Levantamento do Ipec aponta que o autoexame ainda é considerado por muitas mulheres a principal forma de detectar tumores de mama precocemente
O Ministério da Saúde recomenda a realização da mamografia como método de rastreamento para o câncer de mama, ou seja, exame de rotina, para mulheres sem sinais e sintomas na faixa etária de 50 a 69 anos, a cada dois anos.
De acordo com o ministério, o Instituto Nacional de Câncer e a Sociedade Brasileira de Mastologia, o autoexame das mamas não é mais uma técnica recomendada às mulheres para rastreamento da doença. A orientação tem como base diversos estudos sobre o tema que demonstraram baixa efetividade e possíveis danos associados a essa prática.
No entanto, o autoexame ainda é considerado por muitas mulheres a principal forma de detectar tumores de mama precocemente. É o que aponta uma levantamento realizado pelo Instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec) com 1.397 mulheres, a pedido da Pfizer. Foram entrevistadas moradoras de cidade de São Paulo e das regiões metropolitanas de Belém, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e Distrito Federal, com 20 anos ou mais de idade.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o autoexame é indicado como autoconhecimento em relação ao próprio corpo, mas não deve substituir os exames realizados ou prescritos pelo médico, já que muitas lesões, ainda pequenas, não são palpáveis. De acordo com a pesquisa do Ipec, 64% das mulheres consultadas afirmaram acreditar que o procedimento seria o principal meio para o diagnóstico do câncer de mama em seu estágio inicial.
Além de desencontros sobre o papel do autoexame, a maioria das mulheres ouvidas pela pesquisa também demonstra desconhecer as recomendações médicas para a realização da mamografia. O exame pode revelar possíveis lesões nos seios, especialmente em mulheres após a menopausa, além de detectar tumores menores que 1 cm.
Para 54% das mulheres que responderam ao inquérito, não está clara a necessidade de passar pelo procedimento caso outros exames, como o ultrassom das mamas, não indiquem alterações: 38% disseram acreditam que a mamografia deve ser feita apenas mediante achados suspeitos em outros testes, enquanto 16% não souberam opinar.
Cerca de 51% das participantes também não estão cientes da regularidade do exame. Já 30% das entrevistadas estão convencidas de que, após um primeiro exame com resultado normal, a mulher estaria liberada para realizar apenas o autoexame em casa, enquanto 21% da amostra afirma desconhecer qual seria a orientação correta.
“Ao fazer a apalpação e não encontrar nada, a mulher pode acreditar que as mamas estão saudáveis e deixar de fazer avaliações de rotina que detectariam um possível tumor precocemente. Quando a doença é diagnosticada no estágio inicial, ela é mais fácil de tratar, o que melhora o prognóstico e contribui para a redução da mortalidade”, afirma a diretora médica da Pfizer Brasil, Adriana Ribeiro.
Atualmente, os tumores de mama são a principal causa de morte por câncer entre as mulheres. Em outra frente, o levantamento também aponta que 33% das mulheres
ouvidas não têm informações adequados sobre a relação entre a idade e o câncer de mama: 10% nada sabem ou preferem não opinar a esse respeito, enquanto 8% acreditam que aquelas com 40 anos ou menos não precisam se preocupar com a doença e 13% estão convencidas de que as mulheres devem iniciar os exames de rastreamento apenas quando entram na menopausa.
Impactos da pandemia
Os dados da pesquisa indicam que o contexto da pandemia de Covid-19 continua a impactar o cuidado com a saúde feminina.
Quando questionadas sobre os exames mamários feitos nos últimos 18 meses, 48% das participantes do levantamento responderam que não realizaram procedimentos com acompanhamento médico: 21% recorreram ao autoexame e 27% não passaram por nenhuma avaliação nesse período.
Considerando o total da amostra, apenas 34% das respondentes afirmam ter mantido a mamografia nos últimos 18 meses, número que cai para 26% tanto no Distrito Federal quanto em Belém. Quando se trata dos cuidados gerais de saúde, somente 17% das mulheres ouvidas pelo Ipec dizem que, durante a pandemia, realizaram seus exames de rotina com a mesma frequência habitual que mantinham anteriormente à Covid-19. Em Belém esse porcentual oscila negativamente para 11%. Além disso, 23% das entrevistadas nessa região afirmam ter retomado sua rotina de consultas e exames apenas neste ano.
O novo levantamento aponta, ainda, que uma porcentagem considerável de mulheres ainda não retomou suas consultas médicas e exames desde que a pandemia começou: essa é a situação de 7% das participantes, mas a taxa chega a 9% em Porto Alegre e no Recife.
“Temos discutido o afastamento das pessoas de seus cuidados médicos de rotina desde o começo da pandemia. Passados quase três anos, essa situação persiste em alguns grupos, o que se revela muito preocupante, porque pode significar que menos tumores estão sendo identificados precocemente”, afirma Adriana.
Hereditariedade e fatores de risco
A pesquisa evidencia que o desconhecimento sobre o câncer de mama entre as mulheres ouvidas vai além da falta de informação sobre a conduta adequada para a detecção precoce. A maior parte ignora a relação entre o estilo de vida e a doença: 58% das mulheres não associam o excesso de peso como um fator de risco, enquanto 74% não identificam a relação com o consumo de bebidas alcoólicas.
Por outro lado, a herança genética é o fator mais apontado pelas entrevistadas quando perguntadas sobre as causas do câncer de mama: 82% estão convencidas de que a existência de outros casos do tumor na família seria o principal motivo para o desenvolvimento da doença.
“Estamos falando de uma doença multifatorial, em que hábitos de vida e até comportamentos sociais, como a redução no número de filhos, são considerados fatores de risco”, diz a diretora médica da Pfizer.
As participantes da pesquisa desconhecem, por exemplo, a relação entre comportamentos associados ao câncer de mama: apenas 17% estão cientes de que não ter filhos biológicos aumenta o risco para a doença e muitas ignoram o efeito protetor da amamentação, como é o caso de 55% das entrevistadas de Porto Alegre e de 54% das paulistanas.
Alguns mitos ligados ao tema se mostram fortes na população estudada. Entre as mulheres mais jovens, algumas fake news recorrentes sobre o tema aparecem: na faixa que abrange entrevistadas de 20 a 29 anos, por exemplo, 47% não estão convencidas de que o tipo de sutiã usado não impacta no risco de te câncer de mama: 11% dizem acreditar que os modelos com bojo elevam esse risco e 36% não sabem opinar sobre o assunto.
Considerando todas as faixas etárias, tanto em Porto Alegre quanto em Belém apenas 59% das entrevistadas estão cientes de que a relação com essa peça de roupa é falsa.
(Com informações de Fabrício Julião, do CNN Brasil Business)