Professores da UEFS aprovam paralisação contra a Reforma Administrativa, mas críticas apontam prejuízos ao ensino público

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    Docentes da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) aprovaram, em assembleia, a paralisação das atividades no dia 29 de outubro, em protesto contra a PEC 32, que trata da Reforma Administrativa. A decisão integra o calendário da Jornada Nacional de Luta, promovida por entidades sindicais e movimentos em defesa do serviço público.

    Mobilização nacional contra a Reforma Administrativa

    Associação dos Docentes da Universidade Estadual de Feira de Santana (Adufs) confirmou adesão à Jornada Nacional de Luta Contra a Reforma Administrativa, coordenada pelo ANDES-Sindicato Nacional (ANDES-SN). O movimento prevê também uma marcha em Brasília na mesma data, reunindo servidores de diversas categorias.

    Durante a assembleia, os professores destacaram que a PEC 32, em tramitação no Congresso Nacional, ameaça direitos históricos do funcionalismo público e pode fragilizar os serviços prestados à população. Segundo a Adufs, a proposta “reconfigura o Estado brasileiro ao ampliar a privatização de setores essenciais, como saúde e educação”.

    Ações locais e conscientização na UEFS

    Além da paralisação, foi aprovada uma mobilização no dia 30 de setembro, com o objetivo de informar e sensibilizar a comunidade acadêmica sobre os impactos da Reforma. A Adufs argumenta que a medida visa proteger não apenas os servidores, mas também os usuários dos serviços públicos, considerados os principais prejudicados por políticas de desmonte estatal.

    Nos últimos anos, mobilizações semelhantes conseguiram conter o avanço da PEC 32, demonstrando o poder da mobilização coletiva. Entretanto, setores independentes do meio acadêmico alertam que a continuidade de paralisações recorrentes pode minar o apoio social às causas docentes, especialmente quando afetam diretamente o calendário letivo.

    Crítica ao impacto das paralisações na qualidade do ensino público

    Embora a paralisação seja um instrumento legítimo de defesa de direitos, há crescente debate sobre os efeitos negativos das greves frequentes no ensino público. Especialistas em gestão educacional alertam que interrupções sucessivas comprometem a sequência pedagógicao desempenho dos alunos e a credibilidade das instituições.

    Estudos da Undime (União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação) apontam que paralisações constantes criam descontinuidade nos processos de aprendizagem, ampliam as desigualdades educacionais e prejudicam estudantes de baixa renda, que não dispõem de recursos alternativos. Além disso, há o risco de sobreposição de conteúdos e sobrecarga de docentes na reposição das aulas.

    No caso da UEFS, a suspensão das atividades pode afetar pesquisas em andamento, práticas laboratoriais e estágios supervisionados, de difícil recuperação. Setores críticos afirmam que, ao interromper as aulas, as categorias acabam restringindo o acesso à educação pública que dizem defender, criando um paradoxo entre discurso e prática.

    Por fim, analistas observam que a repetição de greves sem resultados concretos tende a desgastar a imagem do movimento sindical e enfraquecer o diálogo com a sociedade. Assim, a eficácia das paralisações depende de planejamento estratégico e comunicação transparente, para que não se transformem em fator de deslegitimação das reivindicações docentes.

    Pressão política e condução da Câmara

    Durante a assembleia, os docentes criticaram o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos), que insiste em votar a PEC sob o argumento de “redução de gastos públicos”. A Adufs classificou o discurso como falacioso, afirmando que a medida beneficia interesses privados em detrimento dos serviços sociais.

    A diretoria do sindicato defende que o movimento é parte da resistência democrática, ressaltando que a Reforma Administrativa ameaça a estabilidade do servidor e abre brechas para interferências políticas na gestão pública.

    Cortes orçamentários e crises institucionais

    A paralisação da UEFS reflete o reacendimento da mobilização sindical diante da retomada de pautas neoliberais no Congresso. Entretanto, o movimento também revela o desafio de equilibrar a luta política com a preservação do ensino público, cada vez mais pressionado por cortes orçamentários e crises institucionais.

    O dilema expõe uma contradição central: como defender o fortalecimento do Estado e da educação pública sem comprometer a continuidade do próprio serviço prestado?

    Fonte: Jornal Grande Bahia

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