- Paul Adams
- Role,Da BBC News
- Quarta, 15 de março de 2023
Um incidente envolvendo aviões russos e um drone americano no Mar Negro pode ser o confronto mais significativo entre os Estados Unidos e a Rússia reconhecido publicamente desde a invasão da Ucrânia por Moscou há pouco mais de um ano.
Os EUA acusaram a Rússia de comportamento imprudente depois que um drone americano caiu no Mar Negro após um encontro com caças russos.
Antes da colisão, os jatos russos teriam despejado combustível no caminho do drone que os EUA dizem estar no espaço aéreo internacional.
O drone MQ-9 Reaper danificado foi derrubado pelos próprios EUA depois que ficou “impossível de controlar” a aeronave, disse o Pentágono.
A Rússia negou que seus dois caças Su-27 tenham feito qualquer contato.
A questão-chave é se o encontro foi apenas uma tentativa da Rússia de bloquear o drone dos EUA — ou se foi uma tentativa deliberada de derrubá-lo.
Autoridades militares dos EUA disseram que o incidente aconteceu por volta das 7h03, horário da Europa Central (3h03 no horário de Brasília), na terça-feira (14/3). O suposto confronto durou cerca de 30 a 40 minutos.
Várias vezes antes da colisão, os caças despejaram combustível no drone de “maneira imprudente, ambientalmente nocivo e pouco profissional”, disse em um comunicado.
O porta-voz do Pentágono, brigadeiro-general Pat Ryder, disse a repórteres que o drone se tornou “inviável e incontrolável, então o derrubamos”, acrescentando que a colisão provavelmente também danificou a aeronave russa.
O episódio levanta muitas questões, apesar de a Rússia negar que seus aviões tenham feito contato direto com o drone.
John Kirby, do Conselho de Segurança Nacional dos EUA (NSC), disse que houve outras interceptações de aviões russos “nas últimas semanas”, embora este episódio tenha sido diferente.
Poderia ter sido um acidente?
“Com base nas ações dos pilotos russos, está claro que [a ação deles] foi insegura, pouco profissional”, disse Ryder. “Acho que as ações falam por si.”
Segundo o Pentágono, o incidente durou entre 30 e 40 minutos.
Ryder disse que durante esse tempo não houve comunicação direta entre os militares russos e americanos.
Autoridades dos EUA dizem acreditar que os jatos russos Su-27 envolvidos no incidente “provavelmente” sofreram algum dano, indicando que a colisão não foi deliberada.
“Sei que o Departamento de Estado está levantando nossas preocupações sobre o incidente diretamente com o governo russo”, relatou Ryder.
O que significa esse episódio — se é que significa alguma coisa, para o futuro das operações de drones dos EUA no Mar Negro de vigilância em apoio à Ucrânia?
“Se a mensagem é que eles querem nos desencorajar de voar ou operar no espaço aéreo internacional sobre o Mar Negro, então essa mensagem falhará porque isso não vai acontecer”, disse Kirby.
Vigilância
A Rússia pode estar querendo dificultar o trabalho dos aliados da Ucrânia.
Washington permanece em silêncio sobre o que aconteceu com o drone.
Após a colisão com os navios russos, os pilotos remotos americanos foram forçados a derrubá-lo no Mar Negro.
Ryder não disse onde a aeronave caiu ou se a marinha russa estava tentando recuperá-la.
As gravações de áudio que circulam nas redes sociais parecem indicar que algum tipo de operação russa de resgate estava em curso. Mas isso não foi confirmado.
Claramente, Washington não quer ver uma tecnologia de vigilância tão sensível cair nas mãos dos russos.
Para o presidente dos EUA, Joe Biden, que está determinado a apoiar a Ucrânia “pelo tempo que for necessário”, este é um momento delicado.
Não é apenas o armamento ocidental que está ajudando a Ucrânia a resistir à invasão russa.
É também a tecnologia de inteligência em tempo real sobre as operações militares da Rússia, incluindo o movimento de navios no Mar Negro e o lançamento de mísseis direcionados na Ucrânia.
Desde a defesa da infraestrutura nacional crítica da Ucrânia até o planejamento de suas próprias operações ofensivas, Kiev depende fortemente desse fluxo constante de informações.
Por razões óbvias, as autoridades americanas não revelarão as precauções extras, se houver, que suas operações de vigilância exigirão agora.
Washington quer manter suas operações em andamento, mas quer evitar o uso da força e corre o risco de ser arrastado para um confronto mais direto com Moscou.
Fonte: BBC Brasil