Em vez de boiarem na superfície do mar, polímeros afundam e alteram o ciclo de carbono e o efeito estufa, segundo Alexander Turra
Por Ana Paula Medeiros – Quarta, 27 de abril de 2022
O uso e o descarte indiscriminado de plástico estão em debate há anos e as consequências da má utilização desse material para o planeta preocupa agentes internacionais. Ao contrário do que se pensava sobre o plástico se concentrar na superfície do oceano em forma de lixo, cientistas descobriram que boa parte do polímero está afundando e gerando impactos climáticos, como o agravamento do aquecimento global.
O professor do Instituto Oceanográfico (IO) da USP e coordenador da Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano, Alexander Turra, revela que microplásticos estão se aglutinando na “neve marinha” – condição normal do oceano gerada por partículas de microalgas, bactérias e fitoplânctons que afundam devagar no mar – e se tornando mais densas que a água, com a ajuda de microrganismos.
“Essas partículas [da neve marinha] correspondem à matéria orgânica. Então muitos organismos acabam se alimentando diretamente das partículas ou, como as bactérias, transformam e remineralizam essa matéria orgânica em nutrientes que podem ser utilizados pelas algas para fazer a fotossíntese”, informa Turra.
Uma cadeia de efeitos
Segundo o professor, quando os microplásticos afundam com a “neve marinha”, a coluna d’água fica empobrecida de materiais orgânicos e a fotossíntese é comprometida. Consequentemente, há uma redução na captura de CO2, gás relacionado ao efeito estufa.
“Se você para de consumir gás carbônico, o oceano acaba perdendo um pouco do seu papel em controlar o efeito estufa e com isso a gente tem um aumento da temperatura do planeta”, informa Turra sobre os resultados desse processo.
Com o aumento da temperatura do planeta, incêndios, períodos de seca, perda de espécies terrestres e marinhas, tempestades severas e aumento da fome são alguns dos impactos que podem ocorrer. “A gente precisa racionalizar o uso desse material para que a gente possa então utilizar o que ele traz de melhor sem necessariamente gerar malefícios para o ambiente”, afirma o professor.
Fonte: Jornal USP