Sexta, 3 de janeiro de 2025
De seu castelo na região da Transilvânia, o Conde Orlok espera a noite cair para atrair uma nova vítima inocente e saciar sua sede de sangue.
Assim poderíamos resumir o começo da história de Nosferatu, um dos vampiros mais famosos da história do cinema, imortalizado pela primeira vez em 1922 pelo diretor alemão Friedrich Wilhelm Murnau.
Essa história está de volta ao cinema em uma produção estrelada por Willem Dafoe, Lily Rose-Depp e Nicholas Hoult, dirigida pelo americano Robert Eggers, que tenta despertar o mesmo terror que a versão cinematográfica original gerou no público.
Em um mundo cheio de remakes, sequências e pré-sequências, há algo especialmente cativante nesta história, já que diversos cineastas estão sempre voltando a filmá-la.
‘Nosferatu’
A versão de Robert Eggers é o terceiro filme focado diretamente na história de Nosferatu.
O primeiro, lançado em 1922, é uma obra-prima do terror expressionista alemão, repleto de imagens icônicas.
A versão de 1979, Nosferatu, Vampiro da Noite, dirigida por Werner Herzog, segue um ritmo mais lento. Com seu colaborador frequente Klaus Kinski no papel principal, o filme de Herzog retratou temas como morte, doença e a eterna solidão de um monstro.
Mas de onde vem essa história contada em diferentes versões?
Conde Drácula ou Conde Orlok?
A história original é Drácula, o romance de vampiros de 1897 por excelência do escritor irlandês Bram Stoker.
Para evitar a violação de direitos autorais, Friedrich Wilhelm Murnau, diretor do Nosferatu de 1922, mudou o nome do vampiro de Stoker, Conde Drácula, para Conde Orlok, bem como os de outros protagonistas da história.
Apesar disso, ele manteve grande parte do enredo do livro e muitas das ideias originais — como o castelo antigo e em ruínas nos Cárpatos (região montanhosa na República Checa, Eslováquia, Polônia, Romênia e Ucrânia) e um vampiro viajando de navio para uma nova casa.
O que Murnau não fez foi consultar os herdeiros de Bram Stoker, falecido em 1912, sobre a utilização da história de Drácula.
Era óbvio para todos que o Conde Orlok era inspirado no Conde Drácula. E Florence Balcombe, viúva de Stoker, certamente sabia disso.
Balcombe tomou medidas legais e, em julho de 1925, um tribunal alemão decidiu que todas as cópias do Nosferatu de Murnau deveriam ser queimadas por violação de direitos autorais.
Mas naquela época o filme já havia se espalhado pelo mundo e havia inúmeras cópias dele. Era tarde demais para destruir todos elas.
Vampiros diferentes
As histórias de Drácula e Nosferatu entretanto apresentam diferenças notáveis, embora ao longo das décadas alguns cineastas as tenham misturado.
Uma diferença, por exemplo, é como ambas as histórias abordam o conceito de vampirismo.
Enquanto o Conde Drácula exerce um efeito hipnotizante sobre suas vítimas, e algumas adaptações cinematográficas — como a estrelada por Bela Lugosi em 1931 — o apresentaram até mesmo como um sedutor, o Conde Orlok é uma criatura repulsiva, com sua pele branca e pálida e orelhas de morcego.
Além disso, a mordida de Drácula transforma suas vítimas em vampiros, enquanto Orlok mata a maioria de suas presas.
Na história original de Stoker, o vampiro pode ser exposto à luz do Sol, embora isso enfraqueça seus poderes. Já no caso de Orlok, ele não pode ser exposto aos raios solares de forma alguma.
E essa é a chave para a longevidade da história do Drácula: existem inúmeras interpretações do personagem, bem como tentativas de reimaginá-lo de todas as maneiras — algumas delas aterrorizantes, como no Nosferatu de Murnau, e outras engraçadas (muitas vezes sem querer).
Existe um Drácula negro (Blácula, o Vampiro Negro, de 1972), um Drácula de artes marciais (A Lenda dos Sete Vampiros, de 1974), um Drácula contemporâneo dos anos 70 (Drácula no Mundo da Minissaia, de 1972) ou um Drácula que sequer aparece no filme (As Noivas do Vampiro, de 1960).
Já, Drácula de Bram Stoker (1992), de Francis Ford Coppola, foi uma tentativa, como o título sugere, de produzir uma adaptação mais fiel ao livro que capturasse as nuances do conde.
Interpretado por Gary Oldman e falando com um sotaque do Leste Europeu, ele aparece, no começo, envelhecido e enrugado.
A religião está no centro da versão de Coppola — em que a rejeição de Drácula a Deus serve como força que o conduz às trevas. Existe uma ênfase na tragédia de sua criação.
O vampiro de Oldman faz com que entendamos sua origem e possamos até mesmo sentir um pouco de pena dele.
Este não é o caso do Conde Orlok de Murnau, e o “novo” de Robert Eggers, que é feio, desumano e com garras, e perde o controle quando sente cheiro de sangue.
Fonte: BBC / Getty ImagesLegenda da foto, A imagem de Max Schreck como o vampiro Orlok na versão de 1922 de “Nosferatu” é uma das mais icônicas da história do cinema