Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) discutiram responsabilidade sobre contrato da Enel, poda de árvores e lentidão na retomada da energia. Também trocaram acusações sobre máfia das creches e rachadinha.
Os candidatos Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL), que disputam o segundo turno para a Prefeitura de São Paulo, participaram na noite desta segunda-feira (14) de debate organizado pela Band, em que o apagão que afeta a capital e a região metropolitana desde sexta, após um temporal, foi o principal tema abordado. Nenhum pedido de direito de resposta foi feito.
A mediação foi feita pelo jornalista Eduardo Oinegue.
Regras
O debate, na modalidade de banco de minutos, foi dividido em três blocos:
- Primeiro bloco: cada candidato teve dois minutos para responder a uma pergunta escolhida pela produção da Band, por ordem de sorteio. Na sequência, em confronto direto, cada um teve 12 minutos para administrar como achasse melhor;
- Segundo bloco: quatro jornalistas do Grupo Bandeirantes de Comunicação fizeram perguntas de forma intercalada, com comentário do opositor. Para a resposta e réplica, o candidato teve 3 minutos. Já o comentário foi de 1 minuto;
- Terceiro bloco: começou com mais um confronto direto entre os dois candidatos, novamente com 12 minutos disponíveis para cada um;
- Nas considerações finais, cada um teve 2 minutos para discorrer sobre os cinco temas mais pesquisados pelos eleitores durante o debate.
Apagão
A primeira pergunta foi a mesma para os dois, sobre qual solução pode ser tomada para evitar a falta de luz na cidade de São Paulo. Ambos se comprometeram a rescindir o contrato com a concessionária de energia Enel.
Boulos respondeu primeiro, e afirmou que “esse apagão tem dois grandes responsáveis, a Enel, que é uma empresa que presta um serviço horroroso e que eu, como prefeito de São Paulo, a partir de 1º de janeiro do ano que vem, vou trabalhar para tirá-la daqui, e o Ricardo Nunes”, e disse que “não tem planejamento, as coisas ficam acumuladas, quando vem um temporal, e um temporal que durou menos de uma hora, a gente imagina se tivesse durado mais…”
O candidato afirmou que é necessário garantir “o recurso adequado para poda”. “Segundo, trabalhar com inovação, usar tecnologias disponíveis. Como, por exemplo, o monitoramento via satélite da saúde das árvores para poder definir a prioridade de poda aquelas que têm mais chance de cair. E terceiro que eu acho que muita gente que tá nos assistindo sofreu nos últimos três dias que é melhorar o serviço 156. Você ligava, você não conseguia falar com ninguém. Então permitir que o pedido de poda possa ser feito também via aplicativo e com no máximo um mês de resposta.””
Já Nunes respondeu que “o que aconteceu na sexta-feira realmente é algo muito triste que deixa a gente profundamente magoado” e que “o que essa empresa [Enel] tem feito com a cidade de São Paulo é inaceitável. O governo federal, que detém a concessão, regulação e fiscalização, não tenha feito nada e isso desde novembro do ano passado”.
O prefeito voltou a citar que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira estava tratando da renovação do contrato com a Enel na Europa. “Por que o ministro dele na sexta-feira que nós tivemos um problema aqui estava lá na Europa junto com a Enel, [tratando da] renovação de contrato? Por que o governo federal não fez a rescisão do contrato?”, questionou.
Mais cedo, o ministro afirmou que Nunes faz “fake news” sobre o tema, e disse que o prefeito “aprendeu rápido com o seu concorrente aqui Pablo Marçal quando o que era o campeão da fake news e da falsificação de documento público. Ele fez uma fake news dizendo que nós estávamos tratando da renovação da distribuição da Enel. A Enel vence seu contrato em 2028. Ela tem até 2026 para se manifestar sobre a sua renovação. Na verdade, ainda dá tempo do prefeito se preocupar com a questão urbanística de São Paulo”.
Ataques
No fim do segundo bloco, os dois candidatos trocaram acusações. Boulos questionou a investigação da Polícia Federal na gestão municipal sobre a chamada “máfia das creches”. E o prefeito, quis saber sobre a investigação da rachadinha do deputado Alessandro Janones (Avante), em que Boulos foi o relator na Câmara dos Deputados.
“Você fez o que como deputado? Só fez passar pano na rachadinha do Janones e passar pano na Enel. Aí não dá”, afirmou Nunes.
“Eu nunca fiz rachadinha. Você fez a rachadinha das creches. Queria te fazer uma pergunta. Você sabe que está sendo investigada pela Polícia Federal a máfia das creches, você está na lá. Existe a acusação que você teria recebido um cheque. Então quero fazer essa pergunta para você responder quem está em São Paulo. Você recebeu o cheque na sua conta no Santander como consta a acusação da Polícia Federal?”, perguntou Boulos.
Boulos mencionou reportagem do UOL que mostra que o ex-cunhado de Marcola, líder da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), é chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb).
“Além da resposta de por que você indicou o cunhado do Marcola para Secretaria de Obras, você tem uma resposta pendente: se você aceita ou não abrir o seu sigilo bancário”, perguntou o deputado.
“Meu sigilo bancário já é aberto, está aberto, está à disposição. Eu não tenho nenhuma investigação, nunca fui condenado. Nunca fugi da Justiça igual você. Você ficou seis anos fugindo do oficial de Justiça naquela ação de depredação do Pinheirinho, jogou pedra na viatura. Foi preso. O oficial de Justiça não o achava, e aí prescreveu”, afirmou Nunes.
Afago
Na sequência deste embate, os dois protagonizaram um momento de leveza. O prefeito tossiu, ao finalizar a fala, e Boulos se aproximou. “Você está bem?”, perguntou Nunes, e os dois se abraçaram, rindo. “Eu estou bem, e você?”, disse o deputado.
Ao fim do debate, Boulos disse, sobre o abraço, que “ele [Nunes] ficou meio tenso com a aproximação, ele é meio inseguro. No intervalo, a campanha dele quis falar a respeito, mas estava nas regras. Acho que ele ficou assustado, é um prefeito assustado”.
Já Nunes disse que o psolista “usou de uma tática de querer intimidar, mas eu vim do Parque Santo Antônio, não vou me intimidar. Achei bacana o formato [do debate]. Eu faço questão de ser respeitoso, eu o cumprimentei antes, cumprimentei depois. Acho legal termos discordâncias democráticas”.
Vices e biografias
No terceiro bloco, Boulos insistiu em pedir a Nunes a abertura do sigilo bancário. “Você topa mesmo abrir o sigilo bancário da sua conta do Santander e das contas de todas as suas empresas? Se topar, a gente já chama o advogado no fim do debate, assina. Eu abro meu, abre o seu amanhã. Tá certo isso?”
Nunes respondeu dizendo que não é investigado “Eu tenho uma vida absolutamente limpa. Sou empresário, sou casado há 27 anos, pai de três filhos. Minha esposa está ali, meu filho e minha filhinha. Meu filho Ricardo Nunes Filho que meu deu a honra de ser vovô do Ricardinho Nunes Neto. Você é pai e sabe o quanto isso é alegre. Eu sou cristão, sou temente a Deus, a minha vida é de correção. Por isso que na minha toda eu combati a corrupção.”
Os candidatos a vice também foram lembrados.
Primeiro, Marta Suplicy (PT), com o deputado do PSOL: “Eu tenho o maior orgulho, inclusive, de ter ao meu lado, está aqui no estúdio, a Marta Suplicy que fez o CEU, o Bilhete Único, muita coisa e legado nessa cidade. Vai emprestar essa grande experiência dela, junto com o time que a gente montou com uma equipe extraordinária para fazer o melhor governo da história de São Paulo. O que está em jogo nessa eleição, Ricardo, não é experiência ou inexperiência. O que está em jogo nessa eleição é deixar como está ou mudar”.
Depois, quando Boulos citou o vice de Nunes, Coronel Melo Araújo (PL), lembrando que ele “já disse que é preciso tratar diferente o morador da periferia e do Jardins. Para ele, na periferia, no Capão Redondo, na Cidade Tiradentes, é a chave de braço, é porrada. No Jardins, é ‘bom dia, doutora’. Você concorda com esse tipo de abordagem de segurança urbana?”
Nunes respondeu com a biografia do vice: “O Coronel Mello Araújo prestou mais de 30 anos de serviço para a Polícia Militar. Saía da sua casa, colocava a sua farda para defender a vida de terceiros. Ele recebeu a medalha Cruz de Sangue. Quem recebe a medalha Cruz de Sangue é quando o policial está numa ação e ele é alvejado com um tiro. Ele foi alvejado com um tiro, ele estava numa ação que tinha uma mulher sendo refém com crianças, o filho no colo”.
Nunes e Boulos tiveram 25 mil votos de diferença no primeiro turno; o prefeito, que concorre à reeleição, teve 1.801.139 votos (29,48% dos votos válidos), e o deputado federal, 1.776.127 votos (29,07%).
Pesquisa Datafolha divulgada em 10 de outubro, a primeira do segundo turno, mostra Nunes com 55% das intenções de voto e Boulos, com 33%.
Considerações finais
O primeiro a falar foi Nunes: “Muito obrigado a você que nos acompanhou até esse momento agradecer o deputado Guilherme Boulos e à plateia que me acompanha, à plateia que acompanha o Guilherme Boulos, à Bandeirantes. Nós estamos próximo da decisão do futuro da cidade, de quem vai governar São Paulo pelos próximos quatro anos. Acho que aqui ficou muito claro quem tem experiência e quem é inexperiente, quem tem equilíbrio e quem é extremista. Quem zela pela ordem e quem é a favor da desordem na questão da segurança, por exemplo. Tem um que é contra a Operação Delegada, já teve artigos do partido dele falando com relação a acabar com a Polícia Militar. Eu sou a favor de uma polícia armada, por isso coloquei 2.000 guardas-civis metropolitanos a mais e vou colocar mais 2.000 no meu próximo mandato. A minha parceria com o governador Tarcísio, essa união é fundamental para avançar na Segurança, avançar na Habitação e é por isso que eu estou fazendo maior programa habitacional da história da cidade. Até o final do ano, 72 mil unidades entre as entregues, as em obras e já contratadas. Hoje nós já temos o Domingão Tarifa Zero, domingo não pagam passagem. A faixa azul, para salvar a vida de motociclistas. Eu vou fazer mais 200 km de faixa azul. Todas as ações que a gente está fazendo, alegria de ter, por exemplo, vaga de creche para todas as crianças. E a gente vai ampliar agora o ensino em período integral. Eu cuidei da saúde financeira, eu fui presidente de entidades, empresário, vereador por dois mandatos, relator de orçamento várias vezes, vice-prefeito e prefeito. Essa experiência me permitiu fazer a gestão da cidade. Eu sei que tem muita coisa para fazer e nós vamos fazer, sabe por quê? Porque eu ajustei a saúde financeira da cidade, nós temos capacidade de investimento, nós estamos com o menor índice de desemprego desde 2015 e é essa vontade, é esse ânimo seu, meu, de fazer essa cidade avançar cada vez mais que eu peço o seu voto no 15. Pela experiência e São Paulo no caminho seguro”.
E Boulos finalizou o debate: “Sabe o que eles querem, gente? Você tem medo quando eles vêm e falam ‘extremismo’, ‘radical’, ‘contra a polícia’. Eles querem que você tenha medo medo da mudança. Lembra que eles falavam a mesma coisa na eleição passada, do Lula? Se o Lula fosse a fechar a igreja, kit gay… Aconteceu alguma coisa disso? Nada. Isso só revela o medo e o desespero de quem não consegue largar o poder porque o poder para eles representa privilégios. O que está em jogo nessa eleição é o seguinte: se você acha que a saúde está tão boa como ele disse, se você concorda que vai à UBS e encontra todos os remédios, você concorda com ele? Se você acha que São Paulo merece muito mais na saúde, alguém que cuide de verdade, que olhe para você não só no tempo da eleição, eu te convido para mudança no 50 comigo e com a Marta. Ele fala, fala, fala, fala de segurança, mas não respondeu se ele te aconselha a sair com o celular na rua tranquilo. Não respondeu porque sabe que não é possível porque você que vive na São Paulo real sabe que vomitar um monte de número aqui não resolve o nosso problema. Não torna a saúde melhor, não torna a cidade mais segura. Você que sofreu com apagão, comerciante que perdeu tudo, você que jogou tudo fora da sua geladeira sabe que a São Paulo real é diferente da propaganda do Ricardo Nunes. Por isso o que você vai decidir no dia 27 é se você quer deixar tudo como está ou você quer mudar. Você quer permitir que esse sistema podre desde o Doria permaneça, ou se você quer renovação em São Paulo. Se você quer permitir que alguém que teve a chance e não fez, só em tempo de eleição, permaneça ou se você quer uma mudança de verdade que coloque a nossa cidade onde merece. Por isso eu peço seu voto no 50 dia 27.”
Fonte: G1