O Grupo Técnico para a Saúde da equipe de transição do presidente Lula finalizou sua análise sobre a situação da Saúde no Brasil, resultado dos últimos 4 anos de governo. Segundo Arthur Chioro, ex-ministro da Saúde e integrante do Grupo, “o quadro é de absoluto caos”. “Não é exagero, mas uma constatação objetiva da situação de total desmonte de políticas, que se expressou de forma mais expressiva na situação da covid-19, resultando em mais de 600 mil mortes”, declarou. Chioro disse que o Sistema Único de Saúde (SUS), apesar das inúmeras dificuldades, resistiu, mas que o ministério da Saúde “foi completamente destruído” em prol de interesses privados.
Medidas urgentes para os 100 primeiros dias de governo
Diante do cenário de “terra arrasada”, o Grupo Técnico, que divulgará o relatório completo nos próximos dias, já aponta que as prioridades no primeiro período do governo Lula deverão visar o fortalecimento da gestão e a coordenação do SUS; reestruturar o Plano Nacional de Imunizações (PNI) para recuperar as altas coberturas vacinais e fortalecer a resposta à covid-19 e suas consequências no país. As 10 medidas sugeridas foram:
- Fortalecer a gestão e a coordenação do SUS;
- Reestruturar o PNI [Programa Nacional de Imunização] para recuperar as taxas vacinais;
- Fortalecer a resposta à covid e a outras emergências;
- Redução das filas para especialistas ajustado ao fortalecimento das redes especializadas;
- Fortalecimento da política nacional de atenção básica e provimento dos profissionais de saúde;
- Fortalecer a saúde da mulher, da criança e do adolescente;
- Melhorar a saúde indígena;
- Resgatar o programa Farmácia Popular do Brasil e a assistência farmacêutica no SUS;
- Restabelecer o desenvolvimento do complexo econômico e industrial da saúde;
- Atuar nas questões relacionadas à informação e à saúde digital.
Organizações pedem a Lula por ações contra o racismo na saúde
O grupo técnico de Saúde da equipe de transição do presidente eleito recebeu propostas para a implementação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra já nos primeiros 100 dias de governo. Ações concretas para a desinstitucionalização do racismo na estrutura do ministério da Saúde estão na base das propostas para melhorar a qualidade de vida da população negra – mais afetada por problemas como alta mortalidade materna, mortes por covid-19 e insegurança alimentar. Entre as propostas, estão um marco legal para a prevenção e punição da violência obstétrica e atenção às vítimas e a obrigatoriedade da coleta do quesito raça/cor em todos os registros administrativos do setor. O documento foi elaborado por especialistas que compõem o Grupo de Trabalho Racismo e Saúde da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e outras organizações da Aliança Nacional Pró-Saúde da População Negra.
Vacina do Butantan contra a dengue tem eficácia de 79%
A Butantan-DV, desenvolvida pelo Instituto Butantan, demonstrou eficácia de 79% em testes de fase 3 após dois anos de aplicação – sem registro de quadros graves ou infecção dos voluntários. A vacina é de dose única e usa quatro cepas virais atenuadas em sua constituição, além de ser uma versão análoga à do imunizante desenvolvido pelo Instituto Nacional de Saúde dos EUA. Apesar do bom resultado, as informações ainda são preliminares – agora, deve ser concluído o acompanhamento de 5 anos a partir da vacinação. A partir de 2024 o Instituto poderá submeter a vacina para análise da Anvisa.
Cozinhas solidárias: projeto do MTST ganha prêmio da ONU
O projeto Cozinhas Solidárias, do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), é composto por uma rede de 31 cozinhas comunitárias que distribuem, diariamente, 6 mil refeições gratuitas no âmbito do combate à fome de populações vulneráveis. A iniciativa, que venceu o prêmio Desafio da Infância Saudável, promovido pela Unicef, o fundo das Organizações das Nações Unidas (ONU) para a infância, receberá 100 mil dólares para expandir suas ações – que já contemplam as periferias dos estados de Roraima, Ceará, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Sergipe, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Distrito Federal. O projeto nasceu em 2021, durante a pandemia de covid-19 e do aumento do preço dos alimentos que levaram milhares de brasileiros à fome e à insegurança alimentar.
SBMFC pede investimento na formação de médicos
A presidente da Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade (SBMFC), Zeliete Linhares Leite Zambon, afirmou ao site da entidade que é preciso “solucionar a defasagem de 60 mil profissionais na especialidade”. Ela citou o exemplo de países como Portugal, Espanha e a Inglaterra, que investiram na formação e na capacitação de profissionais para “equacionar” seus sistemas. “Quando conseguirmos isso aqui, estaremos em condição para resolver 85% dos problemas de saúde. Estudos registram que outros 14% são da atenção secundária e 1% de casos de internação”, afirmou. Segundo ela, se houvesse prioridade nesse sentido, seria possível uma reorientação da política de saúde na direção da medicina preventiva, “que reduz os gastos públicos e privados com saúde em várias dimensões”.
Fonte: Outra Saúde