Uma mulher foi reinfectada por uma mutação do coronavírus, variante registrada inicialmente na África do Sul, em Salvador. A confirmação foi feita por pesquisadores do Instituto D’or de Ensino e Pesquisa (Idor), do Hospital São Rafael, que pertence ao instituto e fica na capital baiana, da Fundação Oswaldo Cruz(Fiocruz) e da Universidade Federal de Minas Gerais(UFMG). É o primeiro caso de reinfecção por essa cepa.
A mulher é uma profissional da área de saúde, que trabalha em um hospital de Salvador, e tem 45 anos. Teve a primeira infecção pelo novo coronavírus em maio, apresentando sintomas leves da doença, conforme relata um dos responsáveis pela descoberta, o pesquisador do Departamento de Genética da UFMG Renato Santana Aguiar. Os outros integrantes do grupo são Bruno Solano, do Idor/São Rafael, e Marta Giovanetti, da Fiocruz.
A reinfecção ocorreu em outubro. “A paciente não precisou ser hospitalizada mas apresentou mais sintomas do que na primeira vez”, relata o pesquisador da UFMG. Ela não tinha histórico de viagem à África do Sul e também revelou à equipe não saber se alguém com quem teve contanto esteve no país. A mulher ficou em isolamento em maio e outubro. O último exame já deu resultado negativo para covid-19 e ela passa bem.
A confirmação foi possível pelo cruzamento de dados de um cadastro do sistema de saúde sobre pessoas infectadas. Quando um mesmo nome aparece pela segunda vez no cadastro, é feito um sequenciamento do genoma do vírus para comparação com outros já identificados. Ao final dessa pesquisa, foi constatado que se tratava do vírus observado anteriormente no país africano.
A descoberta dos pesquisadores aponta para um possível prazo de duração da produção de anticorpos pelo organismo de quem já teve a covid-19. Não há, porém, como garantir, ao menos por enquanto, qual o tamanho do intervalo durante o qual o corpo humano segue fabricando esses anticorpos. “Temos que observar estudos de países que estão mais à frente do que nós, que indicam que esse prazo por ser de quatro, cinco, no máximo seis meses”, aponta o pesquisador Santana. Essa informação é importante, por exemplo, para realização de campanhas de vacinação.
A identificação do vírus na profissional de saúde de Salvador envolveu pesquisadores do Idor/São Rafael, Fiocruz e UFMG por programa de colaboração que existe entre as instituições. A descoberta de que o vírus é o mesmo registrado na África do Sul foi comunicada à Secretaria de Estado de Saúde da Bahia e ao Ministério da Saúde, que não retornaram contato feito pela reportagem.
A Secretaria da Saúde da Bahia confirmou em nota a reinfecção por SARS -CoV-2 da profissional da área de saúde de Salvador. “Foi observada, na sequência genética do vírus presente no segundo episódio, a mutação E484K, que é uma mutação identificada originalmente na África do Sul”, diz o texto.
A secretaria informou ainda que o comunicado oficial do caso suspeito de reinfecção que acabou se confirmando foi emitido pelo Hospital São Rafael em 22 de dezembro de 2020. A pesquisa foi realizada a partir das análises das amostras sequenciadas pelo Núcleo de Vigilância Genômica em tempo real do SARS-CoV-2 no Brasil, do qual o Laboratório Central de Saúde Pública da Bahia faz parte
As autoridades de saúde na Bahia investigam ainda outros 118 casos suspeitos de reinfecção em pacientes com idades que vão de 5 a mais de 80 anos. Do total, 82 averiguações são referentes a mulheres e 36 a homens.
Fonte: Estadão