Preços do trigo caem e condições climáticas desafiam safra nos Estados Unidos

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Atual conjuntura apresenta um cenário desafiador para o mercado do cereal, com tensões comerciais e expectativas de aumento na produção global.

Os preços do trigo caíram acentuadamente ao longo da primeira metade de 2023, depois de níveis recordes serem registrados no ano passado. Em boa medida, o cenário altista do ano passado foi condicionado pelo conflito entre Rússia e Ucrânia. Apesar de o conflito perdurar em 2023, o acordo Iniciativa de Grãos têm garantido o escoamento do trigo da região, reduzindo os riscos pelo lado da oferta e, assim, conduzindo os preços para patamares em linha com o histórico dos últimos anos.

Além disso, os preços do trigo em Chicago têm reagido às condições do clima em diferentes regiões do mundo e à configuração dos fluxos comerciais, em um contexto que inclui um volume excedente de trigo russo e dólar fortalecido, tornando as commodities cotadas na divisa dos Estados Unidos menos competitivas. Ou seja, sob a pressão da oferta vantajosa da Rússia, não se espera que os preços avancem para patamares maiores. O contrato contínuo do trigo terminou junho em 636,25 cents por bushel, acumulando uma variação negativa de 8% no segundo trimestre e recuo de 18% desde o início do ano.

O clima durante a safra de inverno 2023/24 dos Estados Unidos registrou irregularidades ao longo do ciclo, com preocupações se intensificando especialmente no Kansas, principal Estado produtor, conforme os danos se tornaram irreversíveis. As quedas de rendimento do trigo de inverno nas Planícies e Noroeste do Pacífico provavelmente reduzirão a média de rendimento nacional.

O trigo ocupa o terceiro lugar entre as culturas temporárias dos Estados Unidos em área plantada, produção e receitas agrícolas brutas – atrás do milho e da soja. Entretanto, a tendência geral de queda do plantio do trigo nas últimas duas décadas pode ser atribuída a retornos relativos mais baixos para o trigo, mudanças nos programas do governo que dão aos agricultores mais flexibilidade de plantio e maior competição nos mercados globais, à medida que a União Europeia e a Rússia ganharam destaque.

No entanto, a área norte-americana de trigo aumentou ligeiramente na última temporada, pois os preços elevados em decorrência do conflito no Mar Negro forneceram um incentivo para se plantar mais trigo.

Condições climáticas

Contudo, nos últimos meses, as condições climáticas estiveram menos favoráveis nos estados produtores de HRW, situação que contribuiu para o ajuste negativo da área plantada, que passou de 20,17 estimada em março para 20,08 milhões de hectares nos novos dados do USDA divulgados em junho. Isto se soma a uma produtividade mais baixa atualmente estimada na edição de junho do relatório de Estimativas para a Oferta e Demanda Globais, em 3,02 toneladas por hectare, e pode resultar em uma tendência de balanço de oferta e demanda mais apertado para os Estados Unidos.

A China, maior país produtor de trigo, também chama a atenção para as condições climáticas, como resultado do El Niño, que gera um potencial de perda dos rendimentos devido às chuvas prolongadas que atingiram as principais áreas produtoras, nas fases finais do ciclo, como na colheita. Por outro lado, na América do Sul, a perspectiva é de que o fenômeno beneficie a safra da Argentina, favorecendo a recuperação dos rendimentos de sua safra de trigo, após uma quebra histórica registrada em 2022/23, sob efeito da seca severa enfrentada pelas lavouras.

Brasil

Para o Brasil, a StoneX estima uma safra recorde de trigo de 11,46 milhões de toneladas esperadas para a produção 2023/24, resultado do aumento da área plantada, cerca de 6,7% superior à área da safra anterior. Esse avanço da área compensa a perspectiva de rendimentos um pouco menores nessa safra que está começando.

Assim, a definição da oferta deve dominar o lado dos fundamentos nos próximos meses. Destaca-se entre os principais fatores, a continuidade do acordo Iniciativa de Grãos – que deve ser negociado novamente em meados de julho e poderá garantir os embarques de trigo para os meses seguintes, período que é marcado historicamente por maiores volumes de exportações da Ucrânia. Além disso, a definição dos rendimentos do trigo dos Estados Unidos e em outros países do hemisfério norte continuará no radar.

Pelo lado da demanda, o mercado acompanha a possibilidade de maiores importações chinesas, para compensar as perdas de safra internas. Mesmo assim, apesar de o trigo ter uma maior resiliência, por ser um mercado ligado a segurança alimentar, é válido lembrar que um contexto de desaceleração econômica pode impactar negativamente a demanda.

Fatores altistas

  • Condições ruins para a safra de trigo de inverno nos Estados Unidos, sobretudo no Kansas;
  • Possibilidade de aumento da demanda chinesa, após chuvas excessivas no campo;
  • Incerteza sobre a renovação do acordo Iniciativa de Grãos.

Fatores baixistas

  • Estimativas de maior produção global para a safra 2023/24 em relação à safra anterior;
  • Fraco desempenho de vendas de exportação dos EUA;
  • Condições favoráveis para a safra na América do Sul.

Fonte: StoneX Brasil

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