Evento acontece de 7 a 19 de dezembro em Montreal, no Canadá; espera-se que a COP15 dê origem a um grande acordo de defesa da biodiversidade capaz de frear a perda de espécies, assim como o Acordo de Paris busca enfrentar o desafio da emergência climática
Enquanto os olhos do mundo se voltam aos efeitos socioeconômicos de enchentes, secas, furacões e outros eventos climáticos cada vez mais frequentes e extremos, e os governos discutem soluções para frear o aquecimento global, há uma infinidade de seres que seguem em risco no reino vegetal e animal. Um clima equilibrado é essencial para sustentar todas as formas de vida na Terra, não apenas nós, humanos.
Assim como o clima, a biodiversidade, essa teia vital da qual dependemos para tantos fins – produção de alimentos, água, remédios, vivência cultural, crescimento econômico, entre outros – também sustenta nosso bem-estar. Mas as mudanças induzidas pelas mentes e as mãos do Homo sapiens no último século foram tão profundas e vastas que o fizemos algo inédito: deixamos nossa impressão digital na Terra, a ponto de ganharmos uma era geológica própria — o Antropoceno.
Esse período recente da nossa história não funda um presente e futuro positivos para a vida. Pelo contrário: os homens são os principais responsáveis pela sexta extinção em massa e pela emergência climática, que precisamos enfrentar dentro de uma geração sob pena de sofrer seus efeitos mais nefastos. Em um processo de mão dupla, as mudanças no clima são um dos principais fatores de perda de biodiversidade, e a devastação no reino animal e vegetal, ao seu turno, prejudica nossa resiliência.
A destruição dos ecossistemas mina a capacidade da natureza de regular as emissões de gases de efeito estufa (GEEs) e de nos proteger contra condições climáticas extremas.
Isso explica por que as duas crises devem ser enfrentadas em conjunto com políticas integrativas que abordem ambas as questões simultaneamente e não isoladamente. O tempo é curto. Estima-se que até um milhão de espécies estão ameaçadas pelo risco de extinção, enquanto ecossistemas únicos, como partes da floresta amazônica, estão se transformando de sumidouros de carbono para fontes emissoras com o avanço do desmatamento.
Nossa espécie tem transformado os ecossistemas marinhos, terrestres e de água doce em todo o mundo, com graves efeitos colaterais. Divulgado a cada dois anos pelo grupo WWF, o Relatório Planeta Vivo (em inglês, Living Planet Report 2022) revela uma queda média impressionante de 69% nas populações de animais selvagens em todo o mundo nas últimas quatro décadas. Regiões tropicais são as mais afetadas. Entre 1970 e 2018, as populações monitoradas na América Latina e Caribe encolheram 94% em média.
“Estamos enfrentando uma dupla emergência global provocada pelas ações humanas: a das mudanças climáticas e da perda de biodiversidade, ameaçando o bem-estar das gerações atuais e futuras”, diz um trecho do relatório. Entre os principais fatores do declínio das populações estão a degradação, perda de habitat, exploração, introdução de espécies invasoras, poluição, doenças e, claro, as mudanças climáticas. A situação também é crítica por mar. Recifes de coral vivos, que sustentam cercam de 25% das espécies marinhas e possuem grande importância socioeconômica, foram reduzidos quase pela metade nos últimos 150 anos.
Por isso, são grandes as expectativas para a 15ª reunião da Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB), que acontece de 7 a 19 de dezembro em Montreal, no Canadá. Espera-se que a COP15 dê origem a um grande acordo de defesa da biodiversidade capaz de frear a perda de espécies, assim como o Acordo de Paris busca enfrentar o desafio da emergência climática. Uma oportunidade única para o mundo adotar uma meta global compartilhada que oriente e impulsione a ação entre governos, empresas e sociedade a com a perda de biodiversidade e restaurar a natureza. É nosso destino coletivo em jogo.
Fonte: Um só planeta