpsia, acidente vascular cerebral, infecções como otites médias, de ouvido, infecções da mastoide como mastoidites, infecções virais como o vírus da influenza e outras doenças infecciosas. Também pode ocorrer após cirurgias, como a de remoção de tumores como o do nervo auditivo e cerebrais. Traumas como fratura da mastoide durante o parto, doenças autoimunes como o lúpus e miastenia gravis e o uso de medicamentos como o interferon também podem causar o problema.
A paralisia dos músculos da face pode começar subitamente e vai progredindo, levando de semanas a meses para a sua recuperação. A paralisia pode ser total ou parcial. Uma avaliação médica pode identificar a paralisia facial, muitas vezes sendo necessários exames complementares como o de imagem, tomografia, ressonância magnética, além de exames eletrofisiológicos chamados também de eletromiografia, que vão auxiliar também na identificação do problema e na recuperação do paciente. Audiometria e impedanciometria também podem ser solicitadas, já que um ramo do nervo facial está relacionado com o sistema auditivo.
Pelo fato de o nervo facial estar intimamente relacionado com o ouvido, uma das especialidades que pode atender no caso de uma paralisia parcial periférica é o médico otorrinolaringologista. Ele é capaz não só de fazer o diagnóstico, mas também o acompanhamento e indicação do tratamento adequado, assim como um neurologista.
Tratamento
O tratamento pode ser realizado com medicamentos como corticosteroides e antivirais. São necessários cuidados oculares, porque não ocorre o fechamento do olho no lado paralisado e isso pode causar ressecamento da córnea e levar à formação de úlcera de córnea. Fisioterapia motora da face é indicada e, em alguns casos, pode ser necessária a cirurgia para descompressão do nervo facial. Mesmo assim, alguns pacientes podem não apresentar uma recuperação total, precisando de aplicação de toxina botulínica, cirurgia plástica ou oftalmológica. Outros tratamentos coadjuvantes não são consagrados pela literatura, porque não existem evidências que fisioterapias com choque, como a eletroestimulação, e terapias como a acupuntura possam ajudar. Não há evidências clínicas, mas há relatos de pacientes com a utilização dessas formas de tratamento, como conta o jornalista Ferraz Júnior, da Rádio USP de Ribeirão Preto, que passou por esse susto.
Ele relata que, após fazer uma cirurgia para retirada do dente do siso, a paralisia começou. “Uma semana depois da extração do siso eu comecei a sentir os sintomas. Espasmos na boca e no queixo. A médica dentista recomendou que eu fosse voando para o hospital, porque ela achou que eu estivesse tendo um AVC. Eu corri para o pronto-socorro, o médico fez entrevista comigo e, como eu não tinha outros sintomas, como tontura, confusão mental, dificuldade para caminhar, para falar, ele descartou o AVC. Eu fiz uma tomografia computadorizada. Foi aí que o médico falou que eu estava com paralisia de Bell. Fui me inteirar sobre o que era. Tomei antibióticos, única medicação utilizada. Fiz alguns exercícios de estímulo muscular na face direita. Com 15 dias comecei a fazer um tratamento de acupuntura e, depois da terceira sessão, já estava com meu rosto completamente normalizado. Em um mês de paralisia de Bell eu já estava tranquilo, normal.”
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Fonte: Jornal USP