Quinta, 21 de dezembro de 2023
Os proprietários estão deixando uma em cada sete casas em Buenos Aires vazia em vez de alugá-la em pesos argentinos, em um contexto em que a inflação ultrapassa os 160% e o influxo de estrangeiros com dólares perturba o mercado imobiliário de locação local, identificou o jornal britânico Financial Times.
Segundo dados da agência estatal de energia da Argentina, obtidos pelo Centro de Estudos para o Desenvolvimento Econômico e Social Urbano (Cedesu) e divulgados pelo jornal, uma média mensal de 228.500 de 1.586.200 residências da capital estavam desocupadas.
O espaço noticioso especificou que o valor, anterior aos últimos aumentos acentuados devido à inflação, aumentou 14% em relação ao mesmo período do ano anterior e 57% desde 2018. Mas apesar do número de casas desocupadas, os moradores de Buenos Aires lutam para encontrar lugares para viver e, nas palavras de ativistas consultados pelos meios de comunicação, esta é a pior crise imobiliária da cidade em 30 anos.
É “uma missão impossível” para os cidadãos encontrar um apartamento, disse ao jornal Gastón Levy, assistente administrativo de 39 anos, que cresceu e mora em Palermo, um bairro elegante e muito frequentado por turistas, na capital argentina.
Segundo ele, os aluguéis estão subindo mais rápido que a inflação e, hoje, “a maioria dos apartamentos normais de um quarto” custa cerca de 400 mil pesos. O valor contrasta com o seu contrato de locação, de 46 mil pesos mensais. Além disso, os proprietários desejam ser pagos em dólares.
No entanto, Levy compartilhou que isso é impossível, porque essa moeda está sempre em alta, ao contrário do dinheiro argentino. Entretanto, na sua primeira semana no poder, o presidente Javier Milei desvalorizou a taxa de câmbio oficial de 400 pesos por dólar para 800, com a qual os economistas esperam que a inflação mensal aumente de 12,8% para 30% em janeiro. Além disso, o presidente disse que vai eliminar a lei do aluguel, que estabelece prazo mínimo de três anos para os contratos e limita os aumentos anuais a dois.
Na opinião do porta-voz de um sindicato de inquilinos que fez lobby pela lei de locação, Gervasio Muñoz, a raiz do problema não é a regulação, mas sim a consolidação das propriedades nas mãos de menos proprietários e a falta de regulação do mercado temporário. E, entre 2006 e 2020, aponta o jornal, a proporção de moradores da cidade que possuem casa própria diminuiu 7,1 pontos percentuais, atingindo 53,3%.
Muñoz também considerou que o plano de Milei de acabar com a lei de locação só vai piorar a situação dos inquilinos, já que basicamente “o seu plano é institucionalizar o ‘cada um por si'”.
Soma-se a isso a crescente onda de trabalhadores remotos e turistas dos Estados Unidos, Europa e países vizinhos que aproveitam um estilo de vida barato para quem tem capacidade de vender dólares no mercado negro, de modo que a situação se torna ainda mais complexa.
Neste contexto, nota o Financial Times, alguns proprietários recorreram a alugueres de curta duração, como a Airbnb, e estão a definir preços contratuais na moeda norte-americana. 70% dos contratos de longo prazo, segundo dados do maior site imobiliário da Argentina, o Zonaprop, tinham preços em dólares. Há três anos, apenas 27% eram pagos nessa moeda.
“Nos últimos três anos, o [número de propriedades na] oferta normal de locação encolheu para um tamanho que nunca vi nos meus 25 anos de mercado”, disse ao Financial Times.
Fonte: Sputniknews