Na primeira metade do século 20, a tal modernização veio às custas do patrimônio e prédios foram derrubados dando outra cara aos bairros da cidade
Reportagem publicada originalmente no Jornal Metropole em 16 de novembro de 2023
Se as pedras portuguesas de Salvador pudessem falar, que histórias elas nos contariam sobre as transformações que a cidade viveu no século XX? Na década de 40, a cidade testemunhou uma remodelação que, para alguns, foi como uma tragicomédia, chamada “As Picaretas do Progresso”, uma peça que deixou um impacto duradouro no cenário arquitetônico.
Na primeira metade do século XX, a tal modernização veio às custas do patrimônio. Prédios históricos foram derrubados para dar lugar a estruturas modernas, que deram outra cara aos bairros da cidade. Mudaram o calçamento, o aspecto visual e o modo de viver em Salvador. Na pressa pelo progresso, parte da identidade arquitetônica da cidade foi sacrificada.
As tais picaretas marcaram a década de 40, quando a ideia de modernidade parecia exigir a destruição do antigo. Alguns casarões coloniais viram seus últimos dias, dando lugar ao alargamento de ruas e construção de prédios que roubaram o charme único que Salvador ostentava. Tudo parecia urgente e mais importante do que o respeito à alma da cidade.
Hoje, ao caminhar por Salvador, é impossível não notar essas cicatrizes. E as picaretas antigas parecem permanecer no ar, ameaçando derrubar e refazer a paisagem, soprando ideias bizarras no vento, arriscando construir cascas de uma história que foi deliberadamente posta abaixo, em nome, mais uma vez, do progresso.
As pedras portuguesas não falam. São testemunhas silenciosas das escolhas feitas no passado. No lugar delas, vamos aqui lembrando dessas e de outras histórias da cidade, atentos para que as (ou os) picaretas do progresso não se animem de novo.
Fonte: Metro 1