Conflito de manifestantes a favor do piso salarial da Enfermagem e ato público organizado pela própria 17ª Conferência marcaram semana de luta e construção do SUS em Brasília
A semana da 17.ª Conferência Nacional de Saúde não foi marcada apenas pelas atividades e encontros realizados dentro do Centro Internacional de Convenção do Brasil. Nas ruas, os trabalhadores da saúde também se manifestaram em favor do SUS e de suas condições de trabalho.
Na segunda-feira, 3/7, a enfermagem que entrou em greve contra o adiamento pelo STF da execução do piso nacional da categoria, se manifestou na Esplanada dos Ministérios. Sua manifestação acabou reprimida pela Polícia Militar do DF. Agressões foram registradas e um policial é investigado pela corregedoria de polícia. Na terça, a Esplanada amanheceu com acesso controlado e barreiras de ferro em seu trecho mais próximo ao Congresso.
“O nosso intuito é fazer com que o Supremo Tribunal Federal (STF) entenda que o piso precisa ser implementado na íntegra. Esperamos que o governo federal possa intermediar para que o Judiciário reconheça esse direito. Não queremos e não vamos aceitar uma lei do piso desidratada”, falou Jorge Henrique de Sousa, presidente do sindicato dos enfermeiros. Ele faz referência à condução do julgamento pelo Supremo, onde ganha força a tese de liberar as negociações separadas por estados e locais de trabalho para a enfermagem do setor privado, responsável pela ação que visa barrar este reconhecimento básico de uma das maiores categorias do mundo do trabalho do país.
No dia seguinte, foi a vez de militantes de diversas áreas da saúde, neste caso diretamente relacionados com a Conferência, realizarem ato em frente ao Museu Nacional, na mesma avenida da Esplanada. Defendiam a ministra Nísia Trindade e o próprio SUS, ameaçado pelas chantagens de um “Centrão” que foi notório colaborador do desastre sanitário comandado por Bolsonaro e seus ministros da Saúde.
“Foi um ato simbólico e importante em defesa do SUS. Os trabalhadores e as trabalhadoras entendem o sistema como fundamental, estamos falando de um sistema de saúde que salvou milhões de vidas”, afirmou Moacir, presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (Fenasps). “Quase 5 mil trabalhadores perderam suas vidas atendendo a população na pandemia. Estamos falando de um sistema que atende as pessoas independentemente de suas origens e condições. É inaceitável ver o ministério sequestrado pelo ‘Centrão’. Nossa briga é pela sobrevivência do sistema de saúde. E esse é um grande trabalho pela frente no país, para garantir o atendimento de toda a população da forma mais completa. Vamos defender o SUS com todas as nossas forças”
Organizado por dentro das próprias atividades da Conferência, o ato reuniu cerca de 3 mil pessoas, que já tinham manifestado enfático apoio à Nísia Trindade na cerimônia de abertura do encontro, que assentará as bases para influir no Plano Nacional de Saúde, parte do Plano Plurianual (2024-27), que será apresentado pelo governo fim do próximo mês.
“Ficamos felizes de vir aqui”, declarou Julieta Fripp, da Frente Paliativista, cuja presença na Conferência é expressão das novas militâncias que eclodem pelo país, inclusive dentro da luta pelo direito à saúde. “O ato defendeu o SUS, a vida, a democracia, contou com milhares de pessoas e mostra à sociedade a importância de garantir mais política pública e ampliar o olhar para as causas justas e necessárias que viemos defender. No caso dos cuidados paliativos, viemos falar de promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação, cuidando das pessoas em diferentes cenários assistenciais. Viemos falar em fortalecimento da atenção primária à saúde e também ajudar no fortalecimento da nossa querida ministra Nísia.”
Os recados foram claros. Não basta reconhecer o SUS por meio de declarações e formalismos. É preciso mostrar com ações concretas e firmeza política que a defesa do sistema público de saúde é prioridade.
Fonte: Outra Saúde